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Rhodia faz da Covid oportunidade

Desenvolvido em Santo André, fio que inativa novo coronavírus é aplicado em ônibus, estádio de futebol, cinema, hospital e uniformes escolares

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
05/11/2020 | 00:04
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Divulgação


Prestes a completar 101 anos, a Rhodia decidiu homenagear seu berço – a indústria têxtil foi fundada em Santo André em dezembro de 1919 – e concentrar na unidade o desenvolvimento de seus fios tecnológicos. Quando a pandemia de Covid-19 aportou no País, no fim de março, a companhia reuniu equipe de sete pesquisadores que se debruçaram no desafio de criar um fio que inativasse o novo coronavírus. A tecnologia foi desenvolvida no tempo recorde de três meses, o que normalmente levaria três anos, e em julho já estava no mercado à disposição de quem quisesse transformar essa inovadora matéria-prima em escudo contra o inimigo invisível.

Responsável pela fabricação de fios e fibras têxteis funcionais e sustentáveis de poliamida, a empresa do Grande ABC – que desde 2011 pertence ao Grupo Solvay, de origem belga –, fez o caminho inverso e levou o nome de Santo André, onde emprega cerca de 500 trabalhadores, mundo afora. Em vez de importar tecnologia, embarca o fio amni virus-bac off para países da Europa, Ásia e América Latina.

De acordo com Marcello Bathe, gerente comercial de fibras e poliamida do Grupo Solvay, a criação regional impulsionou as exportações da empresa, que em 2019 respondiam por fatia de 17% da produção local e, neste ano, já está em 25%. Além disso, a participação dos fios inteligentes no faturamento da companhia passou de 40% para mais de 50%.

Junto à novidade antiCovid, a têxtil possui portfólio inovador composto por outros cinco modelos. O amni soul cycle e o amni soul eco são fios biodegradáveis e recicláveis; o amni dynamic é de secagem rápida, utilizado principalmente na confecção de peças esportivas; o rhodianyl eco possui poliamida sustentável aplicada em uniformes escolares; e o emana ajuda a retardar a fadiga muscular e os sinais de celulite.

Conforme explica Bathe, a tecnologia que inativa o coronavírus não migra para a pele nem sai na lavagem porque foi inserida dentro do fio. Adicionalmente, ela elimina bactérias e mau odor. “Trata-se de um case de sucesso. Com dois meses de lançamento, registra volume expressivo de vendas”, afirma, sem revelar quanto já representa no faturamento.

APLICAÇÃO

O executivo conta que o fio amni virus-bac off já é aplicado em máscaras, uniformes corporativos e escolares, roupas hospitalares e até assentos de estádio de futebol, aeroporto, cinema e ônibus.

Recentemente, a Chroma-Líquido Tecidos Tecnológicos – joint venture formada entre o Grupo Chroma, fornecedora do setor automotivo que possui unidade de pintura automotiva em São Bernardo, e a Líquido Indústria Têxtil –, anunciou, junto ao governo do Estado de São Paulo, a primeira frota de ônibus com capas de tecido com o fio anticoronavírus que está em circulação em Osasco.

Entre os interessados em apresentar a tecnologia aos usuários estaria a Metra, empresa de ônibus intermunicipais do Grande ABC. Questionada, porém, a companhia não respondeu ao Diário até o fechamento desta edição.

Segundo o CEO da Chroma-Líquido, Luís Gustavo de Crescenzo, os tecidos se autoesterelizam o tempo inteiro. “Se não houver sujeira visual nem precisa limpar. Então, a tecnologia oferece uma considerável economia com sanitizantes”, explica. Cada ônibus investe em torno de R$ 7.500 para apresentar a novidade.


Para a aplicação da tecnologia antiCovid, o céu é o limite

Projeto piloto da Chroma Líquido em parceria com o Hospital Santa Cruz, na Capital, aplica a tecnologia que inativa a Covid-19 em camisolas, lençóis e fronhas, grandes vetores da doença. “Estamos acompanhando semana a semana e temos percebido que o custo da aquisição é menor do que o da lavagem constante das peças”, disse o CEO Luís Gustavo de Crescenzo, sem abrir valores.

