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Noite de som caipira na livraria Alpharrabio agita Sto. André
Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
05/03/2005 | 16:50
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Há anos eles moram no Grande ABC; dois até nasceram na região. Mas é música com jeito interiorano o que os quatro integrantes do grupo ABC Tangarás mostram em seu primeiro disco, Chão (independente, R$ 10), e no show de lançamento que fazem neste sábado, às 19h30, na livraria Alpharrabio, em Santo André.

O violonista, cantor e principal compositor, Wagner Calmon, 66 anos, explica a origem dessa identidade musical: "Sou de Nova Granada, no interior de São Paulo, e vim para Santo André em 1971. A maior parte dos meus vizinhos são do interior. Então, essa cultura está enraizada, entranhada dentro de nós. Ela não se desprende", diz.

Mara Inês Forato (violão e voz) e Ivan Simões (percussão) são da região. Tehinna Hiran Felix da Silva (violão e voz) mora em Santo André, mas nasceu no Ceará. E é dela a primeira música do disco, Feira Livre – que não remete ao sertão, mas incorpora o espírito caipira: "No pé de serra tem prantado laranjeira/ Mixirica, uva, pêra, pra nóis dois saboreá/ E as donzela/ Todas cheia de fricote/ Dá risada pros frangote/ Qui já qué lhe paquerá..."

As outras faixas são todas de Calmon, com a ressalva de que a última, Sobrevir, engloba a adaptação de um poema de Margarete Schiavinato. "Essas músicas trazem um olhar crítico sobre o sofrimento do lavrador", afirma o compositor. Um bom exemplo disso é Sina de Caboclo: "Machucaro a natureza/ A terra deu pra secá/ O que a gente conseguia/ Dava só pra alimentá/ Foi me dando uma tristeza/ A vontade de chorá/ Um dia pegamo as traia/ Rumamo pra capitá..."

Para Calmon, que ainda costuma viajar para a cidade natal, até o interior hoje está mudado: "Nossa terra está sendo só transformada em dinheiro. Você só vê plantação de cana e laranja. A preocupação é com o combustível. É até triste ver um lavrador indo buscar arroz e feijão no mercado, quando tinha tudo isso na terra".

ABC Tangarás é, segundo Calmon, uma homenagem aos migrantes que vieram tentar a vida e que nem sempre foram bem-sucedidos. Mas é também uma homenagem à região que acolheu tanta gente. "Muitos não sabem, mas tangará é um passarinho que havia muito por aqui e cujas cores principais são azul e vermelho. Aqui em Santo André, essas são as cores do ônibus e do time de futebol, por exemplo".

O CD Chão é o primeiro do grupo, cuja trajetória começou há cerca de quatro anos, época em que Calmon se aposentou como professor de língua portuguesa. Autor de sete livros, sempre foi apaixonado por música, e aprendeu a tocar violão sozinho, aos "20 e poucos anos". "Minha irmã falou, ‘cê tá triste‘. Me deu o violão e disse ‘se vira com ele‘". Nos anos 1970, Calmon já fazia dupla com Mara Inês no Papa de Anjos, tocando os mais diferentes estilos. Tehinna se incorporou ao grupo há cerca de quatro anos; Ivan se agregou recentemente. A empreitada fonográfica é assumidamente despretensiosa. Por enquanto, o que o quarteto quer é cantar a história de gente simples ao público sobretudo da região.

ABC Tangarás – Show de lançamento do CD Chão na livraria Alpharrabio – r. Eduardo Monteiro, 151, Santo André. Tel.: 4438-4358. Entrada franca.




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