Na quinta-feira, os dois executivos visitaram o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC e depois conheceram duas empresas que antecipam o que deverá pautar a atuação do BNDES na região nos próximos quatro anos: a primeira foi a indústria de autopeças Arteb – sobrevivente com sucesso do processo de internacionalização da indústria automobilística nos anos 90. A segunda foi a Uniforja, um exemplo de economia solidária em que trabalhadores se encarregaram de gerir e erguer as finanças de uma fábrica falida.
Lemos ressaltou a vocação do Grande ABC para a produção e assegurou a intenção do BNDES em dar suporte à recuperação dos dois principais setores da economia regional: a indústria automobilística – com destaque para as autopeças – e a indústria petroquímica, com atenção especial para a ampliação do Pólo Petroquímico de Capuava. Ele também destacou que é possível para o conjunto dos municípios elaborar projetos que demandam somas vultosas em financiamento.
Parece sonho mas é verdade. Tanto que os executivos não fizeram promessas ou prometeram a sempre genérica prioridade, mas se comprometeram a criar e manter um grupo de estudos para estudar a viabilidade dos projetos. “Resolver todos os problemas, não. Mas minorá-los, a gente acha que pode”, respondeu Costa quando perguntado se haveria tempo em quatro anos para reestruturar a região.
Diário – O BNDES ficou também um bom tempo sem políticas de financiamento para infra-estrutura para entes públicos (municípios). Isso foi retomado há pouco tempo. Como deverá ser a gestão de recursos para infra-estrutura agora no governo Lula?
Darc Antônio da Luz Costa – O banco prioriza a questão da infra-estrutura pelo fato de que, se você observar o discurso do governo anterior, era um discurso de reduzir o custo Brasil, que está todo apoiado em cima da infra-estrutura. E o que o governo fez foi completamente contra o discurso, porque o custo Brasil aumentou muito. Basta ver as tarifas de energia elétrica, os pedágios, o que se paga em termos de gás (por causa do contrato com gás boliviano indexado em dólar). Então, toda infra-estrutura do país foi profundamente onerada, o que torna o país muito menos competitivo em termos internacionais. Por isso é que nós estamos priorizando a questão da infra-estrutura. Porque é necessário entender que a infra-estrutura gera a própria produtividade. Não se mede o custo da infra-estrutura senão olhando para ela como elemento efetivo de melhoria das condições gerais da economia.
Diário – O que dá para tirar desta reunião com os prefeitos e sindicalistas que o senhor teve aqui. Mudou a visibilidade do Grande ABC dentro do BNDES? Tem alguma coisa em concreto que pode ser anunciado agora?
Costa – Sim. A montagem de um grupo de trabalho para estudar as principais questões que cercam a região.
Diário – Os projetos que a região deve apresentar terão prioridades dentro do banco, como deve ser o relacionamento?
Costa – Na medida em que os projetos forem pré-analisados eles devem trafegar pelo banco de maneira muito mais fácil. Estamos organizando o sistema de pré-análises e esses projetos serão encaminhados muito mais rápido no banco do que seriam se não tivesse essa pré-análise. Estamos fazendo um pré-enquadramento dos projetos para agilizar a implementação.
Diário – É possível resolver os problemas que já foram apresentados na reunião com os prefeitos do Grande ABC dentro desses quatro anos do governo Lula, dentro dessa política de refundar a política industrial brasileira?
Costa – Resolver todos os problemas, não. Mas minorá-los, a gente acha que pode.
Diário – O Consórcio Intermunicipal do Grande ABC tem vários projetos que exigem investimento em pesquisa e em obras de infra-estrutura. São necessários para solucionar gargalos que impedem o desenvolvimento econômico e social da região. Mas temos problemas legais. O Consórcio não tem personalidade jurídica para contrair empréstimos pelo conjunto dos municípios. E os municípios não tem estrutura financeira para comprovar capacidade de pagamento de financiamentos vultosos. Como poderá ser resolvida esta questão?
Maurício Lemos – São dois problemas: um é como você faz um projeto único e distribui as dívidas, os financiamento e os ônus desse financiamento para cada prefeitura. Isso tecnicamente não é difícil de fazer. Existe uma prática dentro de instituições como o BNDES, o Banco Mundial e do BID de fazer assim, de trabalhar com vários entes. Desta forma, cada um assume responsabilidade em uma parte do projeto, que é assinado em conjunto. Então isso é uma dimensão. A outra dimensão é a seguinte: se o financiamento tiver um valor muito alto – acima da capacidade de pagamento do conjunto das prefeituras – aí a negociação que extrapola o BNDES. Isso significa que será necessária a participação de recursos próprios do governo do Estado ou do governo federal. Neste caso, o BNDES pode ser parceiro em uma ação mais conjunta dos vários entes federativos e do próprio governo federal. Isso é uma coisa que deve ser articulada. Agora, teoricamente, o BNDES pode fazer o empréstimo conjunto para o Consórcio. Isso exige mais uma questão de gestão específica, de como montar um projeto comum e depois fazer um processo de ação solidária, em que cada município fica responsável por uma parte do endividamento.
Diário – O Grande ABC vive desde a década de 90 um processo de fuga de empresas provocado de um lado pela exigência de modernização do parque industrial brasileiro e de outro pela guerra fiscal. O que o BNDES pode fazer a partir de agora para tentar reforçar a vocação industrial da região ou para auxiliar na implementação de alternativas econômicas, como as do terceiro setor?
Lemos – Eu acho que a reconversão econômica ainda é um pouco discutível. O Grande ABC tem ainda uma forte vocação industrial. É claro que a vocação industrial é menos chaminé, é mais indústria limpa. Tem várias mudanças. Mas eu diria o seguinte: agora nós estamos querendo, e é a proposta do governo Lula, refundar a política industrial no país. Então nós conseguindo construir essa novas bases da política industrial, como é que nós vamos trabalhar num parque industrial ainda muito importante no Brasil que se chama Grande ABC. É nesse contexto – e a partir daí – que nós vamos ver qual é a reorientação. Agora eu não acho que o ABC vai deixar de ser industrial. Ele pode ter alguns setores, inclusive este espaço para o terceiro setor aí, mas em certo sentido estamos trabalhando dentro de uma perspectiva industrial no país está caminhado novamente para ter.
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