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Bom de papo

Juca de Oliveira traz nova peça à região e acaba de lançar livro 'Melhor Teatro' com texto de quatro peças

Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
10/10/2009 | 07:00
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Do panteão das artes cênicas, Juca de Oliveira não quer saber de glorificar o passado. O ator e dramaturgo, 74 anos, afirma que bom é o que virá. Hoje e amanhã ele se apresenta em São Caetano.

O galã de Nino, o "Italianinho" (1969), que a partir dos anos 1970 começou a rarear suas aparições na TV para dedicar-se ao teatro, encontra nos palcos, e na escrita, a reconciliação com os seus ideais, a oportunidade de melhorar o mundo. Como ele mesmo diz, na "tentativa de tornar o homem mais solidário, afetivo, menos predador."

O lançamento neste mês do livro "Melhor Teatro", com o texto integral de quatro peças de sucesso - "Meno Male!" (1987), "Qualquer Gato Vira-Lata Tem a Vida Sexual Mais Sadia que a Nossa" (1990), "Caixa Dois" (1997) e "Às Favas com Os Escrúpulos" (2007) - marca a importância do trabalho social do artista.

Crítico contumaz do desvirtuamento de valores que assola a sociedade, Juca não sossega nunca. É confesso usuário dos meios tecnológicos e da internet. Na cidade ou em seu sítio, em Itapira, no interior do Estado, ele gosta de acompanhar os noticiários políticos.

Questionado se o seu humor, em contraponto ao escracho, clichê e marginalização dos personagens, é politicamente correto, ele diz que não: "Tem o aspecto correto, mas ele é malcomportado".

Se o seu humor é crítico ou se ele, recentemente, não para de abordar os problemas sociais do País, é porque acha correto alertar: "Por que de uns tempos para cá todas as minhas peças focam o sistema político do Brasil? É porque a gente está piorando". Mas vê esperança. "Quando você escreve sobre algo ruim, é como se estivesse fazendo uma advertência, para que as coisas voltem a andar sobre os trilhos." Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

ARTISTA - "O objetivo social do artista é o aperfeiçoamento do homem. Essa função eu aprendi na Escola de Artes Dramáticas da USP. Você não faz teatro para ser ovacionado, ganhar dinheiro ou para ficar famoso, você faz para mudar a sociedade. Quando você assiste a uma peça de grande conteúdo e competência dos artistas, você se modifica como homem, você sai do teatro melhor."

ESCRITOR - "Eu tenho para mim que o escritor tem uma responsabilidade. Se estamos vivendo um descenso do ponto de vista ético, social, por exemplo, é de responsabilidade dele apontar. Eu não posso enfiar a cabeça no buraco e escrever sobre rosas nesse momento. Não acho que estaria exercendo bem a minha função social. Ultimamente tenho escrito, sobretudo, sobre a falta de ética. Essa é uma das coisas mais graves que está assolando a nossa sociedade."

TEATRO - "O teatro tem como projeto a elevação cultural. Ele cria novos modelos de cultura, abre picadas e socializa novos comportamentos e novas atitudes sociais. As pessoas têm necessidade de ter contato com o prestidigitador, com o sacerdote , o pajé... e o teatro oferece conforto espiritual a elas. O espetáculo ao vivo é um momento de comunhão mágico."

HUMOR - "Eu não escrevo comédia, eu simplesmente escrevo. A tragédia é uma história de um homem que é o repositório de virtude, que é o herói trágico que prefere a morte a viver sem honra. A comédia é exatamente o oposto, um homem cheio de vícios que prefere uma vida boa, com grana no bolso, independentemente da sua honra. Quando você escreve sobre comédia é quando retrata esse homem cheio de vícios. A comédia apela para o raciocínio. Você é apanhado numa armadilha, ri, se diverte, e no dia seguinte percebe que é cúmplice dessa situação. O emocional tem o efeito catártico, você se alivia e não fala no assunto."

POLÍTICOS NO ‘CQC' - "Eu acho ótimo. Esse tipo de humor chama atenção porque funciona como crítica política. Funciona como uma janela indiscreta, um olhar observador sobre o ato falho do político."

LULA MONARQUISTA - "Antes, bem ou mal, vivíamos num sistema democrático. Havia um presidente, mas tinha um Judiciário que resolvia os seus problemas e um Legislativo que cuidava dos controles das leis. Hoje, nós não temos nem um e nem o outro. Os dois executam exatamente o que o presidente determina. A monarquia absolutista é ruim não porque faz coisas boas ou más, e sim porque as coisas funcionam de acordo com o que uma só pessoa deseja."

ÉTICA - "Hoje, há até censura a jornais, coisas semelhantes aos piores momentos da ditadura militar. De repente, o José Antonio Toffoli é aprovado para compor o Supremo Tribunal Federal. É uma realidade fantástica. Quer dizer, um órgão que exige como principal característica dos seus membros a moral e o saber, seleciona uma pessoa que foi duas vezes reprovada para concurso de juiz e duas vezes condenada. É uma piada."

INSPIRAÇÃO - "Os políticos são muito prolíferos e criativos nas falcatruas. São infinitos os modelos de corrupção, nunca têm fim. Como tudo não cabe em uma peça só, acabo escrevendo sobre vários aspectos dessa realidade."

APATIA - "Durante (e não por causa) do governo Lula vivemos a maior prosperidade da história. O fato de termos vivido uma grande ascensão deixou as pessoas mais satisfeitas. Melhorou o emprego, o acesso a bens de consumo. A pessoa se alimenta, tem à sua disposição a oportunidade de comprar carro, casa, aparelhos eletrônicos e acaba não se importando com o ponto de vista ético. É essa a apatia política."




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