Economia Titulo R$ 1.009,22
Cesta básica custa quase 100% do salário mínimo

Preço do conjunto de itens básicos de consumo no Grande ABC superou pela primeira vez, em janeiro, os quatro dígitos

Beatriz Mirelle
Especial para o Diário
01/03/2022 | 00:01
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André Henriques/DGABC


O preço da cesta básica no Grande ABC em fevereiro se aproximou dos valor do salário mínimo. Na média, os 34 itens necessários para o consumo de uma família com dois adultos e duas crianças atingiram a marca de R$ 1.008,22, segundo dados levantados pela Craisa (Companhia Regional de Abastecimento Integrado de Santo André). O menor valor legal que pode ser pago ao trabalhador é de R$ 1.212.

Os produtos que mais subiram no segundo mês do ano foram foram a alface (26,74%), batata (18,09%) e o pacote de café de 500 gramas (7,15%). Os moradores da região sentiram a alta no bolso e a solução na hora das compras é trocar as mercadorias por outras mais baratas.

O engenheiro agrônomo responsável pelo levantamento do Craisa, Fábio Vezzá De Benedetto, afirma que em 2022 a cesta básica atingiu os quatro dígitos pela primeira vez na história. “Em relação a janeiro, que teve média de R$1.002,84, a alta foi relativamente pequena (0,54%). Parece pouco, mas corresponde a R$ 5,38. Em fevereiro de 2021, a cesta estava R$ 859,60. Ou seja, a variação foi de 17,29%”, compara.

Segundo o especialista, diversos motivos influenciam a subida, como o dólar em alta e a desvalorização do real. “Isso aumenta o preço dos combustíveis, dos fertilizantes e pesticidas usados na agricultura. Em algum momento afeta o consumidor”, destaca.

A comerciante Elizabete Vieira, 43 anos, comenta que se impressionou com os preços das folhagens, como alface e couve. “Além de não estarem com boa qualidade, elas estavam caras. Não deixei de consumir, mas diminui muito a quantidade. Notei aumento em todos os alimentos que compro tanto na feira livre quanto no mercado."

Moradora da Vila Linda, em Santo André, ela afirma que as despesas aumentaram cerca de 30% e a alternativa foi escolher opções mais em conta. “Carne vermelha troquei por frango e peixe. Comprei menos café e mais chá ou achocolatado; também coloquei mais leite. Fiz de tudo para equilibrar os valores para a conta fechar no fim do mês.” 

Segundo a Craisa, o pacote de café tradicional de 500 gramas custa, em média, R$ 18,47 no Grande ABC, enquanto um quilo do acém, carne vermelha de segunda, está em R$ 32,99.

O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) indica que os aumentos mais significativos em todo o País, em janeiro, foram da cenoura (27,6%), laranja (14,9%) e banana (11,7%). 

O indicador mostra também que a inflação para famílias de renda muito baixa (cujos rendimentos somados não ultrapassam R$ 1.808,79 por mês) foi de 0,63%, quase o dobro da taxa registrada às de renda mais alta (0,34%), que recebem acima de R$ 17.764,49 por casa. A categoria ‘alimentos e bebidas’ foi a que mais influenciou os gastos.

O economista Fábio Bittes, vice-coordenador do curso de bacharelado em Ciências Econômicas da Universidade Federal do ABC, explica que o regime de chuvas é um dos fatores que influenciam os valores expressivos dos produtos nesse período do ano. “O verão é sempre chuvoso. A constância e o volume elevado de água por muito tempo afetam as produções de hortaliças”, aponta.

Apesar de ser um bom período para grandes de lavoura, ele afirma que o excesso de chuvas acaba prejudicando as colheitas. 

A professora de dança Jacqueline de Oliveira, 22, da Vila Suíça, em Santo André, administra as contas sozinha desde outubro de 2021 e notou cerca de 15% de diferença nas despesas neste período. “Não sou de comprar besteiras, como bolachas e macarrão instantâneo. Compro o essencial, arroz, feijão, produtos de limpeza. Mesmo assim, na última vez que fui ao mercado, sai só com quatro sacolas e gastei quase R$ 200”.

Para ela, o que mais chamou atenção foi o preço do óleo de soja. De acordo com a Craisa, o valor médio do produto de 900ml é de R$ 8,75 em fevereiro.

As commodities, mercadorias fornecidas em larga escala, contribuem para o aumento da inflação. Como elas têm demanda global, são cotadas de acordo com o mercado internacional. “Os maiores exemplos são as plantações de milho, soja e os produtos derivados desses insumos. O café também entra nessa lista, assim como a carne, que tem uma vasta marcação no Exterior”, explica Bittes.




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