Turismo Titulo Bom humor
O que guia Salvador
Michele Loureiro
Enviada a Salvador
05/03/2009 | 07:00
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"Em Salvador, quando não é festa é ensaio. E quando não é ensaio, é ressaca. Tudo gira em torno das festas." É assim que os guias turísticos da cidade definem o local. Com um clima de alegria o ano todo, a cidade reúne o bom humor em tempo integral.

Mas é preciso admitir que sem a presença dos guias turísticos, o passeio não seria tão agradável. Com as histórias na ponta da língua, os profissionais do turismo são um patrimônio à parte.

Edson Jorge Alcântara, conhecido como Neguinho, é uma das figuras que, com certeza, fazem a visita a Salvador valer ainda mais a pena. Aos 28 anos, Neguinho atua como guia desde os 5 anos. "Minha alegria é essa, fazer propaganda da minha terra", explicou.

Com certeza a história de vida do guia tiraria o sorriso de muita gente. "Fui criado na rua, poderia ter me tornado um delinquente, mas optei pela dignidade. Não frequentava a escola porque precisava trabalhar. Aprendi a escrever o meu nome com uma senhora que me dava comida. A cada acerto com as palavras eu ganhava um gibi. Minha maior alegria foi quando consegui ler um livro inteiro", lembrou emocionado.

Neguinho é poliglota. Sem nunca ter frequentado sequer a escola normal, fala inglês, italiano, francês e espanhol.

"Aprendi com os próprios turistas. Não sei se minha pronúncia é a mais correta, mas todos me entendem", contou, modesto.

Na verdade, pode ser que haja algumas palavras que saiam engasgadas, com dificuldade, mas o brilho no olhar compensa, faz valer.

Neguinho é guia turístico em Itaparica, uma das ilhas da Baía de Todos os Santos. No trajeto que dura uma hora, o guia conta a história do local e mostra pontos importantes.

O passeio custa R$ 10, mas vale muito mais pela simplicidade, envolta de muita cultura que Neguinho transmite.

Além desse personagem que é a cara de Salvador, em Itaparica também vive dona Marta. Aos 82 anos, a espanhola, que mora no local há 50, produz e vende aquarelas com paisagens da cidade e arredores.

Por R$ 30, o turista leva para casa uma pintura do local e um pouco do amor que move dona Marta.

Histórias de quem sabe viver

De sol a sol. Diariamente, entre as 11h e 14h, 11 ambulantes andam pela praia da Ilha dos Frades, uma das 56 ilhas da Baía de Todos os Santos.

Há 21 anos, Eliana Pinheiros ganha a vida no local. "Criei meu filho de 11 anos vendendo cangas. Em dias bons consigo ganhar cerca de R$ 150. Porém, há vezes em que não vendo nada", explicou.

Eliana mora em Salvador e todos os dias faz o trajeto até a Ilha dos Frades, que dura cerca de 1h30. "Esse é o principal problema, cerca de 40% do que eu ganho fica na passagem", lamentou.

A Ilha dos Frades não tem habitantes e sua única atividade acontece entre as 11h e 14h, pois é o horário em que a escuna chega com os turistas. "Esperamos ansiosos a chegada deles. Por incrível que pareça vendemos mais no inverno, pois é a época em que os estrangeiros mais visitam Salvador", destacou Eliana.

O principal desejo de Eliana e dos outros dez ambulantes que trabalham na ilha é conseguir comprar um barco. "Seria fantástico, mas infelizmente nosso dinheiro não dá para isso. Se conseguíssemos, nosso salário aumentaria e não pagaríamos mais condução", almejou.

Assim como ela, Antônio Jorge da Silva dos Santos, o Cocota, trabalha na Ilha dos Frades. Ele confecciona e vende bijuterias. "Complemento minha renda com a pesca. É uma vida muito sofrida, mas, ao mesmo tempo, a bela paisagem e o sorriso no rosto ajudam a amenizar qualquer princípio de tristeza", desabafou.

Cocota diz que em dias bons consegue vender até R$ 250. "Para aumentar as vendas aprendi espanhol e italiano. Assim faço os clientes me entenderem."




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