Política Titulo 50 Anos do Golpe
Golpe militar ainda reflete na sociedade

Mudanças de base e reforma agrária, pleiteadas até hoje, contribuíram para queda de Jango

Cynthia Tavares
Do Diário do Grande ABC
31/03/2014 | 07:00
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O dia 31 de março de 1964 ainda reflete na nossa sociedade. Mesmo 50 anos depois. A ditadura militar no Brasil não está bem resolvida na mente dos brasileiros. As lutas que motivaram a queda do presidente João Goulart, o Jango, ainda persistem nos dias atuais.

Jango assumiu o poder após Jânio Quadros renunciar ao cargo alegando fortes pressões, em agosto de 1961. O momento ficou suscetível ao golpe, mas Jango foi sagaz o suficiente para conseguir acordo político para tomar posse.

O incômodo cresceu quando o presidente resolveu lançar mudança de base, que tinha como principal bandeira a reforma agrária. Em 13 de janeiro de 1964, o sinal vermelho se acendeu. Jango assinou dois decretos que mudariam o rumo do Brasil. O primeiro autorizava desapropriação de terras numa faixa de dez quilômetros na beira de rodovias. Já o segundo texto, transferiu para o governo cinco refinarias de combustíveis.

Horas depois, o presidente discursou para 82 mil pessoas num comício realizado na Central do Brasil. A mobilização popular e a aproximação de Jango com a esquerda preocuparam os militares e, principalmente, os Estados Unidos – o Estado norte-americano estava em plena Guerra Fria e desejava impedir a expansão do comunismo. “O golpe conseguiu ganhar a maioria do comando do exército tendo marginalizado os setores de esquerda, que davam suporte ao governo constitucional de João Goulart. Com isso inviabilizou o aprofundamento da democracia e participação popular”, analisou o cientista político da Unesp (Universidade Estadual Paulista) Marcos Del Roio.

A situação só piorou nos dias seguintes. Até que no dia 31, uma terça-feira, o general Olympio Mourão Filho ordenou que duas tropas marchassem de Juiz de Fora, em Minas Gerais, até o Rio de Janeiro. No dia 1º de abril, Jango estava acuado e viajou para Brasília crente de que conseguiria evitar o golpe através de novo acordo político, a exemplo do que ocorreu em 1961. Ao desembarcar, percebeu que a luta estava perdida.

No dia seguinte, o presidente do Congresso Ranieri Mazzilli assumiu a Presidência interinamente. Em 15 de abril, o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco foi o escolhido entre os militares para comandar o Brasil.

REFLEXOS

Para a professora da Universidade Metodista de São Paulo Magali dos Santos Cunha, o brasileiro tenta apagar esse momento do período. “Houve processo de construção da história da parte do governo militar, de apagamento da memória de uma ditadura estabelecida”, avaliou.

Para Marcos Del Roio, especialista da Unesp, a violência utilizada entre 1968 e 1977 – período marcado por torturas e mortes – ainda persiste nos dias atuais. “A mais latente é a existência da Polícia Militar, que continua fazendo seu trabalho com violência extrema”, analisou.

Para Magali, o trabalho das comissões da verdade espalhadas pelo Brasil é essencial para que o golpe e suas mazelas não caiam no esquecimento. “O Estado que deveria estar a serviço do povo brasileiro, trabalhar pelo bem-estar e garantia de direitos, tornou-se uma ameaça a esse próprio povo por meio das arbitrariedades perpetradas com o apagamento da Constituição e das leis. Não é possível consolidar a democracia no Brasil sem que esses atos sejam publicados e oficialmente condenados”, destacou.

O Grande ABC irá sediar várias palestras sobre o regime militar. O evento principal, organizado pelo Centro Memória do Grande ABC com apoio da Prefeitura de Santo André, ocorrerá nos dias 9, 10 e 11 de maio, no Teatro de Santo André. A atividade reunirá várias lideranças da América do Sul, que também viveram sob ditadura.




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