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Ciclo Myrian Muniz em Mauá
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
16/11/2005 | 08:33
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A atriz Myrian Muniz (1931-2004) é homenageada com um ciclo de filmes no Teatro Municipal de Mauá. Começa nesta quarta, às 19h, com Nina, de Heitor Dhalia, última passagem da atriz no cinema e, portanto, seu legado.

De inconfundível voz gutural e um talento para destilar maldade sem que esse ato pareça forçado, Myrian é Eulália, a vilã do filme. A despeito do antagonismo com Nina, papel de Guta Stresser, é com a velha senhoria ranzinza e repulsiva que o público vibra. Ela faz o filme pulsar ao dedicar-se de forma sádica a cobrar o aluguel da mocinha que não tem eira, beira ou um vintém furado. Quando Nina pensa em matar Eulália, sua dúvida racional – poderia fazê-lo justificada apenas pela tortura psicológica? – manifesta-se de outra forma para o público – por que fazê-lo se estamos curtindo essa ranzinza?

É um raro momento de simpatia pelo demônio, demérito do diretor que escalou um conteúdo privado de sentido – adaptado a partir de Crime e Castigo, de Dostoievski – em nome de uma estética visual que sobrepujou todas as suas tentativas de expressar uma linguagem. E mérito de Myrian, que não tem nada a ver com essas decisões, apenas faz seu trabalho.

Myrian Muniz também está em três filmes de Ana Carolina, programados neste ciclo. Amélia (dia 18) é o choque cultural entre duas matutas do interior de Minas com a atriz francesa Sarah Bernhardt. Das Tripas Coração (dia 20) e Mar de Rosas (dia 22) integram a trilogia do sexo e poder com Sonho de Valsa, não programado por não contar com a atriz homenageada em cena.

Myrian dizia com orgulho ser uma mulher de teatro autêntica. Era atriz e também diretora, contra-regra, iluminadora, professora. Fazia até faxina nas salas de espetáculo. Nos anos 50, estudou para ser bailarina clássica, mas optou pela arte dramática por convivência com alunos de uma escola de teatro vizinha a sua casa. Profissionalmente, estreou em 1961, no teatro Oficina, dirigida por Augusto Boal.

A atriz participou de momentos fundamentais da criação cênica nacional, sem demonstrar medo de polêmica. Passou pelo TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) e pelo Arena, onde criou consciência política sobre o comportamento da sociedade brasileira do fim dos anos 60. Negou o TBC e o Arena e se dedicou ao teatro social.

Mesmo pressionada pelo grupo de direita Comando de Caça aos Comunistas, que ameaçava com violência espetáculos supostamente subversivos, Myriam continuou em cena. A coragem vinha de dois copos de conhaque, tomados antes de entrar no palco.




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