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Escritor de terror ganha biografia em quadrinhos
Melina Dias
Do Diário do Grande ABC
23/03/2006 | 08:20
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É coisa de fã. O escritor norte-americano de terror Howard Phillips Lovecraft (1890-1937), ou simplesmente Lovecraft, é reverenciado na biografia em quadrinhos que leva seu nome (Devir, 144 págs., R$ 38). A graphic novel baseada no roteiro de Hans Rodionoff foi adaptada por Keith Giffen e ilustrada por Enrique Breccia. O obscuro trio ganhou prefácio de um nome conhecido, o cineasta John Carpenter (de Fuga de Nova York e Cristine, O Carro Assassino).

Discípulo de seu conterrâneo Edgard Allan Poe (1809-1849), Lovecraft é da estirpe de escritores decadistas – criadores que transgridem o seu tempo. Hoje isso equivale a ter estilo próprio, ser digno de virar adjetivo. Pois lovecraftiana é toda história que une o fantástico ao horror, com pitadas de gótico e escatologia. É como se toda sua obra fosse um monstro, algo que o próprio autor define como o “inominável”.

É esse também o nome de uma de suas histórias, escrita em 1923, praticamente uma síntese do seu conceito formal. A grosso modo, nas histórias de Lovecraft sempre surge algo que te puxa pelos pés. Em 2006, inominável lembra Lord Voldemort – “aquele que não deve ser nomeado” –, o arquirival do bruxinho Harry Potter de uma tal escritora inglesa milionária (seria sacrilégio nominá-la aqui). Nada é por acaso. Lovecraft influenciou gerações de escritores, roteiristas e cineastas. E a tal edição em questão trata justamente de dar crédito a quem é devido. Tem gente que diz de onde copia.

Ainda sobre inspiração, é uma frase do mestre Poe que abre a edição. “Aqueles que sonham de dia estão cientes de muitas coisas que escapam aos que sonham somente à noite”. Boa parte da obra de Lovecraft é atribuída a seus pesadelos. Na HQ recém-lançada essas alucinações esquentam a paleta de cores do argentino Breccia. O traço traz à vida o homem magricela, prognata e acinzentado (especula-se que Lovecraft possuía uma anomalia que alterava a temperatura do corpo).

Bizarro – Lovecraft teve uma vida tão bizarra como seus contos ou seus contos foram tão bizarros como sua vida? O dilema do biscoito nada resolve. O fato é que foi uma criança prodígio (leitor voraz desde os 5 anos), o avô o assombrava com histórias, a mãe o vestia como menina, o pai morreu no manicômio. Depois da morte da mãe, passou a morar com tias. Teve uma mulher na vida que, aparentemente, não suportou seus devaneios.

Lovecraft saiu raríssimas vezes da cidade natal Providence, em Rhode Island, e evitava o contato físico com seus interlocutores. Sua correspondência pessoal beira as 100 mil cartas e foi editada nos Estados Unidos em vários volumes para deleite de seus seguidores. Outra prova da adoração pela persona de Lovecraft são as dezenas de filmes inspirados em seus contos.

A história editada pela Devir tem o mérito de respeitar detalhes da vida de Lovecraft. A insanidade, a educação peculiar, as falhas nos relacionamentos são baseadas em fatos reais. Somente quando os autores especulam sobre os motivos desses fatos usam de licença poética.

E para não correr riscos recorrem a mitos para elucidar o mito. A relação edipiana com as mulheres Freud explica. Já o porquê da loucura encontra a resposta quixotesca: confinamento e excesso de leitura podem tornar o homem lunático. Um pouco óbvio para o biografado em questão.




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