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Trilha do Carvão revela 'grutas' históricas
Isis Mastromano Correia
Do Diário do Grande ABC
29/06/2008 | 07:05
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Edmilson Magalhães/DGABC


Em princípio, parece coisa para algum sujeito metido à Indiana Jones. Afinal, esse negócio de caverna, gruta e sítio arqueológico só pode ser coisa para herói de cinema mesmo.

Bem, na verdade não. E a prova pode ser tirada aqui mesmo na região, um quilômetro adentro da mata que abraça a área do Riacho Grande, em São Bernardo, e nos leva para o que chamam de Trilha do Carvão.

Ali, o grande atrativo para os aventureiros de plantão são três grutas que, à primeira vista, enganam por parecerem genuínas obras da natureza.

As cavidades que abrigam morcegos, aranhas e bicas d'água são na verdade um achado arqueológico. Tratam-se de antigos fornos, esculpidos diretamente na pedra e que serviram à produção de carvão. Foram talhados, provavelmente, por europeus que firmaram moradia no Riacho Grande.

Esses imies teriam aproveitado a chegada da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí para fazer algum dinheiro. Como a obra dependia em muito do carvão, foi na produção desse item que que a população do bairro na época se apoiou.

O problema é que antagonicamente ao início dessa trajetória rumo ao progresso começou também a extinção da Mata Atlântica nativa nos bairros de São Bernardo. O carvão produzido nos três fornos era feito das árvores ao redor deles.

De acordo com o biólogo Claudinei Correia de Mello, 38 anos, boa parte da flora que forma a trilha do carvão é mata secundária. "Mesmo assim, o que dá para perceber é que a qualidade do ar aqui é muito boa mesmo estando perto da cidade. Basta olhar para a formação de líquens vermelhos nas árvores, que são sinal de ar puro", aponta o especialista.

O biólogo, juntamente com moradores da região, gostaria que a visitação das três grutas fosse mais difundida e que, além disso, os achados históricos fossem tombados. Por isso, o grupo enviou um projeto à Assembléia Legislativa detalhando a proposta.

"O potencial ecoturístico do local é enorme. Temos medo que isso fique aqui jogado e as pessoas sem muita consciência comecem a depredar", avalia o pintor José Carlos Rissi, 47 anos, morador do bairro. Ele organiza um abaixo-assinado para sustentar o desejo da população da área em ver o local melhor aproveitado.

Durante a trilha, indícios de degradação são visíveis e não é difícil encontrar resto de objetos plásticos sobre a terra e até mesmo na margem da Represa Billings, que corta a Trilha do Carvão.

Outro achado histórico no caminho é uma espécie de marco fincado no chão que servia para especificar até onde as águas da reservatório poderiam alcançar. O objeto de concreto no terreno revela quão o nível das águas tem baixado durante os anos, processo que começou antes mesmo do volume ser represado.

Memória - A história das três cavernas começou a ser descoberta em 1999 por alunos do curso de Ecoprofissionalização da Prefeitura de São Bernardo. Os moradores antigos deram as principais pistas para que os guias recém-formados traçassem o perfil do local.

Ao todo, a trilha tem 1.200 metros. Percorrer o caminho demora, em média, 50 minutos. Além das lapas onde se fazia carvão, samambaias-açus, manacás da serra, quaresmeiras e, sobretudo, bromélias, dão vida ao local. Pica-paus também são vistos pelo trajeto.

As dimensões das cavernas são semelhantes, tendo em média 16 metros de profundidade, dois metros de altura e quatro de largura. Dentro delas não há inscrições, como aquelas classicamente encontradas em grutas pré-históricas.

A diretora da Secretaria de Meio Ambiente de São Bernardo, Sônia Lima, acredita que as cavidades sejam do início do século 20 e mais: há indícios de que existam até quatro fornos na mata.

"No imaginário popular aquilo é gruta, mas hoje sabemos melhor a história do local", diz Sônia Lima. Já sobre cavernas ou grutas naturais, não existe levantamento que aponte a existência em São Bernardo.




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