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A revolução dos bichos

O senador José Sarney tem toda a razão quando explica que o impeachment do presidente Fernando Collor,

Por Carlos Brickmann
01/06/2011 | 00:00
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O senador José Sarney tem toda a razão quando explica que o impeachment do presidente Fernando Collor, acusado de corrupção, foi apenas um incidente na história do Brasil. No momento, aquilo até parecia importante: Congresso mobilizado, gente nas ruas com a cara pintada em sinal de protesto, investigações.

Para quê? Para nada. PC Farias, símbolo do governo Collor, foi preso e condenado como intermediário da corrupção - o único caso no mundo em que houve intermediário, mas não surgiu quem lhe pagasse nem quem dele recebesse.

E os astros do caso que movimentou a República? Sarney, que Collor chamou de ladrão; Renan Calheiros, que foi aliado, adversário e aliado de Collor; Lula, que só não chamou Collor de santo. Hoje eles estão juntos, todos flecha, todos arco, unidos no mesmo barco, só não aceitam perder. Lula também chamou Sarney de ladrão, Renan foi inimigo e é aliado de Sarney, eles, mais Collor, aliaram-se a adversários históricos como Paulo Maluf, Jader Barbalho, Nelson Jobim, e formaram um só grupo. Por que lembrar episódios tristes como o impeachment, em que um foi punido por fazer, sem habilidade, o que outros fizeram melhor?

No clássico A Revolução dos Bichos, George Orwell fala de uma fazenda em que os animais se uniram e expulsaram os homens. Os porcos assumiram o comando e viraram ditadores. Depois, aliaram-se aos homens e procuraram imitá-los. O livro termina com os animais assistindo pela janela à confraternização entre porcos e homens. E lhes era difícil distinguir quem era gente, quem era porco.

FIM DE LINHA

Não importa o que Palocci fez, se era certo, se era errado: qualquer que seja a resposta, ele está sem condições de comandar a articulação política do governo. O PMDB perdeu a confiança nele; o PT anuncia que tem confiança total em seu companheiro de todas as horas, mas se isso fosse verdade o fogo amigo contra Palocci não teria sido disparado das fileiras do partido. Articular assim não dá.

SE NÃO ELE, QUEM?

O bloqueio a Palocci cria um problemão no Governo: o ministro da Articulação, Luiz Sergio, é tão capaz de articular quanto Jô Soares de ganhar a São Silvestre. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, goza de toda a confiança dos parlamentares, desde que estejam de frente para ele. Dilma Rousseff está mais para Felipe Melo do que para Xavi. E fazer com que dois partidos sedentos como PT e PMDB trabalhem bem com o Governo é tarefa para especialistas. Palocci poderia ter sido o especialista, mas não sem Diário Oficial.

PHOTO-OP

Michel Temer disse que, para provar que não havia crise entre o governo e o PMDB, ele tiraria uma foto com Dilma, ambos sorridentes. Tiraram a foto, no aeroporto. Se não há problemas entre governo e PMDB nem entre presidente e vice, por que Dilma e Temer olham um para o outro com aquela cara?

QUERMESSE DO AMOR

Serra foi candidato à Presidência em 2002 e 2010, sem apoio de Minas. Alckmin foi candidato à Presidência em 2006, sem apoio de Minas. Isso não quer dizer que Aécio, provável candidato do PSDB à Presidência em 2014, não terá o apoio de São Paulo. Em política, tudo é possível. Mas o clima na convenção nacional tucana certamente não era de paz. Serra disse, pelo Twitter, que não foi derrotado e que não houve o esmagamento de grupos internos do PSDB. Como já é junho, só faltou lá a Barraca do Amor - aquela que vende maçãs carameladas e beijos. Alô, tucanos! Quem pagaria para receber um beijo de Serra?

ESPANTO

O procurador da República Cláudio Drewes José de Siqueira, tetraplégico, era passageiro num carro que, corretamente, estacionou em vaga para deficientes físicos, em Goiânia. Foi interpelado por servidores da Agência Municipal de Trânsito, Transporte e Mobilidade da prefeitura goianense: como não tinha no vidro do carro o papel que atestava sua condição de deficiente físico (claro: o carro tinha sido emprestado, e não é preciso papel nenhum para notar que um tetraplégico, sem mobilidade de braços ou pernas, é deficiente), foi autuado e agredido verbalmente. A Associação Nacional dos Procuradores da República se solidarizou com Siqueira - mas é preciso que todos sejamos solidários com ele.




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