Setecidades Titulo Terceira idade
Namoro é fonte da
juventude e ajuda a
evitar a depressão

Novos e antigos casais que passaram dos 60 anos garantem: ficar sozinho não dá

Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
09/06/2013 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Que dois para lá, dois para cá, que nada! Os namorados que gostam de dançar às sextas-feiras no Grupo de Convivência da Terceira Idade Força Viva, em Santo André, aproveitam seu dia, comemorado na quarta-feira, para celebrar ao som do bolero ao forró. E fazem um brinde ao namoro na terceira idade, que espanta a solidão e a depressão e age como fonte da juventude.

Iracema Silva Campos, 73 anos, e Francisco Franco, 74, que o digam: são namorados há 12 anos. “Se casar, estraga”, brinca Iracema. Cada um mantém sua casa, mas dividem a pista de dança da associação toda sexta-feira. “Nos conhecemos dançando, e vamos dançar até morrer”, diz Francisco.

Claudete Caslini e Ivan Carlos Spercel, ambos de 69, são os ‘namoridos’ do bolero há dois anos. “Dançar e namorar são as melhores coisas da vida”, garante Claudete, antes de sair rodopiando pela pista.

Há quem tenha transformado ali o namoro em casamento, caso de Maria Aparecida Canabrava, 72, e Geraldo Toshiyuki Miagava, 65. Foi em 2010 que amigos em comum uniram esse casal fã de samba, chorinho e forró. Há um ano, resolveram oficializar a união no civil.

Além da música, presente não só no baile, mas no dia a dia do casal, que vive com o rádio ligado, gostam de viajar. “A vida tem de ser um eterno namoro. Ficar sozinha é que não dá. Depois que os filhos vão embora, a gente reaprende a aproveitar, e é bom ter alguém ao lado para compartilhar esses momentos”, garante Maria Aparecida, que tem três filhos e cinco netos do casamento anterior.

Geraldo também é categórico ao dizer que o namoro espanta a solidão. “Achei a minha ‘veinha’. Agora, não largo mais”, brinca.

Lúcia Amaral Lauer, 71, e João Lauer, 84, também se conheceram num baile em São Caetano e estão juntos há 29 anos. Ela o escolheu na dança da bandeirinha, quando as moças trocavam de pares entregando bandeiras coloridas umas às outras. “Ele também me deu a primeira rosa da valsa”, Lúcia lembra de outro costume da época.

Mesmo recém-operado do coração, João não deixa de frequentar bailes e arriscar passos com seus sapatos pretos meticulosamente engraxados.

TELURITA

De chapéu branco e colete marrom, João Siqueira, 85, o seo Loló, conduz Maria Madalena Siqueira, 82, a dona Nena, pelo baile da vida há 62 anos. “Vamos ficar juntinhos nesse Dia dos Namorados, como sempre fizemos. Comemorar os nossos três filhos, cinco netos e a bisneta, uma vida plena”, afirma dona Nena.

Seo Loló tem na ponta da língua o segredo para completar bodas de telurita (pedra preciosa semelhante ao diamante): “Nossa vida é um eterno namoro.” Está aí a fonte da juventude que fez com que passassem dos 80 ainda capazes de dançar cinco músicas seguidas pelo salão.

SEM NAMORO

“A gente dança, mas namorar não quero, não. Os homens não querem assumir responsabilidades.” O discurso de Therezinha Gutierrez Rodrigues, 75, parece-se muito com as reclamações das moças de 20 e poucos anos. Até na terceira idade, ‘ficar’ é moda. “Gosto de dançar, mas não vou dividir com gente que não vale a pena o que meu marido deixou”, diz Antonia de Andrade, 77, viúva há cinco anos.

“Não namoro porque namorar divide, e nasci para somar. Não me afasto das amigas”, diz Neusa de Oliveira, 68, prova de que o convívio social por si só também dá um chega para lá na solidão, muitas vezes comum na terceira idade.

É preciso falar sobre sexo com o idoso, garante especialista

Namorar traz diversos benefícios ao idoso, entre eles voltar a sonhar. “Quem sonha faz planos, se cuida melhor, procura o médico quando fica doente e adere mais ao tratamento. Além disso, sentir-se amado faz com que o idoso fique menos exposto ao risco de doenças como a depressão”, garante a enfermeira especializada em gerontogeriatria da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) e coordenadora do Ambulatório de Gerontogeriatria no Centro de Saúde-Escola Capuava, em Santo André, Ana Paula Guarnieri.

Apesar dos benefícios, é importante que a terceira idade receba orientação sobre sexualidade, principalmente por parte dos médicos. “O preconceito prejudica o idoso, porque como ele não está na idade fértil, supostamente não faz sexo, o que não é verdade.”

Para Ana Paula, esse é um dos fatores que levam os mais velhos ao risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis. “A terceira idade de hoje viveu em uma época em que o uso do preservativo não era comum. Por isso, precisa ser orientada”, garante.  




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