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Incerteza reforça atenção para poupar desde infância

Receio acerca do futuro da Previdência Social alerta pais a desenvolverem educação financeira

Arthur Gandini
Do Portal Previdência Total
15/10/2018 | 07:00
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pixabay


Sabrina Mestieri aprendeu desde cedo a economizar e dar valor ao seu dinheiro. Aos 10 anos, chegou à conclusão de que seria errado utilizar o dinheiro dado a ela, pela mãe, para comprar presente de Dia dos Pais. Ela passou, então, a dividir todo o dinheiro que recebia dos pais em envelopes conforme a destinação das quantias. Este é um dos métodos que Sabrina hoje, aos 34 anos, casada, mãe de um menino de 6 e de gêmeos de 4 anos, usa na educação financeira deles e outras famílias.

“Os livros de educação financeira não falam para crianças dessa idade, e sim a partir de 8 anos. Achei que meus filhos poderiam aprender isso antes”, afirma ela, jornalista especializada em negócios que desenvolve o projeto Crianças e Finanças, com palestras e cursos sobre o tema. O programa mostra às crianças para que serve o dinheiro e incentiva o consumo e a organização da poupança por meio de carteira com divisões por cores, recompensas pelo desempenho escolar e quadro de compromissos que resultam em estrelas trocadas por moedas.

Sabrina é apenas um dos casos de famílias que, em meio à insegurança em relação ao acesso futuro à aposentadoria proporcionada pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), preocupam-se em ensinar os filhos a poupar desde cedo para garantir o seu futuro.

A coach de educação financeira Sabrina Espíndola, 37, tem filha de 6 anos e conta que ela e seu marido se esforçam para mostrar à criança a importância do dinheiro e do seu bom uso. “Digo que precisamos ganhar para depois gastar; negociamos com ela os presentes e explicamos quando alguma coisa está cara e que não dá para comprar. Demos à Joana um porquinho de cofrinho para juntar dinheiro.”

De acordo com o economista e diretor executivo da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), Miguel Ribeiro, o baixo crescimento econômico do País e os juros altos são outros motivos que explicam o estímulo das famílias à poupança dos filhos. “A conscientização é muito importante e, quanto mais cedo você começar a se preocupar com isso, mais fácil será para as crianças crescerem em ambiente de educação financeira.”

Números do SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito) e da CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) mostram, entretanto, que o hábito de poupar e se planejar ainda não é realidade para a maior parte dos brasileiros. Conforme estudo divulgado em abril, oito em cada dez brasileiros (78%) admitem que não estão se preparando para a hora de se aposentar. A idade média em que os entrevistados começaram a poupar para a aposentadoria é aos 28 anos.

Modalidade pública versus privada

Outro reflexo das dificuldades econômicas e da insegurança em relação à aposentadoria do INSS ser insuficiente é a busca pelos planos de previdência privados. “Não quero que meus filhos tenham que contar com o governo. Sabemos que, por mais que tenhamos fé e esperança de que as coisas possam melhorar, é surreal tentar contar com uma previdência pública que nunca funcionou”, afirma Sabrina Mestieri. Sabrina Espíndola também conta que contratou dois planos de previdência privada logo após o nascimento de sua filha.

De acordo com Miguel Ribeiro, diretor da Anefac, a aprovação de futura reforma da Previdência gera ainda mais insegurança em relação à suficiência do benefício do INSS para viver. “Com a reforma, a gente não sabe o que vem pela frente, mas é fato que a idade mínima aumentará, e as regras se tornarão mais rígidas.”

O advogado previdenciário Thiago Luchin, entretanto, alerta que a previdência privada deve ser utilizada apenas como complemento ao INSS e nunca como substituta. “Na previdência privada, o valor a ser investido é muito maior, com retorno e benefícios menores. Com as notícias sobre a reforma da Previdência, muitas pessoas deixaram de contribuir, com medo de que estariam jogando dinheiro fora. Esse é grande equívoco, porque a Previdência Social é um recurso importantíssimo que, quando investido corretamente, gera renda segura e fundamental ao trabalhador.”

Para Luchin, a União deve ser responsável pelo trabalho de educação e conscientização previdenciária. “Falta programa de incentivo previdenciário por parte do governo, assim como educação nas escolas e dentro de casa. Com isso, as pessoas só vão perceber a necessidade de ter previdência próximo dos 30 anos de idade, retardando o momento de se aposentar e perdendo possíveis benefícios como, o salário-maternidade e o auxílio-doença.”

Jovens devem começar a juntar dinheiro o mais cedo possível

O educador financeiro e vice-presidente da Abefin (Associação Brasileira de Educadores Financeiros), Jusivaldo Almeida, diz que é importante pensar em quando será iniciada a poupança para planejar o plano ideal. “Quanto mais cedo começar, mesmo com valores pequenos, mais tempo a pessoa terá para acumular recursos. Para se aposentar com 65 anos, considerando-se que a poupança comece aos 25, o planejamento deveria prever, no mínimo, valor equivalente a 10% da renda. Para início aos 35, valor subiria a 20%.”

Segundo Almeida, o jovem deve refletir sobre seu padrão de vida atual e o desejável na vida pós-aposentadoria; sobre aspectos como manutenção da Saúde e preenchimento do tempo livre que terá à disposição, e buscar produtos de acordo com seu perfil financeiro.

São boas opções planos oferecidos pela empresa dos pais ou ofertados por bancos e seguradoras, como PGBL, para aproveitar dedução de 12% da renda bruta no cálculo do IR (Imposto de Renda), caso se utilize modelo completo da declaração do IR. Caso contrário, o jovem pode fazer VGBL, vantajoso quando se utiliza a declaração simplificada. “Nos dois casos, se o jovem está consciente que está fazendo investimento de longo prazo, superior a dez anos, deve adotar regime de tributação regressiva, pois o desconto no IR sobre o resgate ou renda será de apenas 10% lá na frente.”




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