Engana-se, porém, quem pensa que o carioca de 33 anos possa viver apenas dos louros do seu passado e encerrar sem preocupações uma carreira de mais de duas décadas. Embora tenha contraído poliomielite aos três meses de idade, por reação à vacina, André Brasil superou com várias cirurgias e tratamentos a pequena sequela que a doença lhe provocou na perna esquerda e conseguiu competir como atleta sem deficiência até 2004, antes de se tornar elegível como paratleta em 2005.
Em 2016, na Paralimpíada do Rio, ele faturou duas pratas e dois bronzes e viu o evento histórico para o Brasil trazer uma visibilidade inédita aos atletas paralímpicos. Porém, na prática, a vida de André Brasil não mudou e os Jogos, em sua opinião, não foram suficientes para romper a barreira do preconceito e iniciar uma nova era para os paratletas do País.
"Quando a gente ainda pensa sobre legado (dos Jogos do Rio-2016), eu sou um pouco suspeito para dizer, mas acho que, vivo, eu não verei essa transformação. Não é ser pessimista, mas é uma coisa cultural e eu acho que a gente ainda precisa de muito amadurecimento, posso dizer até da raça humana, pra gente entender que a pessoa com deficiência é tão capaz quanto qualquer outra. Então, quando a gente fala de um esportista com deficiência, a gente ainda tem essa barreira, apesar dos Jogos", ressaltou o nadador, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, no CT Paralímpico Brasileiro, em São Paulo, que ele vê como o principal legado dos Jogos do Rio para o desenvolvimento dos atletas com deficiência do País.
André Brasil destacou que hoje o esporte paralímpico depende "quase que única e exclusivamente" de incentivos do governo federal. Por isso, pede uma maior valorização aos paratletas. "Está na hora de a gente virar um pouco essa chave. Tivemos grandes incentivadores, eu tive patrocínios particulares e privados nos últimos cinco anos, por conta dos resultados, mas acho que isso não pode mudar. A gente vê jovens, atletas com resultados, que são pessoas que se doam pra isso. Tenho 12 anos no esporte olímpico e 12 no esporte paralímpico, em que eu me sinto um trabalhador assalariado. Eu vivo disso", admitiu André, ressaltando que os paratletas do Brasil já mostraram o "quão forte podem ser" para merecer maior apoio.
"Meu filho vai fazer cinco anos. E se eu paro e não tiver um trabalho, como eu vou mantê-lo? Longe de querer ser coitadinho, longe de querer trazer o vínculo social ao esporte adaptado, mas acho que aqui temos muitos grandes homens e mulheres, batalhadores, que acreditam nos seus sonhos, mas acho que carecem de um pouco de reconhecimento por tudo aquilo que a gente faz", enfatizou André Brasil, para depois cobrar ação dos paratletas: "Pra quem me conhece, muitas vezes as pessoas me chamam de chato, mas acho que chegou o momento de a gente arregaçar um pouco as mangas e mostrar que está aqui, batalhando todo dia. E ninguém é coitadinho de nada. Estamos aqui para ralar, para doer e para vencer".
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