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Lotações clandestinas dominam ruas de Mauá
Camila Galvez e Renan Fonseca
02/06/2011 | 06:15
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"Aqui Jardim Zaíra 4, quem vai?". Esse era o grito que mais se ouvia ontem, nas proximidades da estação de trem de Mauá. Peruas, kombis e até carros de passeio dominaram as ruas nas quais os ônibus não circulavam devido à greve, que atingiu 100% da frota na cidade.

Os destinos eram variados: jardins Zaíra, Paranavaí, Feital, Oratório e outros. A passagem variava de R$ 3 a R$3,50.

Na manhã de ontem, Ailton Delfino Soares, 36 anos, lotou a van com dez pessoas. Todas desembarcaram próximo ao Mauá Plaza Shopping, pagaram a passagem e correram para o terminal ferroviário. Logo atrás, um Fiat Uno desembarcava mais quatro pessoas que, tão logo pagaram, desapareceram entre a multidão que corria para o trem.

Em seguida, um Chevrolet Ipanema parou no mesmo ponto com mais seis pessoas. Na direção do veículo estava Francisco Assis, 28, motorista de ônibus que aderiu à greve, mas não queria perder o retorno financeiro de um dia de trabalho. "Já fiz duas viagens e pretendo continuar. Nossa situação está difícil, o salário está baixo. Não vou ficar em casa parado, prefiro conseguir um reforço", explicou.

 

CLANDESTINOS

À tarde a situação se repetia. Em um ponto de ônibus da Avenida Barão de Mauá, as vans passavam de minuto em minuto. "É a opção que sobra para gente. Não podia faltar no trabalho, foi meu primeiro dia", disse a auxiliar de serviços gerais Márcia Matias de Souza Rodrigues, 46. Ela precisou pegar duas lotações e trem para chegar em casa.

O casal de aposentados Francisco e Raimunda Soares, 69 e 67, esperavam há quase uma hora uma van que os levasse para o bairro Itapeva. "Só passa para o Zaíra, mas vamos ficar aqui esperando. Não temos condições de ir a pé", contou Francisco.

A dona de casa Maria Lúcia Cabral, 38, optou pelo carro para levá-la à Nova Mauá. "Mas tenho que esperar aparecer mais gente que queira ir para lá", afirmou. Maria precisou ir ao Centro para garantir a consulta do filho Samir, 6. "Se perdesse o médico, sabe Deus quando ia conseguir outra consulta", ponderou.

Os veículos operaram durante todo o dia de maneira clandestina. Algumas vans seguiam com mais passageiros que a lotação permitida e em péssimas condições de segurança, com pneus carecas e lataria amassada. "Melhor isso que ir a pé para casa. Fazemos porque somos obrigados", disse Luiz Pereira, 35, antes de entrar em uma lotação rumo ao Jardim Zaíra 4.

 

Motoristas de táxi ampliam faturamento

 

A greve fez com que a população apelasse para os táxis. Para os motoristas ouvidos pela equipe do Diário, o aumento da demanda foi significativo.

Para a atendente de empresa de táxi em Mauá Renata Santos, o aumento foi de 70%. O período de espera, que é geralmente em torno de dez a 15 minutos, ontem era de uma hora. "Um taxista faz em torno de 12 corridas, mas hoje (ontem) até o fim da tarde já tinha feito 28", contou a atendente. O principal destino era a estação de trem.

Para Roberto Antonio Bonezi, 48 anos, o trabalho foi intenso. "Os carros não pararam no ponto. São 20 veículos e por volta das 16h sempre tem pelo menos quatro parados, mas hoje (ontem) não tinha nenhum", relatou o taxista de São Bernardo, que trabalha no Centro e costuma fazer em média seis corridas. Ontem, dobrou o atendimento. "A maioria dos passageiros foi pega de surpresa e precisou do serviço para chegar ao trabalho."

O motorista de São Caetano Victor Biasi, 59, contou que todos os clientes estavam indignados. "Todos reclamam mesmo, porque a paralisação é um transtorno para quem depende do transporte público", disse. (Bruna Gonçalves)

 

Espera por transporte chega a duas horas em São Bernardo

 

Por volta das 20h de ontem, o ponto de táxi da Rua Domingos João Ballotin, no Centro de São Bernardo, estava abarrotado. Alguns passageiros esperavam há mais de duas horas pela chegada de um carro. A equipe do Diário passou meia hora ali e, neste período, nenhum veículo apareceu. A parada, porém, continuou lotada.

O aposentado Lacídio Pio Pereira, 73 anos, mora na Paulicéia e trabalha como segurança no Centro. "Peguei carona de manhã e agora estou esperando o táxi desde as 18h", afirmou.

Pereira não sabe quanto vai gastar com a corrida. "Quando há ônibus circulando, não pago a passagem, então o prejuízo vai ser grande. Mas preciso trabalhar, então tenho de colocar a mão no bolso para garantir o salário no fim do mês", disse.

A dona de casa Juliana Branco, 24, e a mãe, Ione Branco, 45, foram ao Centro fazer compras. "Quando viemos de Diadema tinha trólebus, e agora não tem mais", lamentou Ione, com o neto Cláudio no colo. Juliana, por sua vez, trazia as mãos cheias de sacola, que carregava com dificuldades.

Ambas desistiram de esperar pelo táxi e seguiram a pé pelo corredor de trólebus, em busca de uma forma de retornar para casa. "Sabe Deus a que horas vamos conseguir chegar", falou Juliana.

A estudante Miriam da Silva, 21, perdeu a prova de estatística na faculdade. "Tentei ir de táxi, mas não adianta, nem isso a gente consegue arranjar no meio desse caos. Agora vou ter que remarcar a data, espero que os professores entendam", reclamou. (Camila Galvez)

 

Prefeituras preparam esquema especial de trânsito para hoje

 

As prefeituras prepararam esquema especial de trânsito para enfrentar o segundo dia da greve de ônibus no Grande ABC. A intenção é minimizar os transtornos causados pela maior circulação de carros.

A Secretaria de Mobilidade Urbana de Mauá ampliou o número de agentes em 50%. "Atuamos com 18 pessoas nos horários de pico", destacou o secretário Renato Moreira.

O trânsito ficou complicado nas avenidas Doutor Alberto Sampaio, João Ramalho, Capitão João com Portugal e Queiroz Pedroso. "Amanhã (hoje), vamos liberar o estacionamento Zona Azul nas ruas da cidade para facilitar a vida da população", destacou.

Em Santo André, 30 agentes circularam pelos pontos mais críticos a fim de orientar os motoristas. Os principais gargalos foram avenidas Giovanni Batista Pirelli, Santos Dumont, dos Estados, Dom Pedro II, Pereira Barreto, Atlântica e Rua General Glicério. O esquema deve ser repetido durante todo o dia de hoje. (Camila Galvez)




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