Setecidades Titulo Realidade no Grande ABC
Extrema pobreza é realidade de 280,4 mil
Natália Fernandjes
Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
29/01/2017 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Pelo menos 280.413 moradores do Grande ABC, o equivalente a pouco mais de 10% da população total das sete cidades – que é de 2,7 milhões de habitantes –, vivem em situação de extrema pobreza. Significa dizer que 62.314 famílias da região, tida como uma das mais ricas do País, subsistem com renda per capita de até R$ 85 por mês.

O cenário de vulnerabilidade socioeconômica pode ser ainda maior, tendo em vista que é desenhado com base nas informações fornecidas pelos municípios ao Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário a partir da inserção das famílias de baixa renda no Cadastro Único para Programas Sociais. No entanto, nem sempre o processo de busca ativa das prefeituras alcança 100% da população.

Exemplo pode ser observado em Mauá, um dos municípios mais carentes da região, mas que oficialmente só registra 1.561 famílias na zona considerada abaixo da linha da pobreza pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) – cuja renda per capita familiar é de até US$ 1 por dia (R$ 3,14).

A cidade acolhe a família da dona de casa Jane Rosa Cardamoni, 53 anos. Os quatro moradores da pequena casa de madeira localizada no Jardim Oratório, área periférica de Mauá, – o marido, a filha de 12 anos e a neta de 3 – são obrigados a sobreviver com renda mensal de R$ 100, fruto de faxinas esporádicas realizadas pela matriarca na comunidade, e a depender de doações de cestas básicas por parte da igreja local. Embora o perfil do grupo seja de extrema pobreza, eles não recebem nenhuma ajuda social. Os munícipes tampouco sabem que têm direito a receber ajuda do poder público.

“Sou muito pobre de dinheiro, mas tenho riqueza de espírito. Só não estou na miséria porque luto”, considera a dona de casa, enquanto coloca potes de plástico embaixo das mais de dez goteiras espalhadas pelo imóvel. A geladeira da família é ocupada por panelas de arroz e feijão, uma garrafa de água e um pepino. “Praticamente todo dinheiro que ganho vai para alimentação e dois remédios do meu marido, que não encontro no posto.”

A situação da família chegou a esse nível após acidente grave e que vitimou fatalmente o filho mais velho, há cinco anos. O marido teve um infarto enquanto dirigia o veículo da família, o que culminou na perda de parte do movimento das pernas. Embora se trate de tragédia, o patriarca caiu em depressão profunda desde então. Como resultado de sequer conseguir levantar da cama, ele perdeu a data da última perícia e teve o auxílio-doença cortado pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). “Estou no fundo do poço, mas continuo procurando emprego e fazendo faxina”, destaca Jane, sem perder a fé. “Minha família ainda vai ter uma vida digna”, confia.

REGIÃO
Santo André concentra o maior número de famílias em situação de extrema pobreza: pelo menos 23.330. Na sequência, São Bernardo reúne 18.069; Diadema, 14.719; Ribeirão Pires, 2.268; Rio Grande da Serra, 1.648; e São Caetano, 719.

Quase 30% dos moradores estão no grupo considerado de baixa renda

O Cadastro Único para Programas Sociais do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário concentra 176.128 famílias do Grande ABC, aproximadamente 792,5 mil pessoas. O número corresponde a quase 30% da população total da região – que é de 2,7 milhões de habitantes – e supera, por exemplo, a soma de moradores de Santo André e Rio Grande da Serra. A listagem federal reúne informações socioeconômicas das famílias brasileiras consideradas de baixa renda, aquelas que vivem com até meio salário mínimo por pessoa por mês – R$ 468,50.

Para a coordenadora do curso de Ciências Sociais da Metodista, Claudete Pagotto, o índice de vulnerabilidade socioeconômica da região é considerado alto e obriga os governantes municipais e estaduais a realizarem análise das condições de vida dessa população a fim de elaborarem políticas públicas eficazes. “O investimento voltado a essa população acontece quando a gente tem uma gestão pública que olha para essa questão, então existe perspectiva. Depende muito da gestão, porque quando a pessoa não contribui com o processo de produção de uma sociedade, ela é esquecida, inclusive escondida”, diz.

Entre as ações consideradas necessárias pela especialista, destaque para a necessidade de aumento do salário mínimo – atualmente de R$ 937 –, e de aquecimento do mercado de trabalho, a fim de inserir essa parcela da população. “Quando você tem contexto de décadas de desemprego e precarização de trabalho, há contingente maior de pobreza”, ressalta.

O fim da pobreza extrema é uma das 17 metas estabelecidas pela Agenda 2030 da ONU (Organização das Nações Unidas). Na visão do secretário-geral Ban Ki-moon, “dar maior espaço para a ciência” na tomada de decisões internacionais é o caminho. (NF) 




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