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Coração violeiro

Parte da obra de Inezita Barroso é relançada; aos 86 anos
de vida, ela luta para que a viola seja valorizada no Brasil

Por Vinícius Castelli
Do Diário do Grande ABC
27/12/2011 | 07:00
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Divulgação


"Acho que ainda não acabei minha guerra. Enquanto não enxergar a viola valorizada como instrumento brasileiro, estou no meio dela ainda". Aos 86 anos de vida, 60 dedicados à música caipira e ao folclore brasileiro, Inezita Barroso comemora o relançamento de parte de sua obra e também o sucesso dos 32 anos do programa ‘Viola Minha Viola', exibido semanalmente na TV Cultura.

A insistente e incansável busca da cantora, violeira, violonista e professora universitária por espaço para o cancioneiro regional tem boa razão: manter vivas as origens da músicas originalmente brasileiras. "Vai chegar o dia em que vão enjoar das porcarias, daí a gente entra. Senão, acaba a música brasileira, que já não está mais tão brasileira assim".

De família grande, com vários primos, Inezita passou boa parte da infância na fazenda, onde descobriu o som da viola com o programa de rádio apresentado por Raul Torres. A partir daí, não parou de se dedicar ao instrumento.

Fã de feijão, quiabo, de andar de bicicleta e dona do Virgulino, seu fiel cãozinho comedor de agrião, a cantora diz que o seu gênero segue esquecido por falta de interesse da maioria das pessoas com relação à sua cultura. "Quero ver a moda de viola levada a sério. Pelas letras que tem, criadas com dificuldades por criaturas da roça. Alguém que não teve chance de estudar escreve uma letra daquelas, faz tudo com rima certa, escreve perfeitamente, é um milagre de Deus", revela.

LANÇAMENTO

A caixa que chega às lojas, ‘O Brasil de Inezita Barroso' (Microservice, R$ 115 em média), traz em seis CDs os sete primeiros discos gravados pela paulistana entre 1955 e 1961 pela gravadora Discos Copacabana. Todos os títulos foram remasterizados. Faixas bônus, gravadas ainda nos LPs de 78 rotações e em álbuns coletivos, também integram a cuidadosa obra.

Entre os vários projetos que já viu serem iniciados para tratar de sua vida cultural, Inezita comemora que este tenha visto a luz do dia. "Já começaram tanta coisa da minha vida, mas nunca terminam. Até assinei um documento. Depois que eu morrer, ninguém vai publicar nenhuma linha. Ah, eu fico brava, depois que morre que vai falar. Eu estou aqui para cantar ao vivo", afirma.

À frente do ‘Viola Minha Viola', gravado toda quarta-feira, Inezita se sente realizada. Entre os almejos alcançados, ela se diz satisfeita com a quantidade de crianças que surgem com viola na mão. "A orquestra Infantil de Viola é de morrer. Tem um menino que toca viola, deve ter 6 anos, ele arrasa, é uma seriedade". O universo regional é vasto, e para conhecer, Inezita dá a dica: "É necessário mergulhar. E de cabeça.

A caixa
A caixa traz os discos ‘Inezita Barroso' (1955), ‘Lá Vem o Brasil' (1956), ‘Inezita Apresenta' (1958), ‘Vamos Falar de Brasil' (1958), ‘Canto da Saudade' (1959), ‘Eu Me Agarro na Viola...' (1960) e ‘Inezita Barroso Interpreta Danças Gaúchas' (1961).

Além das artes e textos originais, todos os discos contêm livreto precioso com informações, letras e comentários da cantora.

Já no álbum de estreia, a cantora solta o vozeirão. ‘Prece a São Benedito', escrita pelo maestro Hervé Cordovil, abre a obra. Inezita canta o folclore de Minas Gerais na canção ‘Minêro tá me Chamano' e canta também o folclore de Piracicaba com a composição ‘Maria Julia.

‘Inezita Apresenta' aproveitou para divulgar canções de cinco compositoras: Babi de Oliveira, Juracy Silveira, Zica Bérgami, Leyde Olivé e Edvina de Andrade. Entre os destaques estão ‘Cateretê', ‘Conversa de Caçador' e a delicada ‘O Batateiro'.

‘Eu me Agarro na Viola' traz ‘A Voz do Violão', música de Francisco Alves. Como extra, o disco conta com quatro faixas. Entre elas está ‘Tamba-tajá', lenda de casal de índios cuja mulher falece. De tanto amor, o homem se enterrou vivo, junto da índia. Desse monte de terra, nasceu a planta que dá nome à música. No Nordeste, reza a lenda que a planta traz sorte.




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