Política Titulo Presidência em 2018
‘Não sei se Lula será candidato’

Presidente nacional do PT, Rui Falcão apontou que não sabe se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será o candidato da legenda na corrida presidencial de 2018, não por força do partido, mas motivação de adversários políticos

Por Leandro Baldini
Do Diário do Grande ABC
20/06/2016 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Presidente nacional do PT, Rui Falcão apontou que não sabe se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será o candidato da legenda na corrida presidencial de 2018, não por força do partido, mas motivação de adversários políticos. Foi categórico em afirmar que existe grande esforço para inviabilizar politicamente o ex-presidente. Avaliou que esse movimento, sem citar nomes diretamente, é praticado pela alta aceitação de Lula junto aos eleitores, citando pesquisas de intenções de voto para eleição presidencial.

Sobre o processo de impeachment, que afastou a presidente Dilma Rousseff (PT) do cargo por até 180 dias, Falcão declarou que a condução do rito foi um “golpe”, detalhando que a correligionária não cometeu nenhum crime de responsabilidade. Admitiu que todo o episódio desgastou a imagem do petismo, porém se mostrou otimista para o futuro.

O petista proferiu inúmeros ataques ao presidente interino Michel Temer (PMDB), a quem chamou de “conspirador e usurpador”. Garantiu que a democracia foi ferida, responsabilizando o peemedebista pelo afastamento da sociedade com a política. “Independentemente de gostar ou não da presidente precisamos repor a questão democrática no País”, discorreu. Confira abaixo entrevista completa.

Após o período da maior crise institucional do PT, como sr. avalia imagem do partido atualmente?
Eu vi agora pesquisa de preferência partidária. Evidentemente que tivemos declínio (de aceitação) nos últimos anos. A maioria da população não está ligada nos partidos. Porém, entre quem tem opção partidária, nós atingimos o patamar de 1982 (de recém-criação; PT foi fundado em 1980) e as demais siglas também. O estudo foi elaborado pela CUT (Central Única dos Trabalhadores) junto com o instituto Vox Populi e o PT registrou 12% (de preferência). Somados, PMDB e PSDB não alcançam nosso resultado. Então me dá expectativa de um bom resultado eleitoral.

O partido pretende lançar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na corrida presidencial de 2018, apostando em sua aceitação junto a algumas camadas da sociedade para ajudar na recuperação da imagem do partido?
Ainda não sabemos se ele será nosso candidato. Há uma grande movimentação, um golpe, para tentar inviabilizá-lo e mesmo assim as pesquisas de intenções de voto (para corrida presidencial de 2018) o colocam como o primeiro colocado. Nós acreditamos que antes de pensar na candidatura do presidente Lula tem uma questão importante para o País, que é a defesa da democracia. Nós demoramos muito para conquistá-la. Muita gente morreu, foi torturada e exilada. Hoje existe uma consciência nacional de que precisamos ser mais democráticos. Ora, tirar o mandato de quem foi eleito (no caso da presidente afastada Dilma Rousseff, PT) de forma espúria, sem que comprove nenhum crime de responsabilidade, é uma afronta à democracia. Independentemente de gostar ou não da presidente, precisamos repor a questão democrática. A essa reposição se exige a volta da Dilma. Isso está ganhando as ruas, com a defesa de muitas pessoas. Só não pode tirar 54 milhões de votos por um Congresso, cuja representatividade é duvidosa. O espetáculo de horrores que vimos naquele dia 17 de abril (quando a Câmara dos Deputados aprovou o andamento do processo de impeachment de Dilma) envergonhou o País no Exterior.

O sr. acha que há possibilidade de reversão do impeachment de Dilma no Senado?
Tem muita dúvida entre os senadores. Muitos votaram para prosseguir o processo (de impeachment). Nós queremos ver provas. E as pessoas agora estão ficando preocupadas. Porque prometeram tirar a Dilma para acabar com a (Operação) Lava Jato, que tem domínio autônomo. Primeiramente era o PT, mas depois atingiu os outros partidos também. Não sabemos onde isso vai parar. Denúncias e delações que se seguem. Agora estão implicando até com o presidente ilegítimo (presidente interino Michel Temer, PMDB), conspirador. Ele desmente, aí vem um delator e confirma. São acusações graves. Nós queremos que haja apuração, embora respeitando os direitos fundamentais, como direito à defesa, habeas corpus. Coisa que vale para o PT. Acho que deveria permanecer no País. Delação só não é prova. Mas para o nosso partido delação é suficiente para colocar nosso povo em dificuldade. Para eles, não. Queremos que se respeitem as garantias. Contudo, as denúncias vão se sucedendo e mostram que é necessária uma reforma política profunda. Mudar os costumes políticos.

