Nas duas cidades do Grande ABC onde tem segundo turno e o PT está fora – São Bernardo e Diadema –, o partido resolveu ficar oficialmente neutro. Oficialmente porque os militantes já tomaram posição. Seria covardia ou prudência do comando da sigla? Trata-se de estratégia de redução de danos. Semelhante àquela adotada pelo Ministério da Saúde, de distribuição de seringas, camisinhas e cachimbos para usuários de drogas. O objetivo é evitar a contaminação de mais pessoas. O Estado admite o problema, de difícil solução, e entrega os itens para minimizá-lo, evitar danos maiores. É mais ou menos a tática da direção do PT nos dois municípios. Isentar-se do processo visa diminuir estragos mais significativos na já arranhada imagem da legenda. O problema existe, com líderes da agremiação envolvidos em acusações de desvios de verba pública e políticas consideradas equivocadas. Nas urnas, os eleitores não perdoaram os deslizes do petismo. Restou à cúpula partidária se recolher. E distribuir à militância machucada pretensa neutralidade. Mas as feridas do paciente só serão curadas com tratamento específico e intensivo. A medida adotada agora é apenas paliativa. O PT tem de ser internado para assimilar os erros de percurso, com células renovadas. Oxigenar-se. O caso é crônico. Apenas reduzir danos não reverte o quadro. E, assim como a política adotada pelo Ministério da Saúde, a estratégia é polêmica, com consenso longe de ser alcançado.

BASTIDORES

Cadê a tapeçaria de Burle Marx?

Um dos patrimônios culturais mais importantes de Santo André está parado no Aeroporto de Guarulhos há dias por causa do estado de greve da Receita Federal. Será que alguém da Prefeitura, para onde a famosa tapeçaria de Burle Marx (1909-1994) já deveria ter voltado, se preocupou pelo estado em que se encontra a peça? Como ela está acondicionada? Está intacta? Não sabemos. A sociedade andreense e do Grande ABC desconhece essas informações simplesmente porque ninguém do Paço fala sobre o assunto. Limita-se a enviar nota, sem muitos detalhes, dizendo que a liberação depende de burocracia. O Museu Judaico de Nova York se interessou pela obra de arte, avaliada em R$ 3 milhões. Milhares de gringos puderam observá-la e admirá-la de perto, de abril a outubro. E o que faz a administração municipal, detentora desse importante capital cultural, que deveria ter sido reinstalada dia 6 no Salão Nobre do Executivo? Simplesmente sonega informação sobre as condições atuais do objeto, que mede 26,38 m de largura por 3,27 m e precisa de tratamentos especiais para não estragar. Pode estar lá no aeroporto, jogada como uma mala qualquer. Não sabemos. Parece que os estrangeiros dão mais valor para nossa arte do que nós. A Receita Federal, por sua vez, trata o tema de maneira sigilosa, passando dados apenas ao proprietário da tapeçaria, a Prefeitura. A comunidade regional, o trabalho do artista plástico, arquiteto e paisagista brasileiro e a cultura merecem mais respeito.

Sem Lula
Marcos Lula (PT) não conseguiu se reeleger vereador em São Bernardo. Disse que a culpa foi do massacre que o partido sofre mídia e da crise da legenda, envolvida em escândalos de corrupção. Afirmou que não escondeu a estrela símbolo da agremiação nem outras referências, como o número 13 e o seu jingle. Porém, acabada a disputa o filho do ex-presidente Lula tratou logo de alterar seu perfil nas redes sociais. Tirou o sobrenome que remete a seu pai – e, consequentemente, uma ligação direta ao PT – e virou apenas Marcos Silva. Em 2020, o ainda parlamentar – deixará o mandato em dezembro – afirma que disputará outra vez uma cadeira na Câmara são-bernardense. Com Lula ou sem Lula no sobrenome?