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Estrutura atrai profissionais do Mais Médicos ao Grande ABC

Contratados para substituir cubanos, profissionais também levam em conta proximidade da Capital

Aline Melo
24/02/2019 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


De um lado a experiência de quem já tem 40 anos de profissão. Do outro, a juventude de médicos recém-formados que buscam formas de se relacionar com os pacientes. Comum a todos, a avaliação positiva da estrutura e dos indicadores de saúde das cidades do Grande ABC. Profissionais do Mais Médicos que vieram à região em substituição aos cubanos – desligados em novembro do ano passado – são unânimes em apontar, entre os critérios de escolha dos municípios onde vão atuar, e até mesmo morar, também a proximidade com a Capital. 

Não por acaso, Mauá, que passa por momento tenso tanto econômico – a vice-prefeita e então prefeita interina decretou, em 6 de julho, estado de calamidade financeira – quanto político –, tendo em vista que o prefeito Atila Jacomussi (PSB) já foi preso (e liberado) duas vezes desde maio do ano passado e responde a processo de impeachment na Câmara Municipal –, tem o maior número vagas do Mais Médicos em aberto. São nove dentre as 13 do Grande ABC.

Em São Bernardo, na UBS (Unidade Básica de Saúde) Ferrazópolis, a experiência do ginecologista Pedro Gregori, 72 anos, contrasta com o ainda curto período de profissão do generalista Jean Carlo Oliveira, 29, que aguarda pela aprovação para residência – pretende se especializar em oftalmologia. Gregori estava aposentado quando o governo cubano anunciou o fim da parceria com o Brasil. “Estávamos morando no Interior, mas minha esposa queria voltar para a região. Me incentivou a fazer a inscrição e deu certo”, comemorou.

Gregori já havia atuado como ginecologista em UBSs do Grande ABC e, agora, encara o desafio de ser médico de família. “Tenho me dado bem na forma de atendimento, baseado na minha experiência de vida. Trato o paciente como alguém da minha família e tenho me sentido bastante adaptado”, afirmou o profissional, que está na unidade desde dezembro. “Me sinto começando de novo. O programa (Mais Médicos) é fantástico, merecia ser expandido. A rede de São Bernardo é bem estruturada, somos privilegiados”, completou.

A estrutura da cidade também foi o que atraiu Oliveira, que se formou em Lima, no Peru, e conta com autorização para clinicar no Brasil desde 2016 – já atuou em Brasília e em Rio Branco, no Acre. O jovem tentou ingressar no Mais Médicos anteriormente, mas só conseguiu em novembro, com a saída dos cubanos e a oferta de 8.000 vagas em todo o País – 77 no Grande ABC. A indicação de amigo, que já havia trabalhado em São Bernardo, foi fundamental para a escolha da cidade. “Pretendo ficar esses três anos do contrato e, após a especialização, seria uma alegria voltar à rede”, afirmou.

Há cerca de um mês na USF (Unidade de Saúde da Família) Cipreste, em Santo André, Frederico Custódio, 27, se interessou pela atenção básica durante a graduação em medicina na Unicamp (Universidade Federal de Campinas). “Fui me atraindo por esse contato mais próximo com o paciente e, nos últimos dois anos, já havia decidido tentar ingressar no Mais Médicos para ter essa experiência”, relatou. A escolha por Santo André se baseou nos bons indicadores de saúde e na proximidade com São Paulo. “Tem sido fantástico. Aqui posso fazer promoção e prevenção, conversar com as pessoas sobre a saúde global, não só a física. Fazer uma conversa e não apenas uma consulta”, concluiu.

População das cidades aprova a troca de profissionais

Cubanos, brasileiros, peruanos. A nacionalidade pouco importa. O que as pessoas querem é poder ser atendidas na unidade de saúde mais próxima da sua casa. Essa é a avaliação da coordenadora da atenção básica de Santo André, Claudia Nemur Moreira. “Claro que com a saída dos cubanos houve o rompimento de vínculos, eram profissionais muito bem aceitos, mas o que o morador quer é ser atendido, ser acolhido, por quem quer que seja.”

A dona de casa Leidiane Souza, 20 anos, cadastrada na USF (Unidade de Saúde da Família) Cipreste, em Santo André, concorda com a gestora. A jovem já foi atendida por médica cubana (a generalista Emarilis Carbonell) e, na última consulta, trocou a receita do anticoncepcional com o profissional recém-chegado por meio do programa Mais Médicos, Frederico Custódio, 27. “No começo havia dificuldade com o idioma, mas o atendimento era muito bom. E agora não foi diferente. O médico foi atencioso e eu gostei bastante”, afirmou.

A dona de casa Aritana Almeida, 32, aguarda pela consulta com o médico na USF Cipreste, agendada para março. “Os pacientes sentiram a saída da doutora Emarilis, mas estamos na expectativa de que o novo médico seja tão bom quanto ela”, pontuou.

Paciente da UBS (Unidade Básica de Saúde) Ferrazópolis, em São Bernardo, a doméstica Sueli Lopes, 40, foi atendida pela primeira vez pelo generalista Jean Carlo Oliveira, 29. A munícipe afirmou que não ficou apreensiva com a saída dos cubanos do País, pois avaliou que seriam substituídos por profissionais tão bons quanto eles. Na unidade em questão, não havia cubanos, mas a abertura de vagas em todo o País resultou na saída de dois profissionais. “Gostei bastante do médico, achei muito atencioso”, avaliou.

Coordenadora da unidade de saúde de São Bernardo, Raquel Silva, 44, acompanhou a chegada e saída dos cubanos da cidade e destacou a importância daqueles profissionais. “A população aceitou muito bem, eles tinham um diferencial de acolhimento. Para as pessoas, ficou mais um sentimento de tristeza do que de revolta”, apontou.




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