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Microcrédito está em alta
Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
21/06/2010 | 07:06
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Com o reaquecimento da economia e a ampliação de recursos dos bancos para financiamento, as operações de microcrédito mostraram forte expansão no Grande ABC neste ano.

Dados do Banco do Povo Paulista e do Banco do Povo Crédito Solidário atestam o impulso do segmento, que tem como foco empréstimos para a expansão dos negócios de pequenos empreendedores formais ou informais (cabeleireiras, doceiras, costureiras, feirantes etc).

A primeira instituição, ligada ao governo do Estado, registra expansão de 97% na região (dos sete municípios, só não está presente em Diadema), ao somar nessas cidades nos primeiros cinco meses do ano R$ 2,158 milhões em financiamentos, contra R$ 1,09 milhão no mesmo período de 2009.

A segunda entidade (que é organização não governamental em parceria de associações empresariais, sindicatos e prefeituras de Santo André, São Bernardo, Diadema, Mauá e Ribeirão Pires) também foi bem: cresceu 54%. Passou do total de R$ 1,19 milhão em empréstimos para R$ 1,8 milhão de janeiro a maio deste ano.

Segundo o gerente executivo do Banco do Povo Crédito Solidário, Almir da Costa Pereira, o apoio de grandes instituições financeiras está ajudando a ampliar a oferta de crédito aos microempreendedores. "Tínhamos o desafio de captar recursos; conseguimos (no ano passado) junto ao Itaú limite de R$ 600 mil e com a Caixa (Econômica Federal), R$ 1,5 milhão", afirma.

Neste ano, no dia 4 de março, a ONG assinou com BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) contrato para obter mais R$ 1,5 milhão. "Desse valor, já colocamos R$ 800 mil na rua (em empréstimos). Isso nos deu fôlego para trabalhar com mais força", diz.

Dessa forma, mesmo cobrando juros não tão amenos de 3,9% ao mês, a instituição tem crescido, ao permitir o acesso ao crédito para pessoas que estão fora do mercado formal.

Pereira explica que, apesar de os recursos levantados terem custo reduzido - no caso do BNDES, é TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo) mais 1,5% ao ano -, é preciso bancar a estrutura da operação. Isso porque os agentes de crédito visitam os empreendedores (muitos sem contabilidade organizada) para avaliar a capacidade de pagamento e a condição de o negócio crescer.

O Banco do Povo Paulista tem taxa bem menor. Reduziu neste ano de 1% ao mês para 0,7%. Além das condições favoráveis, "a retomada da economia ajuda", avalia o diretor executivo, Antonio Sebastião Mendonça. O governo do Estado oferece outro apoio importante: só neste ano, a instituição tem R$ 8,8 milhões disponíveis para emprestar no Grande ABC.


Volume de recursos dos bancos para microcrédito é recorde
Os bancos nunca ofereceram tanto dinheiro para os interessados no microcrédito, voltado a empreendedores de baixa renda, como agora. Em abril, segundo o dado mais recente do Banco Central, o volume de recursos ofertados chegou a R$ 1,6 bilhão.

Segundo regulamentação do BC, os bancos têm de destinar 2% dos depósitos à vista para o microcrédito ou mantê-los congelados, sem uso. Em abril, desse montante, ou R$ 2,7 bilhões, as instituições financeiras emprestaram 62% - um recorde. Um ano antes, em abril de 2009, a oferta foi de 56%.

Por mês, são assinados cerca de 100 mil contratos no Brasil e o valor médio dos empréstimos é de R$ 1.300. Detalhe: o microcrédito não pode ser usado para tapar buracos no orçamento, mas deve ser usado para investimento em algum tipo de negócio.

O brasileiro estaria recorrendo a esses recursos de olho na possibilidade de ser dono do próprio negócio.

Essa foi a opção da comerciante Sueli Lombardi, que tem casa de doces no Parque Capuava, em Santo André.

Recentemente ela pegou R$ 1.500 para expandir a atividade. Passou a trabalhar também com salgados. "Ajuda muito. Todo ano eu faço empréstimo. Desta vez, foi preciso comprar uma geladeira-balcão e mais mercadorias", diz.

Essa também tem sido a saída encontrada pela chocolateira Maria Solange Calzzetta, de São Bernardo, para crescer no mundo dos negócios. Ela está no décimo empréstimo (pegou R$ 4.800 para arrumar o carro com o qual transporta seus produtos).

Maria se lembra que, há alguns anos, usava de 100 a 200 quilos por mês de chocolate para fazer trufas, pavês, bolos e outros itens. Neste ano, já chegou a uma tonelada por mês. E se orgulha de ajudar os filhos a pagar a faculdade "com dinheiro dos doces".

CONTRATOS
Na região, as instituições de microcrédito têm ampliado não só o total financiado mas também a quantidade de empréstimos. O Banco do Povo Paulista, do governo do Estado, fez 642 financiamentos neste ano (até maio), 93% mais que as 329 do mesmo período de 2009.

O Banco do Povo Crédito Solidário, por sua vez, fechou 1.264 contratos, frente aos 1.080 nos cinco primeiros meses de 2009 (alta de 17%). O gerente da ONG, Almir Pereira, salienta, no entanto, que grande parte (70%) desses empréstimos é para grupos solidários (de quatro a sete empreendedores, em que há o aval solidário, ou seja, se alguém deixar de pagar, os outros se comprometem a honrar o empréstimo). (Leone Farias)




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