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Projeto celebra cinco décadas de concretismo
Por Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
09/06/2002 | 18:11
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As 50 velas do aniversário da arte concreta paulista serão acesas esta semana no Ceuma (Centro Universitário Maria Antonia), em São Paulo. O projeto que celebrará o cinqüentenário, intitulado Arte Concreta Paulista, foi dividido em duas etapas. A primeira começa nesta quinta-feira (dia 13), com entrada franca.

O projeto conta com uma “revisitação” à mostra do Grupo Ruptura no MAM-SP (Museu de Arte Moderna de São Paulo), realizada em 1952 e ponto de partida do concretismo no país, com uma individual de Antônio Maluf (leia mais na página 2) e com uma pequena exposição de poemas visuais do também concretista Augusto de Campos.

O abstracionismo começou a mostrar a cara no país entre os anos 40 e 50, num período em que São Paulo presenciou uma efervescência cultural. Durante as duas décadas foram criados museus, a Bienal de São Paulo, o TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) e a Cia. Cinematográfica Vera Cruz, em São Bernardo, por exemplo.

Ruptura – Nesse contexto, em dezembro de 1952, sete jovens artistas causaram rebuliço em São Paulo ao apresentar obras pautadas pelo geometrismo. Era o Grupo Ruptura.

O andreense Luiz Sacilotto, 78 anos, foi um dos fundadores do Ruptura, grupo que apresentou novas propostas estéticas no MAM-SP. “A exposição teve grande repercussão, com direito a abertura concorrida. Alguns fizeram vistas grossas às nossas propostas, outros aceitaram”, afirma Sacilotto.

Não à toa houve gente que não gostou. Até então, era predominante no Brasil a arte figurativa. A abstração (na qual se encaixa o geometrismo construtivo do Ruptura) começava a colocar as mangas de fora. Quase tudo que é novo incomoda e dá o que falar.

Participaram do grupo, além de Sacilotto, Waldemar Cordeiro, Geraldo de Barros, Lothar Charoux, Anatol Wladyslaw, Kazmer Féjer e Leopoldo Haar.

Agora, o “espírito” da histórica exposição poderá ser conferido no Ceuma (tel.: 3255-5538). “Chamamos a mostra de revisitação, porque seria impossível remontá-la tal qual foi. Na época, eles não fizeram catálogo, nem lista de obras. O Sacilotto e o Wladyslaw, os únicos que estão vivos do grupo, não se lembram do que expuseram. O que tivemos foi uma foto da exposição e depoimentos de especialistas”, diz a curadora Rejane Cintrão.

Por conta dissom, serão exibidos sobretudo trabalhos de 1952, ano da exposição. “O importante é que a mostra segue o conceito do Ruptura e que os visitantes entenderão a proposta do grupo”, afirma Rejane.

Os nomes de Sacilotto, Cordeiro e Barros estão representados cada um por seis pinturas. Charoux e Wladyslaw figuram com três obras cada. De Féjer, há quatro esculturas da década de 70, mas que seguem projetos dos anos 50. Já de Haar, apenas duas imagens de esculturas: “Ele fazia trabalhos frágeis e tudo se perdeu”, diz a curadora.

“O movimento concreto é mais importante para a entrada e desenvolvimento da arte moderna no país do que a Semana de 22. A Semana foi restrita e limitada. Já o concretismo nasceu em uma época de transformação de São Paulo, um período em que se criava um sistema em torno da arte”, afirma Lorenzo Mammì, diretor do Ceuma e idealizador do Arte Concreta Paulista ao lado de Tadeu Chiarelli e Alberto Tassinari.

Poemas – Quem for ao Ceuma poderá ver também uma pequena mostra de nove poemas visuais de Augusto de Campos, feitos em homenagem a artistas do movimento, como Sacilotto, Barros e Hermelindo Fiaminghi.

“Pela primeira vez é exposto todo esse conjunto. Deles, três são inéditos. Cada poema dialoga formalmente com a obra do respectivo artista, isso por meio dos recursos gráficos e de cor empregados na elaboração dos poemas”, diz Lenora de Barros, filha de Geraldo de Barros, responsável pela curadoria desta mostra junto de João Bandeira.

Parte II – A continuação do Arte Concreta Paulista ficará para agosto e contará com uma mostra da produção fotográfica de Waldemar Cordeiro e com outra sobre o Grupo Noigandres, de Décio Pignatari e dos irmãos Campos (Augusto e Haroldo), que lançaram revista homônima em 1952. O Noigandres é a origem da poesia concreta.

Paralelamente, a editora Cosac & Naify lançará cinco livros. Grupo Ruptura e Antônio Maluf saem na quinta. Grupo Noigandres, Waldemar Cordeiro e uma coletânea de documentos e artigos sobre a arte concreta paulista ficam para a segunda fase do evento, que é patrocinado pela Petrobras.




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