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Conversa na Varanda - revolucionários do sexo I
Especial para o Diário
09/03/2008 | 07:02
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O comportamento sexual evolui após as vanguardas apontarem tendências e arriscarem novos caminhos. Hoje e nos próximos dois domingos, vamos falar de algumas pessoas que contribuíram de forma decisiva para a mudança das mentalidades em relação ao sexo.

Sigmund Freud  (Áustria – 1856-1939)

 Wilhelm Reich (Galícia, hoje parte da Hungria 1897-1957)

Antes deles as idéias sobre inconsciente, sexualidade infantil, orgasmo e repressão, entre muitos outros temas ligados ao sexo, eram mínimas ou sequer existiam. Pior, eram distorcidas por preconceitos e tabus. Freud e Reich, em diferentes posições, mas com semelhante potencial revolucionário pensaram o sexo como nunca antes alguém havia ousado.

Sigmund Freud, médico vienense, foi o criador da psicanálise. Um dos pontos mais decisivos de sua teoria é a importante modificação que ela trouxe à noção de sexualidade. No final do século 19, havia um consenso no mundo médico e científico: a normalidade sexual era definida pela sexualidade genital do adulto, limitada à consumação do ato sexual, com fins de reprodução. No início do século 20, Freud colocou por terra as concepções sexuais anteriores, ao considerar os desejos da criança como sexuais.

A sexualidade, segundo ele, não se limita à função dos órgãos genitais e desperta muito cedo, logo após o nascimento. Uma série de excitações e de atividades, presentes desde a infância, proporcionariam prazer. A denominação sexual foi estendida às atividades da primeira infância em busca de prazeres locais que este ou aquele órgão é suscetível de proporcionar, designando para a psicanálise um conjunto de atividades sem ligações com os órgãos genitais, não se devendo, portanto, confundir o sexual com o genital.

Wilhelm Reich, também médico, foi discípulo de Freud. Ele considera que as enfermidades psíquicas são a conseqüência do caos sexual da sociedade, já que a saúde mental depende da potência orgástica, isto é, do ponto até o qual o indivíduo pode se entregar e experimentar o clímax de excitação no ato sexual. Para ele, o homem alienou-se a si mesmo da vida e cresceu hostil a ela. Sua estrutura de caráter – refletindo uma cultura patriarcal milenar – é encouraçada, contrariando sua própria natureza interior e contra a miséria social que o rodeia. Essa couraça de caráter seria a base do isolamento, do desejo de autoridade, do medo à responsabilidade, do anseio místico e da miséria sexual.

Reich tinha total convicção da importância do orgasmo para a saúde física e mental, bem como para evitar as neuroses. A partir da observação de seus pacientes, concluiu que aqueles que passavam a estabelecer relações sexuais mais prazerosas apresentavam melhora do quadro clínico. Baseado nisso, Reich desenvolveu a teoria do orgasmo, na qual somente a satisfação sexual intensa consegue descarregar a quantidade de libido necessária para evitar a formação de acúmulo de energia, gerador da neurose.

Herbert Marcuse (Alemanha – 1898-1979)

Ainda nos anos 1930, Herbert Marcuse já considerava, a exemplo de Reich, a repressão sexual como uma das características mais importantes da ordem social exploradora. Sua crítica do dualismo ocidental enfatizou não só a miséria econômica, mas também a miséria sexual perpetuada pela noção de pecado.

Segundo Marcuse, o embotamento da sensualidade resulta na atrofia e embrutecimento dos órgãos do corpo humano. Além disso, Marcuse acentuou a correlação direta entre a repressão da sexualidade e a erupção da agressão, nas formas mórbidas do terror sádico e da submissão masoquista. A violência é conseqüência da repressão sexual.

Só quando a libido é forte e não-sublimada, só quando se permite à sexualidade ser livre, tanto quantitativamente no sentido de uma vida sexual mais intensa, como qualitativamente, como uma sexualidade mais variada, só nessas condições é que a agressividade e destrutividade geradas pela repressão podem ser reduzidas.

Alfred Kinsey

(EUA – 1895-1956)

A importância revolucionária desse biólogo norte-americano para o estudo da sexualidade é que ele era apaixonado cientista. Tornou-se o primeiro homem a olhar para a raça humana como quem olha para um formigueiro, tentando entender o funcionamento de nossos processos eróticos.

Ao observar o ser humano como objeto da ciência, Kinsey foi rigoroso. Seu primeiro projeto era ouvir 100 mil pessoas num estudo de 20 anos de duração. Milhares de mulheres reprimidas e retrógradas reclamaram dos resultados dele. Kinsey perdeu os financiamentos e a saúde. Seu coração dava sinais de esgotamento e seu próximo projeto, sobre pervertidos sexuais, não encontrou quem o bancasse. Aos que reclamavam de suas conclusões ele respondera: “Esta pesquisa analisa o que as pessoas fazem e não o que deveriam fazer”.

Regina Navarro Lins, psicanalista e sexóloga, é autora de O Livro de Ouro do Sexo (Ediouro). E-mail para a coluna: rlnl@uol.com.br. Site: www.camanarede.com.br



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