Política Titulo Especial
Lula e a união da esquerda 40 anos depois

Em 1978, o então líder sindical desconfiava de frente pela redemocratização; neste ano, ainda não defendeu abertamente aliança para 2018

Por Junior Carvalho
29/04/2018 | 07:00
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André Henriques 7/4/18


 Em julho 1978, o então líder sindical Luiz Inácio da Silva, o Lula, aos 33 anos, criticava a criação de frente única de forças de esquerda em defesa da redemocratização do País, que enfrentava o autoritarismo do regime militar e o cerceamento do direito ao voto direto nas eleições presidenciais. Quatro décadas depois, o agora ex-presidente, hoje com 72, está preso – condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro –, acumula derrotas significativas para o PT nos últimos anos, tanto com o impeachment da sucessora Dilma Rousseff (PT) quanto com o pífio saldo eleitoral do partido no pleito de 2016, e resiste em defender abertamente a aliança entre siglas de esquerda rumo às eleições gerais de outubro, como pregam alguns dirigentes do próprio PT.

Em entrevista ao Diário, há 40 anos, pouco tempo antes de ser preso pelo governo militar acusado de desobediência ao incitar greves no comando do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema – atual Sindicato dos Metalúrgicos do ABC –, Lula demonstrava desconfiança dos objetivos da Frente Nacional de Redemocratização. Para o então dirigente sindical essa ideia partia da elite e o ainda operário não estava convencido de que trabalhadores seriam ouvidos neste processo.

“Eu, Lula, considero a Frente ampla demais para meu gosto. Já não é nem leque mais, já é guarda-chuva. E ela também não nasceu do consenso da maioria dos segmentos da sociedade brasileira, mas de meia dúzia de pessoas que quiseram aglutinar a maioria ao seu redor (…) Existe uma camada da sociedade que defende muito a democracia. Esse pessoal quer uma democracia relativa, que atinja até determinada parte da classe média brasileira. Porque, a partir do momento que atingir esta determinada parte da classe média brasileira, esse pessoal vai começar a chamar os trabalhadores de subversivos e comunistas outra vez”, projetava Lula, em uma entrevista conduzida pelos jornalistas Eduardo Dantas, Alzira Rodrigues, Alexandre Polesi, Eduardo Camargo e Edison Motta. Em suma, a aposta de Lula era a criação de um partido pelas mãos dos trabalhadores. O nascimento do PT ocorreu dois anos mais tarde.

A união das forças de esquerda não chegou a se concretizar nem na primeira eleição presidencial com o fim da ditadura militar (1964-1985), em 1989. Naquele pleito – vencido por Fernando Collor de Mello –, além de Lula, disputaram outras figuras de esquerda, como Fernando Gabeira, pelo PV, e Leonel Brizola (PDT).

Atualmente, um dos principais entusiastas no petismo de uma candidatura única para recolocar a esquerda no poder é o presidente do PT paulista, Luiz Marinho, ex-prefeito de São Bernardo. O petista externou ao Diário, em fevereiro, que a aliança, porém, seria em torno da candidatura de Lula. Marinho admitiu, entretanto, que o partido até poderia discutir um substituto, com os demais partidos de esquerda, caso o projeto do ex-presidente não se viabilizasse juridicamente. Em tese, a condenação em duas instâncias jurídicas enquadra Lula na Lei da Ficha Limpa.

ACENO
No dia 7, em seu último discurso horas antes de se entregar à PF (Polícia Federal), na frente do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo, Lula estava ladeado de dois pré-candidatos de esquerda: a deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB) e o líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), Guilherme Boulos (Psol). Apesar de elogiá-los e apresentá-los como o “futuro”, o ex-presidente não acenou com a possibilidade de abrir mão da disputa para apoiá-los, ou vice-versa.

Nos últimos dias, o ex-prefeito da Capital Fernando Haddad (PT), tido internamente como plano B do PT na corrida ao Palácio do Planalto, se reuniu com o ex-governador do Ceará e pré-candidato ao cargo de presidente pelo PDT, Ciro Gomes. O petista, porém, negou ter conversado sobre aliança eleitoral com o pedetista. O PT segue reafirmando a candidatura de Lula, que continua liderando pesquisas de intenções de voto à Presidência.




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