Essa tendência que o sr. diz, de otimismo ao PT, será sentida nos pleitos de outubro?
A eleição municipal terá muitos critérios ainda da velha política. A vantagem é que não haverá o financiamento empresarial. Não colocaram nada no lugar. Precisava ter feito (colocar alternativa de financiamento). Para 2018, as regras eleitorais precisam mudar. Porque se não vamos ter repetição desta coisa vergonhosa que faz o povo ficar descrente da política. Não só dos políticos, mas da política. E toda vez que uma sociedade abandona a política, o risco é a democracia ir junto.

Para o sr., como a sociedade analisa e discute a política no País?
Hoje há todo um desencanto. Pois o eleitor vai lá e elege alguém. Depois vê que está envolvido em uma série de falcatruas, tem como pensamento imediato de que está jogando seu voto fora. É preciso dar outra dimensão à política. Envolver mais gente, como a juventude, que está indo bastante para as ruas, as mulheres, que fizeram manifesto contra um ministério que só tem homem, só branco.

Em qual momento o sr. julgou que PMDB iria romper com o governo da presidente Dilma?
Comecei a sentir conspiração quando ele (Temer) entregou aquela carta. Disse ser figura decorativa e começou naquele momento a oferecer opção diferente de programa para o País, que não era o mesmo do que ele tinha sido eleito. Então, é um vice-presidente que começou a conspirar contra a sua colega de chapa. Isso é uma indignidade. Lembro o ex-vice-presidente José Alencar (entre 2003 e 2010 e morto em 2011). Fazia críticas à política de juros, queria mudanças neste aspecto. Mas, a primeira vez que houve uma tentativa de tirar o Lula (da Presidência), que foi o episódio da ação penal 470 (o Mensalão), ele disse: ‘Não contem comigo; eu entrei junto com ele, vou sair junto’. Essa foi a sua postura. Agora, o usurpador (Temer) conspirou com aquela que lhe deu projeção, porque nunca foi bom de voto. Em sua última eleição (cargo de deputado federal, na eleição de 2006) foi quase que na caneta. Ele foi projetado, representava a presidente no Exterior. Teve sua eleição renovada (em 2014, como vice) e depois passou a conspirar com a companheira de chapa. Isso vai além de questão política, é de caráter pessoal.

Como o sr. prevê a continuidade do governo do presidente interino Michel Temer, que após um mês teve a troca de três ministros, Romero Jucá (Planejamento), Fabiano Silveira (Transparência) e Henrique Eduardo Alves (Turismo)?
A cada dia as coisas novas vão acontecendo depois do golpe ocorrido. Só trouxe prejuízo ao País, há uma crise sem tamanho. Três ministros já caíram em um mês por denúncias de corrupção. A presidente Dilma ganha popularidade agora. Há pesquisas, no Nordeste, inclusive, mostrando que a maioria da população é contra o impeachment. As medidas apresentadas não ajudam a resolver problemas da crise. Ao contrário. Agravam ainda mais.

O sr. acha que a eleição de outubro será o termômetro para medir popularidade do PT após essa turbulência institucional?

Existe tentativa grande de criminalizar o PT, a esquerda, os movimentos sociais. Nós estamos nos defendendo. Mostramos que as doações eleitorais feitas ao PT são quase idênticas às feitas ao PSDB e PMDB. As nossas são todas legais. O nosso partido tem milhares de filiados pelo País, que estão se movimentando e defendendo a democracia. Vamos sair deste episódio de crise como saímos das outras vezes, quando disseram que acabariam com a nossa raça. E, na verdade, quem estava acabando eram eles (oposição). Tenho confiança em nossa militância, na população brasileira. Vamos passar por isso e ficar em uma situação bem mais favorável. Estou otimista para os pleitos municipais (de outubro), mas não triunfalista. O que vejo é muita garra da nossa militância, atrelada a uma exigência maior da nossa sociedade perante aos nomes colocados. Temos legado e pessoas capazes de conseguir agregar adesão necessária para êxitos.
 




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