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Velhos e novos baianos

Moraes Moreira relê sucessos da MPB, relembrando principais hits na época mais 'negra' da ditadura

Por Dojival Filho
Do Diário do Grande ABC
10/03/2009 | 07:00
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Enquanto o regime militar propagandeava as maravilhas do ‘milagre econômico', no início da década de 1970, e uma parcela da esquerda brasileira pegava em armas para enfrentar a ditadura, um grupo de talentosos cabeludos preferia abrir as portas e janelas de sua comunidade alternativa para ver o sol nascer. As peripécias dessa tribo ‘paz e amor' podem ser conferida no DVD A História dos Novos Baianos e Outros Versos (Biscoito Fino, R$ 45) do cantor e compositor Moraes Moreira, que celebra 40 anos de bons serviços prestados à MPB.

Gravado na Feira de São Cristóvão - reduto da cultura nordestina no Rio - o vídeo traz o show baseado no livro homônimo lançado pelo artista em 2007. A apresentação também ganhou registro em CD (R$ 28, em média).

Acompanhado pelo filho, o guitarrista Davi Moraes, e uma competente banda de apoio, o intérprete relembra hits de sua carreira solo, como Pombo Correio e Meninas do Brasil, além de pérolas do Novos Baianos, grupo que colocou Jackson do Pandeiro e Jimi Hendrix na mesma partitura.

No espetáculo, dirigido por João Falcão, não faltam pepitas como A Menina Dança; Preta, Pretinha e Mistério do Planeta, todas compostas por Moraes em parceria com o poeta Luiz Galvão para o antológico álbum Acabou Chorare (1972). Não há participações de outros ex-integrantes da trupe, como o guitarrista Pepeu Gomes, a cantora Baby do Brasil e Paulinho Boca de Cantor. "Não queria que as pessoas pensassem que estávamos voltando. Como tenho em casa um p... guitarrista que é o Davi, capaz de tocar todas essas coisas e acrescentar um toque de contemporaneidade, resolvi fazer desse jeito", explica Moraes.

O guitarrista, que já foi namorado de Ivete Sangalo e ganhou fama de conquistador no cenário pop, não concede entrevistas atualmente, devido à recuperação de um acidente de bicicleta ocorrido há cerca de dois meses, quando rompeu o ligamento do dedo polegar da mão direita.

‘CAUSOS' - Entre uma melodia e outra, Moraes declama trechos do livro, escrito em forma de cordel e repleto de causos sobre os tempos de vivência comunitária em uma cobertura no bairro de Botafogo e no sítio Cantinho do Vovô, em Jacarepaguá, ambos situados no Rio. No apartamento, faziam jam sessions com o mestre da bossa nova João Gilberto e usavam a sala para jogar futebol que aterrorizavam os vizinhos.

O interesse pelo esporte continuou quando partiram para a propriedade rural, onde recebiam visitas ilustres como a de Afonsinho, ex-craque do Flamengo, que participava das peladas. As drogas circulavam livremente e as batidas policiais eram frequentes.

"A gente dividia a fome e a comida. Quem mais recebia dinheiro de direitos autorais era eu e Galvão, mas a grana ficava lá para quem precisasse e quisesse pegar", afirma Moraes, que saiu do grupo em 1975 e não encontra mais os companheiros com assiduidade. "Éramos muito fechados em nossa comunidade e não tínhamos uma organização. Eu tinha dois filhos e para criar as crianças ali dentro estava difícil".




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