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Comoção marca enterro de jovem morto em boate

Cerca de 100 pessoas prestaram última homenagem a Rafael
Paulo Nunes de Carvalho, 32, uma das vítimas da boate Kiss

Por Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
30/01/2013 | 07:00
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Emoção, lágrimas e aplausos. Foi nesse clima que o vendedor Rafael Paulo Nunes de Carvalho, 32 anos, foi enterrado na manhã de ontem no Cemitério das Lágrimas, em São Caetano. Morador de Santo André, ele foi uma das 234 pessoas mortas no incêndio que atingiu a boate Kiss, em Santa Maria, Rio Grande do Sul, na madrugada de domingo.

A paixão de Rafael pelo São Paulo Futebol Clube foi homenageada por amigos e familiares, mesmo que torcedores de outros times. Dezenas de pessoas vestiram camisetas do Tricolor, incluindo o irmão Daniel, que torce pelo Corinthians. O corpo foi enterrado por volta das 11h30, enquanto o hino do clube do Morumbi era cantado.

O presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, enviou a São Caetano bandeira do Tricolor e uma coroa de flores. O clube ainda não decidiu se fará outras homenagens a Rafael, que, ao chegar ao Brasil, em 2011, fez questão de visitar o Estádio Cícero Pompeu de Toledo antes mesmo de ir para casa. Ele havia ficado quatro anos em intercâmbio na Austrália e Nova Zelândia.

Amigo da família, o engenheiro Edson Figueiredo, 61 anos, prevê dificuldade na próxima visita ao Morumbi. "Íamos a todos os jogos. A partir de agora, sempre vou deixar uma cadeira vazia do meu lado. É o lugar dele." Para Figueiredo, a maior qualidade de Rafael era o caráter. "Ele não tinha um pingo de maldade no coração. Se eu pudesse planejar um filho e definir todos os detalhes de sua personalidade, ainda assim não conseguiria criar alguém como ele", lamenta.

O jovem era considerado familiar até por quem não possuía qualquer tipo de parentesco com ele. "Rafael cresceu com meu irmão, que tem a idade dele. Sempre viveu conosco. Era de casa. Lembro dele com o sorriso no rosto e a camiseta do São Paulo", diz a empresária Mirtes Castro, 51.

Colegas de trabalho dizem ter ficado chateados ao saber que o vendedor viajaria no aniversário - ele fez 32 anos no dia 25. "Nós brigamos com o Rafael, pois queríamos ter comemorado com ele", relata Daniele Marques, 30. "Ele viveu intensamente. Isso é o que diminui um pouco a minha dor", acrescenta a vendedora.

O coordenador de vendas Flávio Eduardo Nunes dos Santos, 45, soube na manhã de domingo que Rafael estava em Santa Maria. No entanto, ainda não havia sido confirmado se ele estava ou não entre as vítimas. "Fizemos correntes de oração, mas, infelizmente, ocorreu a fatalidade. Ficamos sabendo do ocorrido no fim da tarde."

A vice-prefeita de Santo André, Oswana Fameli, esteve no enterro, mas, abalada, não deu entrevistas. Familiares do rapaz também preferiram não falar com a imprensa. Rafael era divorciado e não deixa filhos.

Lista oficial inclui outras três vítimas da tragédia no Sul

O Instituto Geral de Perícias do Rio Grande do Sul divulgou em seu site os nomes das três vítimas do incêndio da boate Kiss, em Santa Maria, que não estavam na relação oficial de mortos. Com a inclusão, o número de pessoas que perderam a vida na tragédia passou para 234, a maioria jovens estudantes da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria).

A explicação dada pelo instituto é a dificuldade de catalogar os dados em papel, já que a estrutura montada no Centro Desportivo Municipal não teve suporte tecnológico. Lucas Dias de Oliveira não constava na primeira lista. Já Vinícius Marconato Uggeri foi identificado no Posto Médico Legal de Santa Maria, por volta das 7h de domingo, e não no ginásio.

