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Caminhões são alvo do crime

Três das sete cidades integram ranking de dez municípios com maior número de casos de roubo de veículos pesados do Estado, aponta estudo

Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
25/03/2018 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Nova modalidade do crime organizado tem chamado a atenção: o roubo de caminhões. Mapeamento aponta que três cidades da região – São Bernardo, Diadema e Mauá – aparecem entre as dez com maior número de casos do tipo no Estado de São Paulo. Isso é o que mostra estudo feito pelo Grupo Tracker, empresa de rastreamento e localização de veículos, em parceria com a Fecap (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), referência na área de Gestão de Negócios.

No caso do roubo de caminhões tratores (veículo destinado a tracionar ou arrastar outro), São Bernardo e Mauá constam entre as dez cidades do Estado que mais concentram esse tipo de delito. A Capital lidera a ocorrência.

Os dados contabilizam os registros feitos até outubro de 2017 e foram extraídos do registro digital de ocorrências da SSP (Secretaria da Segurança Pública) do Estado. A incidência de roubo de veículos pesados em outubro de 2017 foi 9% maior do que no mesmo período de 2016. Dos 3.467 roubos do tipo registrados no Estado no período de dez meses, 92 caminhões tratores (2,66%) foram roubados em São Bernardo e 77 (2,24%) em Mauá, colocando as cidades na sexta e oitava colocações, respectivamente, do ranking estadual. Os municípios também ocupam a quarta e a sexta posições em roubos de caminhões – Mauá, com 86 ocorrências (2,49%) e São Bernardo com 84 (2,43%). Entre elas, aparece Diadema, em quinto lugar, com 86 casos, o equivalente a 2,49% do total de roubos de veículos pesados no Estado, até outubro.

No que diz respeito a furtos, o Estado contabilizou 1.124 casos, e São Bernardo integra a sexta colocação na modalidade de caminhões tratores (2,86%) e a sétima em relação a caminhões (2,02%).

O foco nos caminhões tratores pode ser explicado ao fato de os criminosos transportarem veículos pesados, como carretas e maquinários agrícolas – uma vez que o setor do agronegócio tem respondido bem à crise. “O desenvolvimento no cenário de crise econômica gera assimetrias que podem estar estimulando a demanda por insumos agrícolas”, analisa o professor de Direito do Mackenzie Rio e ex-subsecretário geral de Segurança, Newton de Oliveira. “Associa-se a isso procura impulsionada pela crise econômica, que faz com que a redução de custos para os potenciais receptadores destes produtos do roubo possa tornar atraente a sua aquisição nesse mercado paralelo.”

O perfil das cidades da região que constam no ranking (são cortadas por rodovias como Anchieta, Imigrantes e Rodoanel), contribui para integrar as estatísticas. “Essas rodovias facilitam as fugas, além de a região apresentar áreas de mata cortadas por pequenas estradas, que vão dar em lugares desabitados”, avalia o coordenador do Departamento de Estudo e Pesquisa sobre Economia do Crime da Fecap, Erivaldo Costa Vieira.

Caminhoneiros atuam sob medo constante

Atuando há 16 anos com entrega de mercadorias e mudanças, Carlos Alberto Nunes, 56 anos, de São Bernardo, nunca teve seu veículo roubado. No entanto, isso não significa que ele trabalhe tranquilo. “Você trabalha tenso o dia todo. Na parte da manhã, o ladrão quer sua carga, à tarde, quer saber do seu dinheiro do frete do dia e, muitas vezes, do caminhão para desmanche”, diz.

Bruce Mário Andreta, 36, também de São Bernardo, transporta carga de carros, cujo valor pode chegar a R$ 1 milhão. “É muito comum roubarem caminhões da empresa. Quando chega a notícia de um roubo, estamos tão acostumados que dizemos: ‘mais um’”, conta ele que, por vezes, trafega por mais quilômetros para poder parar em locais menos perigosos.

Ainda na cidade, Silvio Martins Ferreira, 51, é proprietário de transportadora no bairro Batistini. Durante transporte de material para montagem de estandes nas Olimpíadas, o motorista de um de seus caminhões foi abordado por criminosos na Capital. “Sempre que possível partimos em comboio em áreas conhecidas como perigosas. E nós evitamos trafegar no Rodoanel de madrugada”, cita.

O mínimo de segurança é garantido com o pagamento de seguro – R$ 5.000 para cada um dos cinco caminhões da empresa. “A cada dois anos pagamos o equivalente a um caminhão novo para a seguradora”, diz.

Eduardo Macedo Loprete, 36, de Diadema, trabalha com frete e teve transtornos após o furto de seu caminhão. “Fiquei 22 dias sem atender meus clientes e perdi dois deles. A gente se sente na mão dos bandidos”, lamenta.

O destino dos caminhões roubados é, principalmente o comércio de peças, mas não exclusivamente, lembra o coordenador do Departamento de Estudo e Pesquisa sobre Economia do Crime, da Fecap, Erivaldo Costa Vieira. “Muitos terão documentos falsificados e comercializados como legais em outras regiões. 

Secretaria estadual ressalta combate

A SSP (Secretaria da Segurança Pública) do Estado salienta que a atuação das polícias no combate aos crimes de roubo a veículos, seja ele de pequeno ou grande porte, é constante no Grande ABC.

Sobre as cidades da região que constam do estudo, a Pasta destaca que se trata de localidade com alto fluxo de caminhões, “até pelo fato de ser rota do Porto de Santos e de Cubatão, o que torna desigual a comparação com outros municípios”, pontua, em nota.

Entre as ações ressaltadas pela secretaria para inibir o roubo e furto de veículos na região, estão três operações Força Metropolitana Regional, realizadas pela PM (Polícia Militar) entre os meses de janeiro e fevereiro. “Essas ações mobilizaram uma média de 200 PMs em cada etapa, o que possibilitou na prisão de 24 criminosos e na recuperação de 11 veículos.” 

José Resende, coordenador de operações do Grupo Tracker, empresa que realizou o estudo sobre roubos e furtos de caminhões, aponta que o maior número de produtos adquiridos através das plataformas digitais, e a questão da melhora na economia, impactam diretamente na maior circulação de veículos no transporte de cargas. “Provavelmente esses dados contribuem para o aumento de roubos dos pesados”, diz. “Para combater esse crime, é necessária fiscalização severa e constante em todos os comércios de peças usadas, e ação investigativa para localizar onde estão os grandes receptadores de cargas roubadas”, completa o especialista.

Ao longo do ano passado, a região contabilizou 511 ocorrências de roubo de cargas, ante 346 em 2016 – um aumento de 47,69%. O presidente do Setrans (Sindicato das Empresas de Transportes de Carga do ABC), Tiojium Metolina, ressalta a necessidade do foco de investigação nos receptadores dessas cargas. “Tem que pegar quem compra a carga. É por essas pessoas que recebem que tem o roubo.”




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