A ideia é ampliar o uso da inovação em peças de plástico e reduzir significativamente os índices de infecção hospitalar. “Acredito que em quatro meses teremos o resultado de estudo sobre a eficácia”, revela.

Também está em teste no estádio do Corinthians capa para assentos dos bancos de reserva, vestiário, camarote e sala de imprensa. Segundo o executivo, a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) quer levar a novidade a todos os seus campos. “Ainda não encontramos um meio de colocar no estádio todo, pois há o risco de roubo dessas capas. Nos ônibus e Metrô temos sistema antifurto”, conta Crescenzo. “Estamos também negociando com grande rede de cinemas e teatros.”

A Chroma-Líquido foi além e aplicou a tecnologia na produção de ônibus da Caio, que sairão da fábrica com os bancos de plástico e as barras de balaustre anticoronavírus. Novidade será testada em duas semanas.


Polo petroquímico eleva produção de insumos

As 16 empresas do Polo Petroquímico do Grande ABC também estão engajadas em produzir matérias-primas aplicadas em produtos que vão para casas, comércios, indústrias e hospitais com o objetivo de combater o novo coronavírus.

Conforme explica Francisco Ruiz, gerente-executivo do Cofip ABC (Comitê de Fomento Industrial do Polo do Grande ABC), há empresas que fabricam o gás oxigênio presente nos respiradores, gases medicinais e álcool aerossol 70 graus. Outro exemplo é o envase e distribuição de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo), que foi utilizado em hospitais de campanha da Capital para a preparação de refeições, para o aquecimento de chuveiros e em lavandeiras.

“As resinas termoplásticas produzidas no polo são aplicadas na fabricação de vários produtos, como bolsas de sangue, seringas, aventais, kits cirúrgicos, frascos e embalagens para esterilização, tampas, filme para embalagens, máscaras cirúrgicas e face shields (proteção de plástico transparente para todo o rosto), embalagens plásticas de álcool líquido e gel, bombonas (tipo de tambor) para armazenamento de produtos ou resíduos hospitalares, entre outros itens”, exemplifica Ruiz.

Além das aplicações hospitalares, o plástico também é utilizado em embalagens para o segmento de delivery de alimentos, que aumentou significativamente no período, e em embalagens especiais para as refeições servidas em hospitais, visando reduzir consideravelmente a chance de contaminação pelo vírus.

Ruiz também destaca a confecção de insumos para sabões, sabonetes, detergentes e sanitizantes que atuam na desinfecção de ambientes comuns, como o transporte público, visando o combate à propagação da Covid-19.

RITMO ACELERADO

O gerente-executivo do Cofip ABC afirma que, diante da demanda acelerada, embora não consiga mensurar em quanto a produção cresceu, a ociosidade reduziu drasticamente. “Assim como todos os setores produtivos, as empresas do polo sofreram nos primeiros meses da pandemia do novo coronavírus, iniciada no fim de março. Em maio, porém, o setor começou a reagir e, em julho, essa recuperação se concretizou. De lá para cá, cerca de 90% da capacidade instalada vem sendo utilizada”, assinala Ruiz. “Podemos afirmar que a ociosidade girou em torno de 20% durante a pandemia e, mais recentemente, caiu para 10%.”

Apenas para efeito de comparação, dados do boletim IndustriABC, da Universidade Metodista de São Paulo, mostram que, no setor industrial da região como um todo, o uso da capacidade instalada das fábricas, que era de 39% em abril, chegou a 52% em julho. Portanto, a ociosidade, que era de 61%, recuou para 48%.

Ruiz atribui o comportamento diferente do polo devido à demanda reprimida, que fez com que, inclusive, algumas empresas contratassem terceirizados – até para repor o trabalho de funcionários do grupo de risco, que estão em casa.  




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