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Jd.Silvana tem tradição de moradores solidários

Acinésio Martins, 67, auxilia vizinhos nas horas vagas com pequenos consertos e, sem família, sente-se acolhido por eles

Daniel Macário
Especial para o Diário
21/03/2015 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


Localizado entre o Parque da Juventude – inaugurado como Ana Brandão em 1996 –, e o Cemitério Santo André. Ali está o pequeno Jardim Silvana. Conhecido por reunir em sua área misto de residências e áreas verdes, o bairro é famoso por abrigar moradores solidários. Entre tantas casas e comércios, lá está diariamente Acinésio Martins, 67 anos, conhecido entre os vizinhos como Cinésio.

Natural de Aguaí, interior de São Paulo, o ajudante geral abandonou o trabalho rural e, em Santo André, decidiu construir vida nova. “Conheço todos por aqui, muitos desde criança. São pessoas que acompanhei toda a trajetória, inclusive vi seus filhos nascerem. Aqui formei amigos e uma família para o resto da vida.”

Mas engana-se quem pensa que estamos falando de mulher, filhos e netos. “Sou sozinho. Minha família e amigos são meus vizinhos”, relata Cinésio, que reside de aluguel na Rua Álvaro Moreira, na casa de número 80. Aliás, há 20 anos o morador virou patrimônio do bairro. “Na véspera do Ano-Novo é sempre a mesma coisa. Passo na casa de todos e comemoro a passagem de ano um pouco com cada um. É muito bom ver a consideração que eles têm pela minha pessoa.”

De semblante tímido, cabelos grisalhos – sempre protegidos por boné – o ajudante geral é um trabalhador nato. Se algum morador da região precisa de ajuda, seja para capinar mato, reformar a casa ou fazer a mudança, lá está o Cinésio dando uma força. “Faço qualquer coisa. Trabalho dia e noite. Se quiser, faço as coisas 24 horas por dia. Não gosto de ficar parado, aliás, nem quero. Trabalhar é minha vida”, relata o senhor, que ainda afirma que muitos jovens não têm sua disposição para o batente. “Atualmente estou em uma reforma no Cemitério do Curuçá. Desde então, muitos desistiram por achar pesado. Por dia, chego a ver 12 enterros, sendo que tudo se passa na nossa frente. Muitos não têm estômago para isso, mas eu aguento.”

Apesar de ser tão ativo, o trabalhador ainda não conquistou a tão sonhada aposentadoria. “Meu advogado não consegue validar meu tempo de serviço na roça. Mas acho que, em breve, consigo concluir esse processo.”

Mas isso não desanima o ajudante geral. Quem passa pela bairro à noite, com certeza, irá encontrá-lo sentado em frente a alguma residência. “Quando chego do trabalho, fico na rua fumando meu cachimbo e vendo a movimentação. É minha diversão. Às vezes alguns moradores vêm bater papo comigo. Em outras fico sozinho, acompanhando a chegada dos vizinhos às suas casas. Aqui construí minha história e minha vida. Amo esse lugar.”

Projeto social evangeliza crianças carentes do bairro

Outra que dedica seu tempo para ajudar ao próximo no Jardim Silvana é a evangelizadora Maria Aparecida De Lucca, 55 anos, conhecida pelos vizinhos como Cidinha. Após se mudar de São Paulo para Santo André, a moradora cedeu um espaço de sua casa para abrigar a Fraternidade Espírita Alvorecer que, atualmente, é responsável por evangelizar crianças e jovens, dos 4 aos 18 anos.

“Tudo começou quando trabalhava como telefonista e os gestores da empresa me chamaram para cadastrar crianças carentes do bairro São João, em Mauá, para projeto social. Na época a demanda foi tão grande que chegamos a atender 600 jovens. A Prefeitura teve que ajudar a empresa, cedendo o espaço de uma escola para o projeto. Desde então decidi que queria fazer isso para sempre. Sai do emprego e busquei na fraternidade que frequentava um projeto parecido.”

Atualmente, Cidinha é uma das ‘tias’ que evangelizam crianças na Fraternidade Espírita Alvorecer. “Os encontros são sempre aos sábados. Os jovens são divididos por faixa etária. Buscamos ensinar o básico do evangelho para todos”, revela a moradora, que se emociona ao lembrar das pessoas que já passaram pelo local. “Às vezes penso em parar, mas quando chega o dia de vê-los, me convenço de que é impossível. Muitos dos jovens que vêm para as aulas são filhos de pessoas que passaram por aqui. Outros, quando crescem, dizem não querer parar de vir. É algo que ajuda as crianças carentes dessa região.”

Além da evangelização, o grupo fornece alimentação para os frequentadores aos sábados. “Recebemos doação de um cacho de bananas toda semana. Além disso, temos lanche com frios. Todo encontro são 80 pães.”

Segundo Cidinha, a maior recompensa pela atuação no projeto é ver que muitas crianças mudaram suas vidas. “Eles agradecem até hoje a ajuda. A alegria dessas crianças é gratificante.”

Barbearia antiga guarda as lembranças da vizinhança

Relíquia no Jardim Silvana, a barbearia do senhor José Cassado, 80 anos, virou ponto de encontro do bairro. Quem mora na região com certeza já passou algumas horas sentado na cadeira do local que, atualmente, abriga as lembranças dos vizinhos.

Após trabalhar boa parte da vida na famosa Barbearia Central, em Santo André, seu Zé, como é conhecido, decidiu abrir o próprio negócio e, desde então, não largou mais a profissão e o ponto.

“Quando mudei para cá, muitos dos meus clientes decidiram continuar e optaram por vir aqui cortar o cabelo e fazer a barba. Alguns passam até hoje”, relata o hoje andreense, mas nascido em Vargem Grande do Sul, interior paulista.

Há três anos, após ver muitas pessoas se desfazendo de pertences que não queriam mais, seu Zé decidiu ampliar seu negócio. “Para que não joguem as coisas no mato e prejudiquem a limpeza do bairro, decidi comprar alguns objetos por preços pequenos e depois revender.”

Após o comércio fazer sucesso, o proprietário da barbearia perdeu as contas de quantos pertences possui. “Tem porta, armário, fogão, gaiola de passarinho, televisão antiga, janelas. É muita coisa, mas sempre consigo vender.”

A quantidade de objetos é tão grande que ocupa quase todo o espaço da barbearia. Mesmo assim, o proprietário garante que vai manter o serviço. “Gosto muito do que faço. Tenho clientes fiéis. Não penso em parar.” 




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