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ONG de Santo André leva auxílio a famílias que estão na miséria

Casa do Jardim oferece aulas profissionalizantes para filhos de moradoras da cidade

Daniel Tossato
Especial para o Diário
12/10/2014 | 07:01
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Andréa Iseki/DGABC


“Lembraram que existo”, disse Terezinha Alves do Nascimento, 44 anos, ao receber a equipe do Diário em sua casa, no Jardim Santa Cristina, em Santo André. Depois da repercussão da reportagem publicada no dia 4 sobre famílias que não têm o que comer na região, apesar de o Brasil ter deixado o Mapa da Fome da FAO (braço da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), Terezinha tem recebido auxílio de pessoas e entidades que se sentiram tocadas com sua história. Já recebeu roupas, cestas básicas e espera arrumar um emprego. “Quero mesmo é trabalhar. Não acho ruim ganhar doações, mas não gostaria de depender de ninguém.”

Ela parecia outra mulher. Estava agitada e demonstrava mais esperança no futuro. “Tudo parece ter melhorado um pouco. Estou mais feliz depois de ter sido lembrada.”

Diogo, 13, filho mais novo de Terezinha, ganhou a chance de ajudar a mãe e a família participando das atividades do instituto A Casa do Jardim, projeto que visa ajudar crianças em situação de vulnerabilidade social. Na entidade, Diogo terá aulas de Inglês, Matemática, Informática e grafite, como explicou Kátia Carvalho, 47, fundadora da instituição. “Ele participará de inúmeras atividades e será preparado para o mercado de trabalho. A cada 15 dias, a família ganhará uma cesta básica”, explicou.

A dona de casa disse que enfrenta problemas com o filho Diogo pois, segundo a mãe, ele não quer saber dos estudos e anda em má companhia. “Ele tem que estudar e arranjar emprego. Não quero que fique por aí sem fazer nada”.

A moradora do Jardim Santa Cristina sabe que o auxílio da ONG pode ampliar os horizontes que cercam seu filho e deposita esperança nele. Diogo deverá comparecer às atividades a partir de amanhã.

Diferentemente da situação encontrada no início do mês, quando, por volta do meio-dia, não sabia o que comer, desta vez Terezinha se preparava para fazer o almoço. “Arroz, feijão, salada e bife”, disse, esboçando um sorriso.


PRESENTE

Adriana Sousa Rocha, 37, também sorriu ao receber o Diário em seu barraco no Parque João Ramalho, em Santo André. Dizendo que sua vida melhorou um pouco após a reportagem, Adriana conta que também tem recebido doações de vizinhos e entidades que atuam na região. “Escolherem a mim para fazer a matéria e foi um presente”, revelou.

Como não comprou material para poder “fazer as unhas das amigas”, ainda encontra dificuldade para guardar algum dinheiro para poder se sustentar. Mas acredita que, após receber as doações, poderá voltar ao mercado de trabalho em breve. “Quero trabalhar logo.”

Duas de suas cinco filhas participarão das atividades no instituto A Casa do Jardim: Bárbara, 13, e Isabelli, 9. “A Bárbara tem muita dificuldade na escola, já repetiu de ano duas vezes”, lamentou.

Adriana espera que, com as duas filhas no projeto, a situação possa melhorar. “A gente precisava de uma ajuda desse tipo. Assim podemos vencer a batalha”, desabafou.

As duas netas de Adriana, Ingrid, 3, e Kauane, 1, também receberão doações, mas não precisarão comparecer ao instituto, já que não têm idade para frequentar as atividades propostas. “Como é uma situação muito crítica, também inscrevemos as netas da Adriana, pois, assim, elas receberão roupas e comida”, explica Kátia.

Bárbara e Isabelli foram inscritas para comparecer à ONG aos sábados e ontem estavam convidadas a participar de festa de Dia das Crianças.

Entidade foi criada em 2001 para ajudar crianças carentes

O instituto A Casa do Jardim surgiu em 2001, quando Kátia Carvalho, 47 anos, começou a ajudar crianças que pediam esmolas nas esquinas de Santo André. Geralmente auxiliando carroceiros que coletavam material reciclável para vender, essas crianças eram seguidas por Kátia, que as abordava para dar algum alimento ou dinheiro.

Sentindo necessidade de expandir o projeto, Kátia alugou imóvel no Centro de Santo André e começou a procurar parcerias para ministrar aulas, palestras e cursos para as crianças em situação de extrema pobreza.

Hoje, o instituto fica localizado no bairro Jardim, na mesma cidade, e atende 90 crianças entre 5 e 16 anos. Conta com 16 voluntários e oferece cursos de coletivos artísticos da cidade.

“Ninguém deveria passar fome hoje”, é assim que Kátia resume o objetivo da entidade. “É realmente triste encontrar famílias que ainda não têm o que comer em uma cidade grande como Santo André.”

As crianças que participam das atividades recebem doações de alimentos, roupas e brinquedos. Mesmo sabendo que a capacidade do instituto é limitada, Kátia sempre inscreve as que estão em situação crítica. “A Casa do Jardim é igual coração de mãe, sempre acolhe mais um”, brinca.




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