Economia Titulo
Disputa por mão
de obra fica acirrada
Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
14/08/2011 | 07:03
Compartilhar notícia


O trabalho dos headhunters é conhecido entre os empresários e profissionais do alto escalão. Esses especialistas caçam executivos no mercado para cobrir vagas nas diretorias das empresas. E, normalmente, as propostas são tentadoras. O que poucos sabem é que há alguns meses surgiram, próximos aos canteiros de obras da região, caçadores como esses. Mas com função um pouco diferente: levar mão de obra qualificada para construtoras e empreiteiras concorrentes.

Esses agentes, normalmente posicionados nas redondezas das obras, abordam pedreiros, gesseiros, azulejeiros, encanadores e eletricistas sempre com ofertas de salários maiores. E em alguns casos, até premiam aqueles que indicarem os bons funcionários.

"Foi uma coisa incrível. Eu nunca tinha visto roubo de funcionário. Quando meu encarregado me passou isso, fiquei surpreso", diz o sócio-proprietário da Caffene's Comercial e Incorporadora, Luis Fernando Paes de Barros.

Com experiência de 43 anos na área, o mestre geral de obras Franco de Souza, que supervisiona várias construções no Grande ABC, também confirma o fato. "Isso é novo em todos esses anos de construção. Mas há alguns meses vem acontecendo."

Há menos de dois meses, um dos funcionários de Souza avisou sobre a frequência de um agente próximo à obra. "O cara ofereceu R$ 100 por cabeça indicada. Ele queria apenas aqueles que trabalhavam bem", conta o mestre geral.

Mas esta busca têm explicação. Com deficit de mão de obra qualificada de, aproximadamente, 3.000 funcionários na região, algumas empresas não medem esforços para contratar bons trabalhadores para finalizar obras.

E o resultado deste novo cenário é positivo aos trabalhadores da construção. Segundo a lei da procura e da oferta, quanto menos profissionais bons, maior é o preço que se paga para mantê-los no canteiro. A diretora regional do Sindicato da Indústria da Construção do Grande ABC, Rosana Carnevalli, estima que os salários no setor de quem atua nos canteiros vão de R$ 1.000 até R$ 5.000. "Mas a experiência também conta."

A equipe do Diário percorreu algumas obras de edifícios na região. E segundo empregados que preferiram não ter a identidade revelada, a caça por trabalhadores na concorrência está se tornando comum. "Mas tem que ver se vale à pena largar o emprego atual para pegar outro. É meio inseguro", diz um desses trabalhadores.

Cicero dos Santos trabalha como azulejeiro em São Caetano. Ele afirma que foi abordado duas vezes por um desses agentes. "Mas não aceitei. Me apresentou proposta com um pouco mais do que eu ganhava. Mas a estabilidade no meu emprego pesou na decisão", relata.

Barros avalia que vários de seus funcionários, que receberam propostas, ficaram na empresa pela fidelidade. "Se isso não garantir, temos que dar um agradinho", brinca.

 

Migração para emprego muda de direção

 

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias da Construção Civil de São Paulo, Antonio de Sousa Ramalho, considera o assédio de trabalhador no canteiro de obra do concorrente desleal. "A construção civil cresceu demais. Está faltando mão de obra. Mas também há pouco investimento das empresas em qualificação", critica, em referência à todo o Estado.

Sem tempo para aplicar treinamento, os construtores mudaram o cenário migratório da construção, em que o trabalhador vinha para São Paulo atrás de emprego. Empresários que não caçam no canteiro do concorrente vão ao Norte e Nordeste garimpar mão de obra qualificada. "Principalmente nessas regiões", aponta a diretora regional do Sindicato da Indústria da Construção, Rosana Carnevalli.

"Normalmente nós (construtores) falamos para que os funcionários chamem os parentes e amigos, que moram no Norte e Nordeste, para trabalhar aqui", explica Rosana.

O problema é que a migração também inverteu. O setor imobiliário está muito aquecido nas capitais dos estados nordestinos e nortistas. E vários trabalhadores, que vieram para São Paulo há algum tempo sonhando com o eldorado, perceberam que sua terra natal apresenta, hoje, custo de vida menor e trabalho à altura.

EM"No último mês eu perdi quatro funcionários. Dois voltaram para a Bahia e os outros para a Paraíba. Alguns, acredito que ficaram envergonhados de falar o porque. Mas outros revelaram que iriam por causa da construção aquecida por lá", conta o mestre geral de obras Franco de Souza.

 

Plano de carreira engatinha na profissão

 

A falta de mão de obra qualificada na construção civil da região estimula outro ponto positivo aos empregados do setor. Algumas empresas contratam os funcionários com propostas de plano de carreira, conta a diretora regional do Sindicato da Indústria da Construção do Grande ABC, Rosana Carnevalli.

"Nós temos trabalhado junto ao Senac para fomentar essa proposta de qualificar o próprio funcionário", conta a diretora.

Desta maneira, os empresários atingem resultados dentro dos objetivos, tendo em vista que os jovens empregados são moldados de acordo com a demanda, diz Rosana.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias da Construção, Antonio de Sousa Ramalho, pede mais investimento na qualificação. "Este é o próximo desafio do setor." Ele desconsidera que o governo tenha interferência nesta situação. "É uma luta de acordos entre trabalhadores e empresários."




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;