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Sossego no Alentejo

Em Évora, Estremoz e Vila Viçosa o tempo passa devagar; aproveite para conhecer as vinícolas

Soraia Abreu Pedrozo
03/03/2016 | 07:00
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 Pense num lugar onde o tempo passa devagar... Em que há muita natureza, mais história, muito vinho e comida boa (especialmente os doces)... Eis o Alentejo! Região interiorana de Portugal ao Sul de Lisboa, distante cerca de uma hora e meia, conhecida por suas dezenas de vinícolas. São muitas as cidadelas simpáticas e graciosas, que dão a impressão de terem parado no tempo um século atrás. E é tudo pertinho, basta escolher algumas para se hospedar e outras para visitar. As eleitas por mim foram Évora, Estremoz e Vila Viçosa.

Para chegar ao destino, o ideal é alugar um carro e percorrer as muito bem sinalizadas – se bem que o GPS sempre dá uma mãozinha também – e asfaltadas autoestradas. São um tapete no qual o automóvel desliza. E com limite de velocidade generoso, de 120 km/h. Porém, é possível atingir entre 160 km/h e 180 km/h tranquilamente. Os carros de lá são preparados para isso, assim como as vias. O que encurta bastante o tempo de percurso. É válido saber que veículos europeus novos desligam sozinhos ao fazer alguma parada (não se assuste, como eu!), por exemplo, para o pedágio – aliás, é bom se atentar e pagar por todo o trajeto que será percorrido nas cabines com funcionários, pois se chegar em uma automática e não tiver pago, haja o que houver a cancela não subirá.

No meio do caminho para o Alentejo vale fazer parada em Setúbal, para almoçar, local em que há um centrinho extremamente bonito e organizado, inclusive, quem tiver mais tempo livre na viagem compensa pernoitar por lá para desfrutá-la melhor. A parada no município se justifica porque o destino antes de chegar em Évora é o Azeitão, onde está a vinícola da Quinta da Bacalhôa, que possui museu e jardim incríveis, com visita guiada, que vale e muito cada centavo (neste caso, quatro euros). Sem contar que, ao fim do passeio, tem-se o esperado momento da degustação dos sensacionais vinhos da marca, e a chance única de comprar rótulos a preços que saem por muito menos lá. Para se ter ideia, um dos carros-chefe o Quinta da Bacalhôa 2012 Cabernet Sauvignon tinto, é vendido por 16,99 euros (com o euro turismo a R$ 4,42, ele sairia por R$ 75,02) na adega, enquanto aqui chega a R$ 217,80. O branco Catarina 2014 de 4,79 euros (R$ 21,17) lá aqui sai a R$ 82,80. Eles vendem plásticos bolha no formato da garrafa para protegê-la na mala por três euros. Sem contar os azeites. Difícil é se conter. É preciso reservar a visita com antecedência no próprio site da vinícola.

Partindo – muito feliz, diga-se de passagem – para Évora, se tem grata surpresa, tamanha é a beleza dessa cidade considerada a porta de entrada e a capital do Alentejo, cujo centro histórico é permeado por uma fortaleza. Dá vontade de ficar uma semana inteirinha por lá, só vendo a vida passar... vivendo no ritmo deles. Pena que eu só tinha dois dias e uma noite. O centrinho é uma graça e tudo por lá se faz a pé, tendo como ponto de partida a Praça do Giraldo, que tem em seu entorno ruelas abarrotadas de pequenas lojinhas, bares e restaurantes, nas quais é uma delícia se perder – o que ocorre literalmente, já que elas são muito parecidas e um tanto labirínticas. Subindo uma delas, inclusive, chega-se à Catedral da Sé, a qual vale muitíssimo a visita, pois, ao tomar a estreita escada em caracol atinge-se a torre, de onde tem-se vista panorâmica da cidade. Ao descer, há um claustro belíssimo. Na igreja, há uma curiosidade, a imagem de uma santa grávida. Trata-se de Nossa Senhora do Ó. Tudo por 3,50 euros. Só não deixe para ir muito perto da hora do almoço, pois em Évora praticamente tudo, à exceção dos restaurantes, fecha por algumas horas. E os eborenses não se preocupam com o tempo geralmente limitado do turista. São muito rígidos com os horários. Atrações turísticas reabrem por volta de 14h, 14h30 e, alguns comércios, só às 16h, após a sesta – devido à proximidade da região com a Espanha tem-se o hábito de tirar uma soneca no meio do dia, assim como de beber sangria. E não pense que esses estabelecimentos ficam abertos até 22h não, por volta de 20h começam a cerrar as portas. É bom se atentar também ao fato de que às segundas-feiras quase nada abre por lá.

Pertinho da Sé está o Templo de Diana, ruína dos tempos de domínio romano, datada do século 1 que é um dos mais belos cartões-postais da cidade. Outro, ainda no Largo Conde de Vila Flor, é o pôr do sol, um dos mais memoráveis da vida, com vista para a cidade. Inclusive, há uma escultura de mármore que simula um beijo, e, em determinado momento, o sol se encaixa exatamente nesse espaço. Passeio imperdível é a Capela dos Ossos, no interior do Convento de São Francisco, local em que são armazenadas milhares de ossadas dos cemitérios da cidade. Construída no século 17, tem paredes e pilares revestidos com os ossos. É impressionante. Logo na entrada, tem-se os dizeres “Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos”. Bem pertinho dali, vale dar uma volta no Jardim Público, parque muito arborizado que contém o Palácio de D. Manuel.

