Esportes Titulo Confidencial
A ‘gourmetização’ dos estádios brasileiros
Dérek Bittencourt
11/06/2015 | 07:00
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Na madrugada de terça para quarta-feira, o ex-jogador e eterno ídolo de Corinthians, Fluminense e Seleção Brasileira Roberto Rivelino esteve no Programa do Jô. Entre alguns assuntos, falou sobre as arenas que foram construídas ou reformadas no País para Copa das Confederações e Copa do Mundo. Aliás, mais especificamente ele citou o Maracanã, palco de jogos memoráveis do ex-camisa 10 pelo Fluzão. E ele disse sentir muita falta do antigo setor denominado ‘geral’, onde ficava o povão que, segundo ele, era o “torcedor de verdade”.

Riva afirmou que corria em direção a estes fanáticos quando marcava seus gols, pois a energia que emanava era incrível. Hoje em dia, porém, com os estádios padrão Fifa, é fato que os locais ganharam em tecnologia e conforto, mas perderam em identificação. E o principal: o alto custo dos ingressos vem afastando os antigos geraldinos, ou aqueles mais simples que só precisavam de par de chinelos, bermuda, camisa do time e o radinho de pilha para apoiar seu clube.

Vou usar como exemplo o Palmeiras, que inaugurou em 2014 o Allianz Parque no local do antigo Palestra Itália. Os torcedores que desejam assistir a um jogo do time no Brasileirão têm de pagar entre R$ 80 e R$ 170 (valores inteiros). As torcidas uniformizadas, a cada partida, fazem seus protestos contra os preços abusivos – afinal, o presidente Paulo Nobre cortou os bilhetes gratuitos às organizadas e é principal alvo das reivindicações.

Os palmeirenses têm razão, porque para um trabalhador que recebe um salário mínimo (R$ 788), tal ingresso representa de 10% a 20% do ganho mensal. E se colocar na balança entre ir ao estádio ou fazer a compra do mês, grande parte vai – ou ao menos deveria, mas fanatismo não é o foco da discussão – optar pela segunda opção. Isso sem contar os R$ 30 de estacionamento, R$ 20 para um lanche por pessoa... Torna-se programa inviável para famílias mais simples e acaba tornando o estádio num palco para poucos, com melhores condições financeiras.

Outro exemplo: o jogo entre Brasil x México, que foi realizado sábado justamente na arena do Verdão, teve R$ 6.737.030 de renda – recorde do Allianz Parque –, com 34.649 pagantes. Ou seja, é como se cada torcedor, em média, tivesse desembolsado R$ 194,50. É ou não um cenário que muda o perfil do fanático que comparece aos estádios no País?

Em pequeno paralelo, o preço desembolsado pelos palmeirenses equivale ao pago nos jogos do Campeonato Inglês (R$ 90, em média). Mesmo assim, os ingressos para a temporada se esgotam antes do início da competição. A principal diferença: o espetáculo. Afinal, muitas das principais estrelas do futebol mundial desfilam naqueles gramados. No entanto, um salário mínimo por lá é de R$ 4.900 (ganho líquido). É para se pensar... 




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