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Tempo de Quaresma

Quarenta dias dura a Quaresma...

Dom Pedro Carlos Cipollini
22/02/2016 | 07:00
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Quarenta dias dura a Quaresma. Nestes dias que precedem a Páscoa, os católicos estão vivendo tempo de oração, reflexão e penitência, acompanhando Jesus Cristo, nos 40 dias (por isso Quaresma) em que ele esteve no deserto se preparando para cumprir sua missão. Por que se preparar tanto para a Páscoa? Porque a Páscoa é o centro, o núcleo da revelação de Deus a nós. Jesus, o Filho de Deus feito homem, morreu na cruz e ressuscitou. Ele entra na morte e a destrói, dando-nos a vida. Esta é nossa fé.

Nesta Quaresma, a Campanha da Fraternidade nos coloca um tema para pensar: Casa comum: responsabilidade de todos. Trata-se do cuidado com a Terra, o saneamento básico, a água e o esgoto tratado. São necessidades urgentes. Segundo estatísticas do Ministério das Cidades, disponíveis para consulta de todos, somente 42% da população tem rede de esgoto tratada. É tempo de mudar esta situação. Unir esforços de pessoas generosas e de boa vontade para transformar esta realidade.

Gostaria aqui, no entanto, de refletir com vocês sobre o tempo, já que sobre a Quaresma se faz muitas reflexões. O tempo passa, e depressa dizemos: mas que é o tempo? Considerado ontologicamente é duração, persistência no existir, pois o que não tem existência não tem duração. A duração de seres imutáveis é eternidade, a duração de seres mutáveis chamamos de tempo. Santo Agostinho, refletindo sobre o tempo, pergunta-se: “De que modo existe passado e futuro, se o passado já não existe e o futuro ainda não veio?” (Confissões,XI,14). É uma consideração filosófica.

O tempo corre, passa, vale dinheiro, dizemos. Mas quem o vende? Quem o compra? E quem perde? O que realmente existe é o presente, este é realidade e deve ser vivido intensamente. Vivemos mergulhados no tempo, mas somos nós que existimos. O que existe somos nós, que não gostamos de pensar no tempo. É incômodo. Algo nos diz que nascemos para sermos eternos, não para a morte. Muitos vivem como se fossem imortais, até o dia em que chega a morte. Saber gerir o tempo é uma arte.

Talvez a maior penitência que possamos fazer na Quaresma é pensar sobre nós mesmos, que passamos pelo tempo ao invés de pensar que o tempo é que passa. E na maioria das vezes se passa pelo tempo perdendo tempo. No nosso ambiente de trabalho, na nossa vida, nas pequenas coisas, às vezes se perde muito tempo. E se pensarmos no País? Quanta perda de tempo? Basta pensar na máquina legislativa e no sistema judicial. Quase tudo é colocado em compasso de espera. O atraso nas decisões é sempre para “ganhar tempo”. Ganhar tempo para quem? Muitas vezes é para interesses que não são de todos. Quantas vezes o egoísmo fala mais alto.

Refletindo sobre esta realidade do tempo, tirei do baú da memória alguns versos sobre ele. Recebi de um amigo e gostei, por isso partilho com vocês: “Deus pede estrita conta de meu tempo/ É forçoso do meu tempo já dar conta/ Mas como darei em tempo tanta conta/ Eu que gastei sem conta tanto tempo?/ Para ter minha conta feita a tempo/ Dado me foi bom tempo, e não fiz conta/Não quis, sobrando tempo, fazer conta/ Quero hoje fazer conta e falta tempo.

Oh! Meu Deus, vós todos que tendes tempo sem ter conta/Não gasteis esse tempo em passatempo/ Cuidai enquanto é tempo em fazer conta/ Mas, meu Deus! Se os que contam com seu tempo/ Fizessem desse tempo alguma conta/ Não choravam como eu, nesse momento derradeiro, o não ter tempo, e ter a conta!”

* Dom Pedro Carlos Cipollini é bispo diocesano de Santo André. 




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