Fora dos limites da fortaleza está a Adega da Cartuxa, cuja visita guiada com degustação (dez euros) mostra como são feitos os principais vinhos portugueses da marca – diferentemente de muitas regiões vinícolas do mundo, os rótulos lusitanos misturam castas de uvas. Oportunidade singular para adquirir garrafas a valores muito menores do que aqui. O Cartuxa Colheita 2011 tinto, por exemplo, vendido a 15,99 euros (R$ 70,67), no Brasil sai por R$ 169. O EA tinto, que lá não chega a sete euros, custa R$ 75. É preciso agendar com antecedência.

Estremoz e Vila Viçosa são outras pérolas que merecem visita
A cerca de 30 minutos de Évora está Estremoz, onde é feito mergulho ainda maior na vida interiorana. Para se ter ideia da pureza do local, marcado por casinhas brancas, as árvores das ruas são pés de laranja. A cidade é muito menos turística que Évora, e, portanto, o volume de pessoas de fora que se aventura pela cidade é bem menor, o que chama certa atenção dos locais. O principal hotel dali, a Pousada Santa Rainha Isabel, é um ponto a ser conhecido (ou eleito como hospedagem), pelo fato de preservar as estruturas do castelo, que data do século 13. Tem uma torre em que se tem vista incrível de toda a cidade que, inclusive, é adepta a touradas. Excelente escolha para descansar. Para o Brasil, a cidade tem importância imensurável, dado que, segundo moradores, foi de lá que saiu a decisão que orientou Dom Pedro I a decretar a independência do nosso País, em 1822. Estremoz oferece, ainda, muitos passeios a vinícolas locais, e tem uma ruazinha, a 31 de Janeiro, com diversos restaurantes e bares com pratos e vinhos deliciosos, como o Monte dos Cabaços e o beb e a preços muito módicos, dez euros a garrafa. Na Praça Rossio Marquês de Pombal também há estabelecimentos onde se come e bebe bem desembolsando pouco.

PERTINHO
A 20 minutos dali está Vila Viçosa, que abriga o castelo e o Paço Ducal da cidade. Do castelo, datado do século 13, se tem vista linda para a simpática cidade e, para percorrer seu exterior não precisa pagar nada. Dentro dele hoje há o Museu de Arqueologia e o Museu da Caça. No paço, com sua fachada de 110 metros de comprimento – única na arquitetura portuguesa – está um dos locais mais importantes para a história do Brasil, já que foi reduto dos Bragança, da família de Dom Pedro I e II. Com a ascensão dela ao trono de Portugal em 1640, o local passou de residência fixa a esporádica, o que se inverte novamente no século 19. Por cinco euros é possível passear por um dos palácios mais preservados dessa família real, tanto que as janelas ficam entreabertas para que não entre muita luz – o cheiro é forte, mas a emoção, também. Na cidadela viveu a poetisa lusitana Florbela Espanca. É possível passar por sua casa e conhecer seu túmulo em um cemitério peculiar, por ser todo branco.

GUIA DE VIAGEM
COMO IR
A TAP Linhas Aéreas dispõe de voo direto entre São Paulo e Lisboa por R$ 2.280 (sem taxas). Com escala em Paris (França), a Gol Linhas Aéreas leva por R$ 1.975 (sem taxas). Os valores foram cotados ontem para embarque em 6 de junho e retorno em 20 de junho, quando se tem a tradicional festa de Santo Antônio.

Para ir ao Alentejo, basta alugar um carro. Na Avis, cinco diárias de um carro 1.5 com GPS integrado, a exemplo do Renault Clio, com quilometragem livre e motorista adicional saem em torno de US$ 300 (convertido com base no dólar turismo de R$ 4,05, dá R$ 1,215).

ONDE FICAR
Lisboa
Dom Pedro Palace Hotel - Av. Eng. Duarte Pacheco 24, Bairro Amoreiras. Diária por R$ 684 (com o euro a R$ 4,48) para sete dias de hospedagem em junho (www.dompedro.com/Principal/Hoteis/Portugal-Lisboa/Dom-Pedro-Palace).
Sana Lisboa Hotel - Av. Fontes Pereira de Melo, 8, Bairro Saldanha - Diária a partir de R$ 550 para o mesmo período (<CF154>www.lisboa.sanahotels.com/).
<EM>Imperium Village - Travessa da Arrábida, 8, 1250-035 - Bairro Rato - Diária a partir de R$ 354,60 para o período (www.imperiumvillage.com/pt-pt/)
Évora
Pousada dos Lóios - Largo Conde de Vila Flor - Diárias a partir de R$ 600,32 para hospedar-se de 13 a 16 de junho (http://www.pestana.com/br/hotel/pousada-evora).
Hotel Convento do Espinheiro - Convento do Espinheiro - Diárias a partir de R$ 896 para o mesmo período (www.conventodoespinheiro.com).
Estremoz
Pousada Rainha Santa Isabel - Largo Dom Dinis - Diárias a partir de R$ 452,50 para ficar dos dias 16 a 17 de junho (www.pestana.com/br/hotel/pousada-estremoz).
Pateo dos Solares - R. Brito Capelo - Diárias a partir de R$ 291,20 para o período (www.pateosolares.com).

ONDE COMER
Lisboa
Remake Food - Rua da Barroca, 70 - Bairro Alto. Vale provar o bacalhau à brás e tomar um vinho a preços honestos, o que dá media de 15 euros por pessoa.
A Padaria Portuguesa - Vários endereços - Para lanche rápido, menu com sandes (sanduíche) e sumo (suco) sai por 4,95 euros. Pão de Deus por um euro.
Estremoz
Buxa do Corticeiro - Rua 31 de Janeiro, 40B. Comidas típicas e muito saborosas. Vinhos a preços camaradas.
Cafetaria O Rossio - Rossio Marquês de Pombal. Para lanches rápidos e doces.




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