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Ex-machista Jece Valadão fala sobre religião
Por Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
25/05/2002 | 16:25
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Seu nome invoca dois adjetivos: cafajeste e machista. O primeiro veio com um papel no filme Os Cafajestes (1960) de Ruy Guerra, seguido de outros nos quais o ator fazia ou um malandro, ou um tipo sem caráter que acrteditava no tapa ou na bala. O segundo veio com sua participação como jurado fixo no programa de TV de Abelardo Barbosa, o Chacrinha, que o anunciava “Jece Valadão, o machão”.

Hoje, Jece Valadão também rima com religião. Foi a grande mudança na vida desse fluminense criado em Cachoeiro do Itapemirim (ES), que voltou para o Rio com 16 anos para aprender a ser alfaiate, virou artista, casou seis vezes e abraçou o estigma de cafajeste, devasso e machista (“Todo ator deve ter seu estigma, como James Dean, Humphrey Bogart”). Mas o abraço no protestantismo, em 1995, foi o que causou mais impacto em sua vida, quando começou a participar de pregação em igrejas evangélicas.

Outra mudança para Jece deve ocorrer nas próximas semanas, com a transferência de seu estúdio Betel Music, onde grava os CDs com seu testemunho de fé – os quais vende em suas viagens. O estúdio sairá da Lapa, em São Paulo, cidade onde reside há 15 anos, e mudará para um novo endereço. Uma das opções é em São Caetano.

A conversão veio após um telefonema de Vera Gimenez, sua ex-mulher, em 7 de junho de 1995. Os dois brigavam muito, mas naquela oportunidade ela estava calma e pediu que ele ligasse para um pastor. Jece ligou e ouviu uma oração. Desde então, adotou a Bíblia, “que tem todas as respostas”, disse.

Aos 72 anos, bem disposto e aparentando tranqüilidade – bem diferente da fama de pavio curto –, Jece está longe das telas de cinema (Tieta do Agreste e o remake de O Cangaceiro foram seus últimos filmes, em 1995), dos palcos (fez mais de 50 peças) e da TV – onde atuou pouco – e perto das igrejas evangélicas. “Disse para o Jô Soares em seu programa: ‘Conheci um homem que mudou minha vida, Jesus Cristo de Nazaré’. Isso foi uns dias depois de me converter e todo mundo comentou depois”, disse.

Jece não nega seu passado, que nada tem de santidade, e lembra tudo com bom humor. Aos 18 anos, conta, saiu do Rio para viajar sem rumo. “Fui parar em Paso de Los Libres, na Argentina. Embarquei num cargueiro de volta sem nada no bolso e cheguei no Rio cheio da grana: ganhei tudo dos marinheiros jogando ronda (jogo de cartas)”. Outra: “Quando me separei de Vera Gimenez depois de 13 anos, decidi morar sozinho e ter uma mulher por dia. Saí com a roupa do corpo e procurei um hotel. Tudo ocupado por causa do Rock in Rio, o primeiro. Passei na boate Hipopotamus, tinha uma mulher sozinha na mesa, uma senhora da sociedade, de uns 60 anos. Fui com ela para um motel”, diz.

E Jece crê em quê? “Quando participo de pregações pelo Brasil inteiro, as pessoas pensam que é marketing para um filme. Depois de meu testemunho, eles se tocam. Eu era materialista e ateu. Ganhava dinheiro para gozar a vida e transar com mulheres. Achava que Jesus era um extraterrestre. As pessoas podem ter bens materiais, mas não devem se apegar a eles. Hoje, tenho um estúdio no Rio, que alugo para uma produtora, e meu escritório em São Paulo. São prioridades que ficarão nesta vida. O amor a Deus é que deve ser priorizado”, afirma.

Antes da conversão, suas falas eram outras: “Toda mulher gosta de apanhar do homem certo na hora certa”; “Se você não sabe porque está batendo ela deve saber porque está apanhando”; “Cobiçar a mulher do próximo quando ela é boa”. “Era muito cretino”, diz hoje.

Foi convidado a fazer um Você Decide na Globo, há dois anos. “Nunca tinha estado no Projac: tratamento VIP, comida, bebida, um cachê deste tamanho (faz um gesto com as mãos). Depois me chamaram para fazer outro. Vi tudo aquilo com outros olhos. É oferenda demais, mulher bonita demais. Se você não estiver convicto, fica difícil”, afirmou.




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