No intervalo, Saldanha fez Rio 2, o episódio 'live' de Rio, Eu Te Amo. Mas estava escrito que ele concluiria O Touro Ferdinando, como seu filme se chama no Brasil. Ferdinando esteve entre os finalistas do Globo de Ouro de animação. Perdeu para Viva - A Vida É Uma Festa, da Pixar, que estreou na semana passada. Com certeza, deve ir para o Oscar. O Touro Ferdinando estreia nesta quinta-feira, 11. Um touro gentil, mas que, de repente, é confundido com uma besta-fera e enviado para uma fazenda de treinamento de touros de briga. Contra a sua natureza, Ferdinando é preparado para participar de touradas. E tudo o que ele quer é voltar para casa, para sua dona.
No ano passado - parece que foi há muito tempo -, Saldanha veio ao Brasil mostrar cenas da animação que ainda não concluíra. Deu algumas entrevistas. À reportagem, confessou que estava muito feliz. "Para mim, era natural fazer um filme como Rio, contando a história de Blu. Sou brasileiro, estava falando da minha cultura. Aqui, precisava me apropriar de outras culturas, e foi o que fiz. O livro de Munro Leaf, ao contrário do curta da Disney - disponível no YouTube -, é praticamente desconhecido no Brasil, o que me deu toda liberdade para criar."
Coincidência, ou não, Viva, que venceu o Globo de Ouro, tem raízes no culto dos mortos da cultura mexicana. Ferdinando é enraizado na cultura espanhola. Touradas, olé! "E eu quis fazer o filme bem hispânico. Viajei ao país, fiz pesquisas. A paleta (de cores) de Rio era natural para mim, mas eu tive de estabelecer o que seria a (paleta) de Ferdinando. Muito ocre, vermelho. Cores terrosas. E a história progride. Começa no campo, bucólica, com a relação de Ferdinando com a menina, sua dona. Aí ele vai para a cidade, e a feira é muito colorida. À medida que a trama progride, a multidão aumenta. Na cidade, na arena de touros. No Rio, a cidade já era personagem, com o Blu. Aqui, é essa multidão. Isso exige planejamento, muito trabalho. Não é coisa que se faça sozinho. Posso estabelecer conceitos, parâmetros, mas é um monte de gente trabalhando. E os personagens..."
Saldanha explica. "Você viu meu episódio para Rio, Eu Te Amo. Adorei fazer. Trabalhar com atores, live action. Quero até ampliar essa experiência, e acho que vai ser muito boa. Mas eu gosto de trabalhar com animais, contar histórias de bichos. Porque dá para exagerar em tudo. Nas cores, nas emoções. Foi o que fiz no Ferdinando."
O repórter não se furta a observar - o Ferdinando da Disney é muito gay. E o seu, Saldanha? "Acho que se pode fazer essa leitura, mas não era minha intenção, minha prioridade. Para mim, a história do Ferdinando remete a uma questão visceral - você tem de ser honesto com o que você é. Ferdinando é desse jeito, gentil, e vai mudar a vida de todo mundo ao redor dele. Acho que é uma verdade básica. Cada um de nós pode fazer a diferença, mas sendo fiel a si mesmo, à sua verdade."
Para dublar o personagem no original, Saldanha contou com a colaboração de John Cena. "Olhei para aquele cara e pensei comigo - ele tem força para me arrebentar. Mas o John me disse que era o Ferdinando e ia fazê-lo com todo carinho. Trabalhei também com o Peyton Manning, que faz El Guapo."
"Peyton não é muito conhecido aqui, no Brasil, mas é uma lenda nos Estados Unidos, um grande jogador de futebol americano que atuava como quarterback. O Peyton sempre teve tudo - boa-pinta, seguro de si, um líder no campo. E aí eu cheguei para ele e perguntei se nunca teve dúvida. Se nunca teve um momento de insegurança. Pois era isso que eu queria. Ele adorou fazer, se entregou, como o Johnny (Cena). E eu acho que o Ferdinando é isso. Nós somos o que somos, e o mundo será muito melhor se nos aceitarmos assim, com nossas diferenças." Foi exatamente o que disse Nick Jonas quando esteve na Comic Con para promover Jumanji. O ex-Jonas Brothers é o artista da canção Home, tema de O Touro Ferdinando.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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