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Morador de rua não tem serviços básicos

Apesar da oferta, maioria prefere viver longe
dos albergues; em S.Bernardo faltam vagas

Por Yara Ferraz
do Diário do Grande ABC
27/06/2016 | 07:07
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Divulgação


Mesmo com serviços de acolhimento oferecidos pelas Prefeituras da região, moradores de rua têm pouco acesso a serviços básicos ou preferem não utilizá-los. A justificativa é que os locais mantêm restrições e dificultam o acesso a álcool e drogas.

As administrações estimam que atualmente pelo menos 732 pessoas estejam em situação de rua no Grande ABC (Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra não informaram). A cidade com maior concentração é São Bernardo, onde estão concentrados 331 desabrigados e a com menor número é São Caetano com 27.

Outro problema é a falta de vagas. Entre os albergues da região que oferecem vagas aos moradores, São Bernardo é a única cidade que não tem leitos suficientes para a população estimada. Em três endereços são 258 vagas, sendo 180 no abrigo. Na Secretaria de Desenvolvimento Social e Cidadania foi implantado o acolhimento emergencial com 48 vagas para pernoite e mais 30 acolhimentos na moradia provisória no Riacho Grande.

Samuel Nicácio, 23 anos, faz parte da população de rua da cidade há sete anos. Ele saiu de casa por problemas com álcool e prefere dormir sozinho na Praça da Matriz no Centro. “Eu fiquei sabendo dos albergues pelo pessoal que também mora na rua, mas nunca fui. Prefiro ficar aqui sozinho com a minha cachaça, a marmita e o cigarro. Eu sei que tem os assistentes sociais, mas não cheguei a ser abordado”, disse.

Ele não lembra até que série estudou e nunca trabalhou, mas pretende terminar os estudos. “É o meu sonho, estudar, trabalhar, viajar. Ter dignidade, né? Enquanto isso, eu torço para acordar no outro dia.”

Em Santo André, mesmo com iniciativas como o consultório na rua, que leva profissionais da Saúde até os locais, a reclamação é a mesma. “Eu tenho 30 anos na rua. O que eu aprendi é que dormir em albergue não dá certo. Você tem que estar lá 19h e sair às 6h. Aqui na rua, eu posso dormir até o horário em que eu quiser”, disse Sidnei Chiogna, 48.

Priscila dos Santos Pereira, 30, vive nas ruas com o marido, Marcelo Santos Silva, 38, há quatro anos e improvisou uma barraca com os cobertores que ganhou, no bairro Taboão em Diadema. Ela alegou que ambos foram expulsos pela GCM (Guarda Civil Municipal) da região central. A Prefeitura nega o fato.

Há uma semana, o morador Edinaldo Santos, 52, morreu no mesmo bairro. Apesar de temperaturas por volta de 12ºC, a Prefeitura afirmou que a causa da morte foi infarto agudo do miocárdio. A cidade afirma que em maio foram 114 pessoas atendidas nos serviços de referência.

Voluntários enfrentam o frio para ajudar

Mesmo com as baixas temperaturas, voluntários enfrentam o frio para ajudar os mais necessitados. Enquanto a equipe do Diário buscava moradores de rua no Centro de São Bernardo, duas equipes ajudavam a população.

Por meio da Igreja Estrela da Manhã, o projeto Sopa e Vida reúne 15 pessoas que levam alimentos para os moradores e também faz oração para os que desejam. “Nosso grupo já está há três anos aqui nesse local, mas o projeto já tem 15 anos. Muitas das pessoas que vivem aqui, tinham uma profissão e hoje só pedem para serem tratadas com respeito e dignidade”, contou o organizador Hélio Carlos Cardoso de Souza, 48 anos.

Quem desejar fazer doações pode levá-las até a sede na Avenida Maria Servidei Demarchi, 2.140.

Já o outro grupo faz parte da Associação de Moradores do Bairro Terranova. Voluntários distribuíram os kits com roupas, cobertores e mantimentos. “Esse projeto é para nós conhecermos melhor a realidade dos outros, já que quando você ajuda, acaba aprendendo muito mais. Formamos essa equipe há 12 anos e sempre estamos envolvidos com projetos sociais”, disse o voluntário Roger Rodrigues, 28.

Doações podem ser encaminhadas para a Rua José D’Ângelo, 28.  




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