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Vila Assunção mantém tradicionalismo
Por Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
19/12/2011 | 07:00
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Marina Brandão/DGABC


Ao mesmo tempo em que mantém seu aspecto saudosista devido ao estilo arquitetônico dos imóveis, tradicionais pontos de encontro, como bancas de jornal, quitandas, bares e padarias, e por reunir grupos de moradores antigos, a Vila Assunção, em Santo André, teve seu perfil modificado e hoje é tida com um dos mais importantes centros comerciais do município.

O bairro deixou de ser estritamente residencial, por isso, ao caminhar pelas ruas e avenidas de um dos mais antigos locais da cidade, é possível observar diversidade entre os inúmeros pontos comerciais, além de novos prédios residenciais, o que aumenta o trânsito em alguns períodos do dia.

O espaço de 1,5 quilômetros quadrados reúne 14.182 habitantes. Há duas escolas estaduais: Dr. Celso Gama e Professora Herminia Lopes Lobo, além da Emeief Padre Fernando Godat e da creche Professora Marina Gonçalves Ulbrich, que atende a população do bairro, mas está localizada no Jardim Stella. Na área da Saúde, os moradores têm o Ambulatório de Especialidades do Centro Hospitalar Municipal e o Pronto Socorro.

Deixar o bairro nem passa pela cabeça de quem vive ali. Para o aposentado Benedito Lopes, 70 anos, instalado no local há 50 deles, nada paga a tranquilidade de saber que está a salvo das temidas e cada vez mais frequentes enchentes no verão. "Aqui pode chover à vontade que não alaga", comemora. A única reclamação é sobre o aumento do fluxo de veículos pelo bairro diariamente. "Temos muitos prédios residenciais e, com isso, a quantidade de carros que passou a circular por aqui cresceu", diz.

A proximidade com o Centro de Santo André nem seria notada não fosse a necessidade de se dirigir até lá para ir ao banco. "Temos duas casas lotéricas, mas infelizmente nenhuma agência bancária", comenta Lopes.

COMÉRCIO

Instalado na Praça que recebe o nome do bairro há 45 anos, o Bararanha é ponto de encontro dos moradores mais antigos. "Semana passada mesmo teve churrascada tradicional de fim de ano", destaca o proprietário do bar, Jesualdo Bezerra da Silva, 40. Desde sua fundação, o estabelecimento mudou de direção cinco vezes. No entanto, a clientela permanece fiel. "Já faz uns 20 anos que frequento o bar", confirma Lopes.

A Banca João Ramalho, na esquina da avenida que a nomeia com a Rua Coronel Francisco Amaro, está no local há 30 anos. "Apesar de os clientes terem se diversificado por causa do Centro Hospitalar Municipal (instalado há poucos metros), aqueles mais antigos vem buscar jornal todos os dias", comenta o proprietário José Roberto Bertoloto, 59.

O aposentado Roberto Paulo, 59, revela que quando mudou para a Vila Assunção, há 26 anos e após o casamento com uma moradora da cidade, acreditava que não se habituaria por estar acostumado com a vida na Capital. "Hoje mudei de ideia e não saio daqui por nada. Se o prefeito mora no bairro é porque é bom", brinca.

Próximo à Matriz, moradores pedem reforço na segurança

A tradicional Praça Presidente Vargas, onde está instalada a Igreja Matriz, conhecida por grande parte dos andreenses como a igreja cor-de-rosa, é um dos pontos mais movimentados da Vila Assunção e, por isso, alvo de pedidos por mais segurança por parte dos moradores que estão próximos do local.

O lugar onde o aposentado Edgar Mantovani nasceu, há 80 anos, não é mais o mesmo. Segundo o simpático senhor de cabelos grisalhos, as poucas casas que ainda restam pelo bairro ficam abandonadas durante a noite, quando os consumidores deixam a Vila e os comerciantes baixam as portas. "Durante o dia há muito movimento em virtude da Igreja Matriz, da faculdade, das escolas, lojas. Mas, quando os lojistas vão embora ficamos sem segurança e com medo", reclama.

Reivindicação antiga dos moradores da Vila Assunção, a instalação de base comunitária próximo à Igreja Matriz nunca deixou de ser apenas promessa. O que se vê pelo espaço são flanelinhas olhando carros estacionados no entorno da paróquia. "Os religiosos ficam sem liberdade porque têm medo de serem abordados", conta um comerciante local, que preferiu não se identificar. Segundo ele, a solução para inibir a presença e atuação dos guardadores de carros seria avançar com a instalação da Zona Azul, presente em grande parte das ruas do bairro. 

Forma-se a vila bem pertinho do Centro

Vila Assunção foi loteada em 1925 pelos irmãos Erasmo e Antonio Assumpção, daí o nome. Não foi o primeiro loteamento do espaço, nem é o mais extenso. Mesmo assim generaliza-se a vila para identificar pontos como do Cemitério da Saudade e da Matriz de Santo André, que neste mês celebra o centenário de criação da primeira paróquia andreense, a segunda do Grande ABC, ao lado da Paróquia São José, em Ribeirão Pires - a primeira é a da Boa Viagem, em São Bernardo.

Antes da Vila Assunção foram abertos outros loteamentos próximos a ela. Vila Flaquer, de 1912, foi o primeiro, seguido pela Vila Alzira, de 1918. Depois da Vila Assunção, vem juntar-se à área que podemos denominar de Grande Assunção os loteamentos Vila Santa Tereza, Vila Dora, Jardim Javri, Vila Pomar, Vila Itararé, Vila Renata, Vila Eldizia, Vila Bela Vista.

E há o Bairro da Glória, citado em 1937 pelo Álbum de São Bernardo, livro de João Netto Caldeira, que obedece ao traçado da primitiva Vila Flaquer. A hipótese que se levanta é que o loteador de Vila Flaquer - Alfredo Flaquer, ex-prefeito - teve dificuldade para vender os lotes abertos e os repassou a terceiros, que criaram a expressão Bairro da Glória, englobando - este sim - o Cemitério da Saudade.

Em 1989 tivemos oportunidade de entrevistar vários antigos moradores da Vila Assunção, como João Montagner: "Da Avenida da Saudade sentido bairro é Bairro da Glória, até o Jardim Ipiranguinha. Os Dell'Antonia e os Flaquer tinham muitas áreas no local". Maria Madalena Nanci também relembra: "O pai do José Nanci (ex-vereador) era pedreiro e fez várias casas."

E veio a transformação. Os loteamentos espaçosos das primeiras décadas do século passado cederam espaço aos conjuntos residenciais a partir do final dos anos 1940. Nos anos 1970, inicia-se o crescimento vertical, mas, no coração de Vila Assunção, resistem construções centenárias, térreas, ocupadas geralmente por restaurantes e outros comércios. (Ademir Medici)




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