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Ford reduz jornada em S.Bernardo
Eric Fujita
Do Diário do Grande ABC
17/08/2005 | 08:41
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A queda das exportações acarretada pelo dólar baixo fez a Ford reduzir de 44 para 35 horas semanais a jornada de trabalho de 800 funcionários do setor de automóveis da fábrica de São Bernardo. A medida foi adotada para ajustar a produção ao desempenho da montadora. As vendas internas não conseguiram absorver a demanda excessiva que seria destinada para o exterior.

Segundo o Sistema Único de Representação – fusão da Comissão de Fábrica e Cipa (Comissão Interna de Prevenção contra Acidentes) –, a providência foi tomada devido a uma revisão para baixo do número de carros exportados para o México. A Ford confirmou a redução, porém não informou onde foi feito o corte do fornecimento.

Por outro lado, a montadora foi mais adiante. Destacou que também houve uma parada da produção de veículos leves por cinco dias na unidade, entre os dias 1º e 5 deste mês, dentro desse ajuste. Na área de automóveis, são montados o Ka, o Fiesta Street e a picape Courier. Atualmente, a unidade local conta com 4 mil trabalhadores.

De acordo com a Ford, a medida está em prática desde o último dia 8 e deverá se estender até o fim deste mês. Até lá, os trabalhadores do setor trabalham de segunda a quinta-feira. O aumento do preço do aço – um dos insumos mais importantes usados na fabricação dos carros – também contribuiu para essa redução.

A iniciativa da Ford dá sinais de que o câmbio já afeta o desempenho das montadoras no Grande ABC com contratos fechados de exportações. A General Motors também havia diminuído a jornada, de 44 para 40 horas semanais, dos empregados de São Caetano e São José dos Campos. Nas duas unidades, a produção caiu de 45 para 40 carros por hora.

Outras montadoras, porém, não acusaram reflexos pelo câmbio desvalorizado e fecharam novos contratos de vendas para o exterior. A Volkswagen conseguiu um pedido extra de 10 mil veículos para a Argentina, e a Honda inicia o envio de 1,5 mil unidades do compacto Fit para o México.

O corte – O coordenador geral do Sistema Único de Representação, Teonílio Monteiro da Costa, o Barba, explicou que a Ford deixará de enviar 2 mil veículos dos modelos Ka e Courier para o mercado mexicano. Segundo ele, 43% da produção da fábrica do Grande ABC são destinados para exportações. A previsão para este ano é de se fabricar 48 mil automóveis este ano nessa unidade.

“A empresa sempre adota um mecanismo como esse toda vez que há um problema de sazonalidade”, ponderou. Barba descartou a possibilidade de demissões, por causa de um acordo de estabilidade que vence em março do próximo ano.

Divergências – Analistas da área industrial e centrais sindicais divergem sobre o assunto. Para o diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), Júlio Sérgio Gomes de Almeida, essa situação poderá se estender para outras montadoras do Grande ABC, caso o real continue se valorizando frente ao dólar. “A perda de contratos acontece porque as empresas tentam compensar as perdas cambiais quando pedem reajustes de preços diretamente aos clientes.”

O secretário-geral da CNM (Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT), Valter Sanchez, acredita que a redução da jornada na Ford é uma situação pontual por ser diferente da realidade das outras montadoras. Como exemplos, Sanchez citou a Volkswagen e a Honda.

“É muito prematuro dizer que o setor está sendo contaminado pelo recuo das exportações porque existem empresas ampliando as vendas para fora do país. É um cenário ainda incerto e nebuloso.”




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