A 24ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada ontem pela PF (Polícia Federal), teve como alvo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e sua família. O petista foi levado de carro, por volta das 6h, de sua residência localizada na região central de São Bernardo para prestar esclarecimentos da sede da PF, no aeroporto de Congonhas, em condução coercitiva – quando o investigado é obrigado a depor. Na ação denominada Aletheia (que significa busca da verdade), agentes também fizeram busca e apreensão no imóvel do ex-presidente e de parentes.

Cerca de 200 policiais federais e 30 auditores da Receita cumpriram 44 mandados judiciais – 33 de busca e apreensão e 11 de condução coercitiva – em São Paulo, Rio e Bahia.

Inquérito do MPF (Ministério Público Federal) apontou que Lula recebeu vantagens indevidas de empreiteiras, como um apartamento e reformas em imóveis, além de doações e pagamentos por palestras, que somam R$ 30 milhões, via Instituto Lula (R$ 20 milhões) e empresa Lils Palestras (R$ 10 milhões), que pertence a ele.

“Apesar da dificuldades, o afastamento do sigilo fiscal do Instituto Lula revelou que a origem de recursos financeiros da entidade é, primordialmente, via recebimento de doações e subvenções ou de contribuições de associados. Por essa forma, o instituto, entre 2011 e 2014, recebeu R$ 34,9 milhões. Desse montante, R$ 20,7 milhões, ou seja, cerca de 60%, foram oriundos das construtoras Camargo Correa, Odebrecht, Queiroz Galvão, OAS e Andrade Gutierrez, todas envolvidas nas investigações levadas a cabo na Operação Lava Jato”, descreve o documento. Já a Lils Palestras recebeu 47% do montante, das mesmas empresas e no mesmo período.

O depoimento de Lula durou cerca de quatro horas. Em seguida, foi liberado. Dali, foi à sede do diretório nacional do PT, na Capital, onde fez breve discurso. Depois, dirigiu-se para São Bernardo, onde chegou por volta das 17h, sendo recebido por grande público.

Ainda de acordo com o MPF, a ação de ontem foi deflagrada com objetivo de aprofundar a investigação de possíveis crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, em esquema de desvios de recursos implantado na Petrobras. Diversos endereços ligados a Lula – além de seu apartamento em São Bernardo, a sede do instituto que leva seu nome, no bairro do Ipiranga, o sítio em Atibaia, no Interior, e o triplex no Guarujá, no Litoral – foram visitados por agentes federais.

A promotoria ainda pediu as prisões temporárias de Paulo Tarciso Okamoto, atual presidente do Instituto Lula, Paulo Roberto Valente Gordilho, executivo da OAS, e do ex-prefeito de Diadema José de Filippi Júnior (PT), tesoureiro nas campanhas presidenciais em 2006 (reeleição de Lula) e de 2010 (Dilma Rousseff). As solicitações foram negadas pelo juiz Sérgio Moro.

PF mira imóveis em Atibaia e Guarujá

Além das doações das empresas ligadas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Ministério Público Federal e a Polícia Federal investigam suposto favorecimento ao petista por parte de empreiteiras nos casos de um triplex no Guarujá, no Litoral, e sítio em Atibaia, no Interior.

Segundo as autoridades que estão à frente da investigação, o petista teria recebido da OAS a reforma do apartamento na praia e móveis de luxo no valor de R$ 1 milhão. Foi divulgada foto de Lula visitando o local.

A outra suspeita contra Lula ocorre em Atibaia. No caso, um sítio cuja reforma teria sido paga por empreiteiras. A propriedade tem cerca de 170 mil metros quadrados, o que equivale a 24 campos de futebol, tendo piscina e um lago. O sítio começou a gerar polêmica quando surgiram suspeitas de que a reforma foi feita por consórcio informal de construtoras. O pecuarista sul-mato-grossense José Carlos Bumlai, amigo pessoal do ex-chefe da Nação e que está preso, teria oferecido a revitalização.

As autoridades afirmaram que dois sítios, situados em Atibaia, foram comprados em nome de terceiros, no valor de R$ 1,5 milhão, mas pertencem a Lula.

O Ministério Público e a Polícia Federal investigam ainda o pagamento de serviços, pelo Instituto Lula, que tem benefícios fiscais, à empresa G4, cujo dono é filho de Lula. O instituto teria repassado R$ 1 milhão para a companhia por supostos serviços prestados. A polícia investiga se foram, de fato, realizados.

Vazamento motivou destruição de provas

O procurador da República, Carlos Fernando dos Santos Lima, afirmou ontem que os sucessivos vazamentos de informações sob sigilo da Operação Lava Jato prejudicaram a apuração e podem ter resultado na destruição de evidências.

“O vazamento pode ter originado a destruição de provas e ocultamento de documentos. Nesse momento, vamos apurar todos os vazamentos e identificar os responsáveis”, disse o procurador sobre a nova fase da Lava Jato, chamada Operação Aletheia. “Houve prejuízo à investigação da PF (Polícia Federal)”, afirmou Lima em entrevista coletiva, em Curitiba.

A força-tarefa da Lava Jato investiga também indícios de que a deflagração da operação tenha previamente vazado para jornalistas e blogueiros, o que prejudicou alguns cumprimentos dos mandados pela PF, por se tratarem de ações de alta sensibilidade social.

O sigilo das investigações foi a razão dada pelo procurador para não detalhar os valores precisos dos pagamentos feitos pelas palestras do ex-presidente, que são investigadas. Ao ser questionado, Lima respondeu que palestras são bens imateriais, de difícil valoração, mas que Lula cobrava valores “aparentemente superiores” do que os cobrados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).