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Menor dá tiro na cabeça de colega
Por Luciano Cavenagui
Do Diário do Grande ABC
26/10/2005 | 08:18
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Um dia após a realização do referendo que decidiu pelo ‘não’ ao desarmamento, um garoto de 12 anos, morador do Jardim ABC, em Diadema, foi baleado na cabeça por um amigo de 15 anos que brincava com uma pistola calibre 380 no quintal de uma casa. O menino está internado em coma no Hospital Estadual de Diadema, no bairro Serraria. Diadema foi o único município da Grande São Paulo onde o ‘sim’ venceu na votação de domingo.

O garoto que atirou conseguiu a arma com um outro amigo, de 14 anos, que a achou em casa, localizada no mesmo bairro. A pistola é de propriedade do comerciante Ronaldo Rodrigues de Araújo, que tinha registro legal da arma. Mas, num procedimento ilegal, ele pediu para que seu sócio num comércio, Rodrigo Nunes, 28, guardasse a arma. Rodrigo é cunhado do garoto de 14 anos e os dois moram na mesma casa. De acordo com a lei, o proprietário da arma só pode guardá-la na própria residência.

O tiro ocorreu às 16h de segunda-feira no quintal de uma casa localizada na rua das Ameixeiras. Quarenta minutos antes, o estudante de 14 anos achou por acaso a arma em casa. Segundo depoimento à polícia, o adolescente disse que foi até o quarto da irmã à procura de dinheiro para jogar sinuca e fliperama. Dentro do guarda-roupa, a-chou uma mochila com a pistola dentro. Segundo o garoto, a arma estava carregada.

O adolescente colocou a arma na cintura e foi mostrar aos amigos. Pulou o muro da Escola Estadual Osvaldo Lacerda Gomes Cardim e exibiu a pistola para o amigo de 15 anos. Ambos saíram do local e foram até a rua das Ameixeiras, onde estavam no quintal o garoto de 12 anos, além de Rudson Xavier Santos, 18, e mais dois amigos.

“Os dois chegaram aqui botando banca com a arma, mostrando para todo mundo. Achei perigoso, não gostei, mandei i-rem embora, mas os dois ficaram. Antes de ser baleado, nosso amigo de 12 anos tinha falado para tirarem a arma da frente dele”, contou Rudson. Após o disparo, os dois meninos de 14 e 15 anos fugiram de ônibus para o Jardim Campanário, onde esconderam a arma no buraco de um muro e falaram o que tinha ocorrido a um amigo. Essa testemunha acionou a polícia, que encontrou os dois garotos terça pela manhã, assim como a arma.

Os dois comerciantes – o dono e o guardião da arma – foram indiciados por ceder e guardar ilegalmente o armamento. Vão responder o caso em liberdade e, se condenados, podem pegar de dois a quatro anos de cadeia. Como não houve intenção de matar a vítima, o garoto que atirou e seu amigo que pegou a arma foram encaminhados à Vara da Infância e Juventude de Diadema, onde responderão pelo caso e receberão orientações.

A vítima foi levada para o Hospital Municipal do Taboão, de onde foi transferida para o Hospital Estadual de Diadema. Estava na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) até terça à noite.

“Meu filho está para morrer por causa de uma brincadeira besta. Se essa arma não estivesse em casa, meu filho poderia estar bem agora. Foi muita irresponsabilidade”, afirmou a cozinheira M.F.S., 53 anos, que afirma ter votado no ‘sim’ no referendo. “Foi um acidente, meu filho não tinha intenção de atirar. Ninguém esperava que isso pudesse acontecer”, disse a mãe do garoto que atirou, a dona-de-casa E.G.O., 41, que votou pelo ‘não’. No bairro em que moram as duas famílias, Jardim ABC, a vitória foi do ‘sim’.

A reportagem foi até a casa onde estava a arma, mas ninguém da família quis dar declarações. O proprietário da pistola não foi localizado. Ele declarou à polícia que havia deixado a arma sem munição, ao contrário do que afirmou o garoto que a encontrou.




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