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Centro Universitário Maria Antônia inaugura nova fase
Do Diário do Grande ABC
19/03/2000 | 16:03
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O evento Passagens, que será inaugurado nesta segunda-feira no Centro Universitário Maria Antônia, em Sao Paulo, simboliza de forma perfeita o novo perfil que a instituiçao pretende adquirir daqui para frente. Aliando reflexao artística e intelectual, esse ciclo de exposiçoes e palestras - organizado em parceria com o Instituto Goethe - tem por ponto de partida o clássico "Trabalho das Passagens", obra inacabada de Walter Benjamin, na qual o filósofo alemao faz uma brilhante análise do modernismo a partir da observaçao arguta da fisionomia urbana e social de Paris, a capital da modernidade.

A tese central do evento - que já teve uma versao em Paris - é a de que as categorias utilizadas pelo filósofo para pensar a modernidade (como as noçoes de fragmentaçao e alegoria) aplicam-se ainda melhor para a compreensao da contemporaneidade. Duas formas de expressao sao contempladas: as artes visuais e a música, que será abordada apenas conceitualmente, durante o ciclo de palestras que ocorre entre os dias 21 e 24. Já as artes plásticas serao trabalhadas em dois núcleos expositivos.

O primeiro e maior deles contrapoe três discursos plásticos distintos. Um ensaio fotográfico feito pelo mestre Robert Doisneau nas passagens de Paris (galerias comerciais que proliferaram na virada do século e inspiraram Benjamin como símbolos da crescente fetichizaçao da mercadoria) convive no mesmo espaço com obras recentes de Elaine Tedesco, Rosana Monnerat, Sandra Cinto e Nuno Ramos. Também estará sendo exibido no local o vídeo The Passing, de Bill Viola. A curadoria é de Mammi e Cláudia Valadao de Mattos.

Quem quiser ver o outro núcleo expositivo terá de esperar até quinta-feira, quando será inaugurada no Instituto Goethe a mostra de desenhos do artista alemao Wolfgang Schmitz, também inspiradas nas passagens parisienses. Há uma interessante ousadia nessa contraposiçao de trabalhos tao diferentes. A obra de Doisneau, feita em meados do século, funciona como uma espécie de matriz narrativa que se contrapoe aos comentários contemporâneos. "Suas fotos representam um olhar mais moderno, pegando esse momento intenso, privilegiado da imagem", explica o crítico Lorenzo Mammi, que assumiu em meados do ano passado a missao de renovar e dinamizar o Centro Maria Antônia.

Essa espécie de homenagem que o fotógrafo faz a essas ruas comerciais cobertas, nas quais a burguesia da virada do século podia passear tranqüila e confortavelmente (nelas surgiram as primeiras vitrines, as primeiras iluminaçoes de rua...), tem um evidente tom otimista e é repleta de momentos narrativos. Já nas obras contemporâneas há um certo incômodo, um esfacelamento do sujeito artístico.




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