Escavações arqueológicas na Serra do Mar revelaram a existência do pouso de tropas no ponto mais alto da Calçada do Lorena, em São Bernardo. A descoberta faz parte da segunda expedição do arqueólogo Paulo Zanettini, que por volta de 1990 ajudou na restauração da antiga estrada. Por conta da localização, o ponto foi batizado de Pouso de Tropas do Pico.

O sítio arqueológico foi montado em maio deste ano com a proposta de capturar possíveis artefatos sobre a história de São Bernardo. O chefe da equipe de Zanettini, Paulo Bava, explica que foram encontradas lascas de telha de barro, comuns em pequenas edificações do século 19.

As pousadas eram usadas por tropeiros que, nos séculos 18 e 19, usavam estradas para acessar o litoral. Saíam de São Paulo em carroças ou montados em cavalos e transportavam, principalmente, café e cana-de-açúcar. "Era uma época de incremento da produção agrícola. A cana e o café predominavam entre os carregamentos", falou Bava.

Com paredes levantadas a barro puro, as pousadas costumavam ter uma espécie de varanda. Nas colunas de madeira eram atadas redes para descanso e os apetrechos dos cargueiros. No interior, as pousadas maiores tinham até dois quartos grandes e um depósito para carga.

Pelas peças prospectadas no sítio, Bava interpreta que o pouso tinha apenas um cômodo interior, não muito grande. "Mas o acampamento externo podia ser bem maior", argumenta o pesquisador, falando sobre a parte externa onde ficavam os animais e fogueiras.

A Calçada do Lorena foi um dos primeiros caminhos pavimentados. Hoje, o trecho recuperado pertence ao Parque Estadual Serra do Mar.

Nas margens do caminho existe um pouso preservado. O ponto de parada encontrado agora pelos arqueólogos está a 100 metros aproximadamente do Monumento do Pico.

Traçados

A expedição realizou buscas na região do planalto, mais próximo da área urbana de São Bernardo. Ali, as prospecções tiveram como foco os possíveis trechos perdidos da Calçada. "A estrada possui apenas uma parte preservada. O restante foi perdido pelo tempo", comentou o chefe da expedição.

"A Calçada teve variações provocadas por intempéries climáticas ou geológicas. Descobrimos algumas partes da estrada", revelou.