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Peça de Vladimir Capella é conto de fadas contemporâneo
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
15/03/2003 | 16:12
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Miranda perde a mãe, fica só e ganha roupas masculinas de um cavalo encantado para enfrentar o mundo – Vladimir Capella, de São Caetano, escreveu um conto de fadas contemporâneo. A peça infanto-juvenil Miranda estréia neste domingo no Sesc Belenzinho, em São Paulo, sob direção do próprio autor. Monalisa Capella faz o papel-título. Caio Blat e Caco Ciocler interpretam, respectivamente, o Príncipe e o Rei. Selma Luchesi dá vida à Rainha.

Em sua trajetória, Miranda chega à praça onde o cavalo e o povo, à mercê da Rainha déspota, a encorajam a salvar o Rei doente. O Príncipe oferece uma fortuna para quem colocar o Rei de pé. A Rainha, porém, condena à morte quem fracassa na tentativa. Miranda, por quem o Príncipe se apaixona, encara a tarefa de frente.

O cavalo é um dos elementos mágicos que compõem todo conto de fadas. Quando em dúvida, o autor e diretor consultou o livro A Psicanálise dos Contos de Fada, de Bruno Bettelheim. “Não quis cair em erros como adocicar a história. Os contos de fada falam, de forma simbólica, ao mundo interno da criança, auxiliam-na a resolver problemas. Quis ir além do patamar do mero entretenimento”, diz.

A dualidade masculino-feminino, presente até no nome da protagonista, percorre a peça. Menina abandonada, Miranda se veste de homem – o que denota a força masculina – para enfrentar o mundo. O poder no reino está em mãos femininas, numa inversão de expectativas. Capella, no entanto, não trabalha somente esse assunto, nem existe uma mensagem explícita.

Isso abre possibilidades múltiplas de entendimento. Há vários temas, como a busca da identidade, em torno de Miranda, uma pessoa do povo que se defronta com o poder em uma atmosfera de opressão. “Cada um absorve (a montagem) conforme a idade, o momento pessoal”, afirma Capella, que recomenda o espetáculo para maiores de 10 anos.

Uma cena de nudez de três segundos gerou polêmica e cancelou a estréia da peça em outubro de 2002, no Teatro do Colégio Santa Cruz, em São Paulo. Ao se despir e revelar sua identidade, Miranda desnuda a hipocrisia vigente no reino.

“Sugeriram que eu colocasse uma anágua nela. Eu disse não e fui coerente com uma opção artística. Mas não acredito em vilania, acho que queriam uma peça para crianças pequenas e depois perceberam que Miranda não servia. A proibição me pareceu um álibi”, diz Capella. Procurada pelo Diário, a direção do colégio não se pronunciou.




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