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Nação sob nôvo Ato Institucional

Mais duro dos decretos da ditadura militar, AI-5 completa 50 anos; documento mudou a história do Brasil e do Diário

Por Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
16/12/2018 | 07:12
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DGABC


A história do Brasil mudou de curso no dia 13 de dezembro de 1968, quando o presidente Artur da Costa e Silva, o segundo do período do regime militar, instalado quatro anos antes, assinou o AI-5 (Ato Institucional número 5), o mais duro dos decretos da ditadura. De certa forma, a trajetória do Diário pegou outra via há 50 anos.

Uma das determinações do AI-5 era a imposição de censura prévia nos meios de comunicação. Raros foram os que desafiaram essa regra. O Diário buscou o caminho mais tortuoso no período. “Para a imprensa, a situação foi complicada. A maioria dos jornais não se posicionou em um primeiro momento. Muitos decidiram se abster de realizar algum juízo”, relembra John D. French, historiador da Duke University, nos Estados Unidos, que está no Grande ABC nas últimas semanas para estudar a região.

Naquele 1968, o jornal acabara de mudar seu nome. Fundado em 11 de maio de 1958 com o nome de News Seller, o periódico adotou a alcunha Diário do Grande ABC em 9 de maio de 1968, uma quinta-feira. Duzentos e vinte dias depois, em 14 de dezembro, um sábado, a manchete do Diário era: “Nação sob nôvo Ato Institucional”. Na capa havia análise do então deputado federal Anacleto Campanella (1924-1974), que chegou a ser prefeito de São Caetano. “Ato é extemporâneo”.

No dia seguinte, editorial do jornal reforçava posição de questionamento dos rumos do País nas mãos dos militares. “Não é hora ainda de julgamento, assim querem as autoridades. Porém, essa hora vai chegar a qualquer momento. Pedimos a Deus para que, em chegando a hora, esta revolução possa justificar-se, não pelo que fez agora, mas pelo que fará daqui por diante”. O texto, que refletia a opinião do jornal, costumava ser escrito por Fausto Polesi (1930-2011), um dos quatro fundadores do Diário (Edson Dotto, Maury Dotto e Angelo Puga).

O AI-5 deu poderes ao presidente para fechar o Congresso Nacional e Assembleias Legislativas; para intervir em Estados e municípios; censurar músicas, filmes, livros; decretar suspensão de cidadãos considerados subversivos. Foi esse ato que concedeu carta branca para os mais bárbaros crimes da ditadura militar, com mortes, torturas e exílios de incontáveis vítimas.

No dia 31 de junho de 1968, o Diário estampou a manchete: “Brasil Vive Ditadura”. “A ousadia causou impacto na imprensa nacional, cerceada na época por um rígido controle por parte dos órgãos de censura”, conta o professor Antonio de Andrade, em texto originalmente publicado no site da Universidade Metodista. “A ousadia editorial deixou de ser punida pelo fato de a declaração ter sido feita por Amaury Kruel, influente general do Exército e personagem de destaque na consolidação do golpe de 1964”, adiciona.

A história do Diário se misturou ao processo de redemocratização do País quando a direção do jornal identificou o surgimento de movimento sindical no Grande ABC. Andrade lembra que, em fevereiro de 1970, o periódico publicou, pela primeira vez, reportagem sobre o “novo sindicalismo”. Surgiram desse período os líderes que capitanearam as grandes greves do fim daquela década e início dos anos 1980, movimentos considerados como vitais para o enfraquecimento do regime. O AI-5 chegou ao fim em 13 de outubro de 1978. A ditadura, só sete anos depois.




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