Setecidades Titulo
CHM de Santo André assume pacientes no corredor
Bruno Ribeiro e Rodrigo Cipriano
Do Diário do Grande ABC
02/06/2006 | 07:30
Compartilhar notícia


O CHM (Centro Hospitalar Municipal) de Santo André institucionalizou a internação de pacientes em macas nos corredores das enfermarias. O repórter Bruno Ribeiro esteve no hospital, na condição de acompanhante, durante duas noites e uma manhã, entre os dias 7 e 10 do mês passado, e constatou a permanência de pacientes no corredor. O nome da pessoa e o número da maca ficam colados na parede, oficializando o leito no corredor. O repórter constatou ainda a falta de poltronas para acompanhantes, que são obrigados a pernoitar em cadeiras desconfortáveis. Parentes de pacientes que recebem alta, negociam com outros que vão permanecer no Centro Hospitalar a venda da poltrona macia, por R$ 80.

No corredor, os pacientes ficam com a luz no rosto o tempo todo. O vaivém constante de funcionários, outros pacientes e parentes impede que descansem. O doente na maca não consegue relaxar, com medo de que chinelos ou outros pertences sejam roubados. Boa parte das macas não tem cadeira para acompanhante.

Como as macas estão ocupadas por pacientes internados no corredor – que deveriam ser usadas pelo atendimento de emergência –, muitas vezes é preciso pegar emprestado as macas dos carros de resgate que trazem pacientes para atender uma emergência.

Há também falta de itens básicos, como lençóis, travesseiros, fronhas, cobertores e toalhas, que devem ser trazidos de casa pelos parentes de pacientes.

A reportagem voltou ao Centro Hospitalar quarta-feira e quinta-feira e encontrou situação semelhante à vista no mês passado, com pacientes no corredor da enfermaria. A única diferença é que o número da maca não estava mais fixado na parede, e, sim, no pé da cama.

A diretora técnico-administrativa do hospital, Maria Cecília Cordeiro Dellatorre, assume o problema e o justifica com o déficit mensal de pelo menos 50 leitos. A quantidade de leitos no corredor, segundo ela, flutua de um dia para outro. "O fato de os pacientes estarem no corredor não significa que não estejam sendo atendidos", afirma a diretora.

Maria Cecília diz que o motivo da irregularidade é a falta de vagas para transferência para outros hospitais. Ela alega que o CHM é um hospital de portas abertas (atende emergências) e não pode recusar paciente. Porém, diz que o hospital deveria prestar apenas o atendimento de urgência e depois transferir o paciente para outros hospitais. Como, segundo ela, faltam vagas nesses outros hospitais eletivos – no caso de Santo André, o Hospital Estadual Mário Covas –, os pacientes continuam no CHM, o que provoca a superlotação e o acúmulo de macas nos corredores.

A perspectiva de mudança desse quadro, segundo a diretora seria a entrada em vigor da portaria 2.048 do Ministério da Saúde, que permitirá que o hospital encaminhe pacientes moradores da capital a centros médicos de São Paulo, por exemplo, o que não é permitido hoje. A portaria só deve valer a partir de 2007. A curto prazo, entretanto, a diretora não apresentou soluções, mas ressaltou que a transferência dos doentes depende do Plantão Controlador, órgão da Secretaria de Estado da Saúde que gerencia a distribuição de vagas na rede pública.

A diretora disse desconhecer o comércio de poltronas no hospital e afirmou que irá fazer uma auditoria interna para averiguar a denúncia. Quanto à falta de itens de primeira necessidade, como roupa de cama, a diretora afirmou que uma grande remessa desse tipo de material chegou quarta-feira ao hospital. Estariam em processo de lavagem e desinfecção, e seria disponibilizado "nos próximos dias".

Não-vitais – Por conta da falta de leitos, atendimentos considerados não-vitais são deixados de lado. O desenhista Leonardo Delclécio da Silva, 20, caiu da moto em 12 de outubro do ano passado e teve que colocar pinos nos joelhos. Ele tinha marcado a retirada em 10 de maio. Não pôde ser atendido na data e remarcou a cirurgia para quarta-feira. Também não conseguiu tirar os metais do joelho por falta de leito. Agora, terá que remarcar mais uma data. Autônomo e prestes a ser pai, diz que está sem trabalhar por conta da demora na cirurgia.

O mesmo ocorre em casos de exames de tomografia. Antes do procedimento, o paciente passa por uma triagem com um médico que seleciona os casos e passa na frente os doentes mais graves. A diretora Maria Cecília diz que isso acontece porque a máquina que faz o exame será substituída por outra "mais moderna". Enquanto isso, os casos graves são encaminhados para o Hospital Estadual Mário Covas e os menos graves têm de aguardar.

A aposentada Lúcia Marrucci Bianchi, 85 anos, sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) no domingo passado, e foi encaminhada para o CHM para a realização do exame. Ficou em jejum até terça-feira, aguardando para ser examinada. Só voltou a receber alimentos por pressão da família, ao descobrir que a parente não seria operada. Até quinta-feira à tarde, a aposentada continuava aguardando o exame.

A direção do hospital acredita que, se não houver nenhum imprevisto, o tomógrafo novo esteja funcionando em dez dias.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;