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Urbanista quer levar campanha de desarmamento para os EUA
Artur Rodrigues
Do Diário do Grande ABC
30/05/2005 | 07:38
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Durante sua visita a Diadema, na semana passada, o chileno Mário Navarro, diretor do Ministério de Habitação e Desenvolvimento Urbano do Chile e professor de arquitetura em Harvard, afirmou que ficou impressionado com o programa de desarmamento do governo Federal e que pretende levar a idéia para os Estados Unidos. O urbanista e uma comitiva de especialistas em habitação da universidade americana visitou a favela do Jardim Olinda para conhecer o projeto Tá bonito, da Prefeitura, de recuperação de casas em favelas urbanizadas. A comitiva ainda passaria por São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba para conhecer as alternativas promovidas pelas administrações públicas e repassar idéias utilizadas para resolver a questão em outros países. O professor de arquitetura destacou as diferenças entre as políticas habitacionais do Brasil e outros locais do mundo. Leia trechos da entrevista concedida por Navarro ao Diário:

DIÁRIO - O que mais chamou a atenção no Brasil?

MÁRIO NAVARRO - A vontade de melhorar, de fazer as coisas e de solucionar os problemas. Uma coisa que percebemos foi a vontade de Diadema de reduzir os crimes na cidade. Mas o que mais impressionou foi uma campanha para recolhimento de armas. Isso eu nunca havia visto em nenhuma parte dos Estados Unidos. É uma idéia que levarei para lá, para que seja colocada em prática.

DIÁRIO - O que o senhor acha desse interesse em desarmamento no Brasil em uma época em que os Estados Unidos incentivam mais do que nunca a indústria armamentista?

NAVARRO - É justamente por isso que vi com muito interesse essa iniciativa. Porque é importante mudar essa mentalidade violenta de se querer andar com armas.

DIÁRIO - Como a área de trabalho da comitiva, a arquitetura e o urbanismo, pode influenciar na questão da violência?

NAVARRO - O urbanismo é fundamental para o aumento da segurança. Temos, por exemplo, um grupo de trabalho voltado à questão dos parques para a comunidade. Percebemos que esses locais multitemáticos, que ficam sempre ocupados, acabam se tornando espaços de convivência social, onde os jovens praticam esportes em vez de usar drogas. Os Estados Unidos está buscando melhorar suas cidades por meio dos parques. E esse conceito vale para todo o resto da cidade. É importante criar locais de convivência pacífica entre os cidadãos.

DIÁRIO - Quais são as diferenças que o senhor nota entre as políticas públicas habitacionais adotadas por Brasil, Chile e Estados Unidos?

NAVARRO - São realidades totalmente distintas. Os programas de habitação dos Estados Unidos são principalmente voltados ao aluguel social. O Estado dá o dinheiro do aluguel para a família. No Chile os programas são para dar condições às famílias de comprar seu imóvel. E aqui no Brasil o que mais tenho visto são esses projetos de revitalização de favelas e como melhorar esses locais.

DIÁRIO - Então, Brasil e Chile estão em etapas diferentes?

NAVARRO - Pode ser que há uns 20 anos tivéssemos os mesmos problemas. Mas estamos trabalhando há 15 anos nessa área e acredito que daqui a algum tempo não teremos mais favelas no país. A diferença é que o Chile cresceu 7% nos últimos anos e o Brasil, muito menos. No entanto, creio que alguns lugares do Brasil já estão em uma segunda etapa. Quando algumas favelas já estão regularizadas, como ocorre em Diadema, tem-se de trabalhar na geração de mais habitação. Isso porque os filhos das pessoas que moram na favela vão querer formar uma família e precisarão de uma casa para morar.

DIÁRIO - O senhor e os demais membros do grupo já haviam ido a uma favela antes?

NAVARRO - Eu visitei tanto favelas brasileiras como chilenas. Os outros nunca tinham ido a nenhuma favela e essa realidade para eles é muito diferente.




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