A terceira vítima incluída na lista foi Thailan de Oliveira. Conforme o instituto, a vítima foi excluída da lista porque também estava entre os mortos Thailan Rebhein de Oliveira, de nome e último sobrenome iguais, levando a um entendimento inicial de que se tratava de repetição. (da AE)

Sinalizador era proibido para ambientes internos

O delegado regional Marcelo Arigone, chefe da investigação do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, afirmou ontem que a banda Gurizada Fandangueira usou sinalizador proibido para ambientes fechados durante o show na casa noturna. O produto para locais abertos custava R$ 2,50 a unidade e, para ambiente fechado, R$ 70, segundo o delegado. O fogo teria começado na espuma de isolamento acústico, após um integrante da banda manipular o sinalizador.

O vocalista da banda, por sua vez, disse, em depoimento à Polícia Civil, que não teve culpa no incêndio. Segundo a promotora criminal Waleska Agostini. Marcelo Santos confirmou ter usado o artefato e disse que já tinha feito esse tipo de apresentação em shows anteriores. "Ele deu a entender que a causa do incêndio foi um problema na parte elétrica da boate." Integrantes afirmaram que o sinalizador era feito com pólvora fria, incapaz de queimar ou provocar incêndios.

O delegado afirmou também que a Kiss apresentava vários problemas e que deveria estar fechada. De acordo com ele, provas testemunhais já foram colhidas e a Polícia Civil aguarda a documentação solicitada para a prefeitura e o Corpo de Bombeiros da cidade sobre a boate.

O alvará sanitário do estabelecimento, expedido pela prefeitura de Santa Maria, estava vencido desde 31 de março. Já o plano de controle de incêndio, documento fornecido pelo Corpo de Bombeiros, havia vencido em 10 de agosto. 
Arigone afirmou ainda que houve uma reforma recente na casa "por conta e risco do proprietário."

O Ministério Público informou que vai abrir investigação para apurar as responsabilidades. O promotor Cesar Austo Carlan disse que pode ter havido falha na fiscalização por parte da prefeitura e dos bombeiros. (da Folhapress)

Bombeiros farão vistorias em casas noturnas

Todas as casas noturnas com mais de 1.000 metros quadrados de área construída que estão atualmente em funcionamento no Estado de São Paulo serão vistoriadas por equipes do Corpo de Bombeiros, como parte da Operação Prevenção Máxima, anunciada ontem pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB). Posteriormente, casas menores também entrarão nessa lista de inspeções, segundo o governador.

O objetivo é verificar se os estabelecimentos estão funcionando de acordo com as normas de segurança anti-incêndio, a fim de evitar desastres como o que ocorreu na madrugada de domingo na boate Kiss, em Santa Maria (a 323 quilômetros de Porto Alegre). "O Corpo de Bombeiros começa hoje (ontem), com 300 equipes, a vistoriar todas as casas com mais de 1.000 metros quadrados de área construída, que serão priorizadas. Depois, todas as demais também passarão pela vistoria", disse Alckmin.

Saídas de emergência, brigadas de incêndio, acesso para viaturas, alarmes, sinalização e extintores são alguns dos itens que serão conferidos durante a inspeção.

Alckmin anunciou a medida durante visita ao Centro de Operação dos Bombeiros e após participar de aula do curso de prevenção de acidentes e catástrofes, que treina profissionais de Saúde para socorrer vítimas de desastres e acidentes.

LEGISLAÇÃO 

O governador afirmou que São Paulo tem a melhor legislação para o combate a incêndios do Brasil. "Nós temos a legislação mais avançada, e um grande rigor no cumprimento das determinações por ela impostas", garantiu.

Segundo Alckmin, a cada dez pedidos para abertura de casas noturnas registrados na Capital, sete são negados na primeira inspeção do Corpo de Bombeiros por estarem em desacordo com as normas exigidas pela lei.

Ele não descartou, contudo, que possa haver mudanças. "É sempre bom rever, sempre bom aprimorar. Se houver necessidade de algum aprimoramento, será feito." (da Folhapress)




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