O olhar masculino sobre o conceito de beleza feminina. O tema, que parece mais coisa de seminário acadêmico, foi um dos desafios que as mulheres do Diário fizeram a nós, homens da Redação, neste caderno Dia-a-Dia especial sobre o Dia Internacional da Mulher e que coube a mim explorar. Não busquei entrevistar especialistas. Procurei homens comuns, maridos, pais ou filhos, num ambiente descontraído, para falar desse conceito que aflige toda a coletividade feminina.

Sábado pós-Carnaval, na piscina do clube lotada. Famílias se divertindo e, claro, mulheres de biquíni de todas as idades e homens escondidos atrás de seus óculos escuros, reparando em tudo. À mesa disputando um lugar embaixo do guarda-sol, cinco senhores na faixa dos 40 anos, pouco mais ou pouco menos. Uns casados, outros separados. Nada foi combinado. Falei de nosso desafio e, entre um gole de cerveja e outro, começamos a conversa.

Difícil foi fazer dela coisa séria. E essa foi a primeira pista de que não seria fácil tirar a verdade do grupo. Nós, homens, criamos padrões de comportamento e nos escondemos atrás deles para evitar exposição.

Qual é a mulher mais bonita do Brasil? Um diz Juliana Paes, outro Ellen Roche. Nossa, demais. E no Carnaval então? Vocês viram aquela Iris Stefanelli, que era do Big Brother? Estava demais! Pô, tá louco, nos desfiles das escolas de samba parecia que só tinha travesti desfilando. As mulheres com uns peitões de silicone, com as pernas duras e barriga tanquinho. Elas estão exagerando.

Epa! Começamos bem. Anotei a frase e pesquisei sobre o tema. Descobri que a ciência comprova que o conceito masculino de beleza feminina é muito semelhante ao dos homens das cavernas, pouco alterado pela evolução da sociedade. Sentir-se atraído por mulheres de quadris largos, cintura fina, pele macia tem fundo biológico. O instinto indica que a mulher com tais características tem a probabilidade de ter filhos mais saudáveis. Ninguém pensa nisso quando vê uma mulher bonita, mas, enfim, é o que os estudiosos dizem a respeito da atração sexual. Peito de bola não é natural. Pernas e barrigas musculosas são coisas de homem. Por isso, a preferência pela Juliana Paes, Ellen Rocche e outras do tipo.

De volta à mesa. Piadas, mudança de rumo no papo e eu retomo o assunto com um tema clássico, a celulite. De bate-pronto, já sai uma frase feita: "Celulite é um problema oftalmológico feminino. Elas veem em todo lugar". O mesmo comentário se aplica para as estrias. Claro que elas são vistas, mas para os homens não têm tanta importância, salvo casos patológicos.

Nisso passa na nossa frente uma mulher que certamente tinha mais de 40 anos. De biquíni, sandália com salto, queixo empinado, andar cheio de ginga. Estávamos falando de estrias e celulite. E ela tinha as duas e já não era uma menina. Mesmo assim, chamou a atenção de todos. "Que beleza de coroa..."

Mais uma vez, fui à internet para encontrar explicações sobre o nosso comportamento. Encontrei conceitos de "perda de objetividade" e "beleza expandida". Grosso modo, quer dizer que as atitudes se misturam ao fisicamente belo. Uma pessoa bem-humorada, que aparenta felicidade, é vista como mais bonita. Uma mulher com postura, atitude, apesar de não ser jovem, ter estrias e celulite, acabou chamando atenção por sua beleza.

Papo-cabeça à parte, voltemos à mesa. Esposas e filhos aparecem e atravessam a conversa. Com elas por perto, pinta a questão "gordurinhas a mais". Unanimidade na mesa: mulheres que dizem estar gordas nunca estão para o olhar masculino. "Quem gosta de mulher cabide é costureiro". E tem mais. Quem está gorda mesmo não comenta isso, pelo menos perto dos homens.