Turismo Titulo Desafio
Exemplo de outras cidades
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
30/10/2008 | 07:05
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Além de Socorro, várias cidades começam a ter seus traçados modificados para se adequar à nova legislação.

Em São Paulo, a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida irá estimular a adaptação de estabelecimentos comerciais por meio de um programa que confere estrelas aos com melhor acessibilidade. A Avenida Paulista também já conta com piso podotátil, para cegos, semelhante ao que se vê no Japão. E o projeto Rotas Estratégicas de Segurança prevê a construção de 70 quilômetros de calçadas, além de rampas de acesso e da eliminação de buracos e outros obstáculos em vias públicas.

Gramado, na Serra Gaúcha, também saiu à frente: reformou toda a extensão da Avenida Borges de Medeiros para facilitar o trânsito de pessoas com deficiência. "Já existem restaurantes, cafés coloniais e lojas, além do Centro da cidade, que está bem adaptado a este público", diz o diretor de acessibilidade da ABIH Nacional, Roger José Baqui.

E no Rio, o município de Niterói conta com rampas de acesso nos sinais de trânsito. No entanto, segundo a especialista em acessibilidade Rosemary Alonso, engenheira de segurança do trabalho da Avape, promover o acesso de pessoas com deficiência vai muito além da construção de rampas. "A acessibilidade deve estar presente em postos de trabalho, escolas, comércio, turismo, comunicações e transporte. Lembrando que um ambiente acessível proporciona maior segurança e qualidade de vida a todas as pessoas, não só àquelas com deficiência."

EXTERIOR
Em setembro, Berlim, na Alemanha, instalou aparelhos de áudio em pontos turísticos para guiar cegos. O equipamento dá informações sobre ônibus, hotéis, metrô, banheiros e caixas eletrônicos adaptados a pessoas com deficiência visual. Filmagens também garantem aos turistas com problemas motores a possibilidade de uma excursão virtual.

Outros 425 milhões de euros foram investidos na compra de 180 trens especiais. E no restaurante Unisicht, clientes, com deficiência visual ou não, fazem a refeição no escuro para estimular os sentidos e acentuar a degustação.  

Menu da adrenalina

A maior parte das atividades de aventura não exige mais do que boa vontade e uma ou outra adaptação de equipamento para ser praticada por ecoturistas com deficiência. Em geral, bastam roldanas para içar o praticante de rapel; a companhia de um instrutor em caminhadas e nos saltos de pára-quedas; ou um assento especial no meio do bote de rafting para garantir uma aventura sem contratempos.

As adequações, no entanto, variam não só conforme a modalidade mas, principalmente, de acordo com o tipo de deficiência. "Criamos uma tabela, junto com profissionais da saúde e o Ministério do Turismo, que mostra as atividades que podem ser feitas sem nenhuma adaptação, as que podem ser realizadas desde que haja equipamento específico e as que são inviáveis a pessoas com determinados tipos de deficiência. Um tetraplégico, por exemplo, não tem condições de praticar arvorismo porque falta mobilidade para segurar nas cordas e se equilibrar com as pernas. Já um cego consegue: bastam pequenas adaptações, como um manual em Braille", explica José Fernandes Franco, proprietário do Parque dos Sonhos e do Campo dos Sonhos, em Socorro (SP), primeira cidade do Brasil em vias de obter o certificado de referência em acessibilidade.

Em Brotas, também no interior de São Paulo, a agência de turismo EcoAção oferece esportes de aventura para pessoas com deficiência. De acordo com Paulo Alves dos Santos, coordenador geral das atividades, é possível fazer rafting, duck, bóia-cross, canyoning e rapel. "Nós adaptamos as atividades conforme a necessidade de cada um", explica.

Para cadeirantes que nunca se aventuraram em práticas do gênero, Santos sugere o rafting. "Mesmo que não possa remar, dá para a pessoa ficar sentada no fundo do bote e sentir a mesma adrenalina de quem está remando", assegura o instrutor. Já o bóia-cross e o duck - que apresenta maior risco de queda do bote - é praticado com o auxílio de bóias presas às pernas. "Com coletes de flutuação no tronco e nas pernas, o cadeirante consegue se locomover melhor na água."

Equipamentos diferenciados também garantem que deficientes físicos se aventurem no rapel por paredões e quedas d'água de Brotas e cidade vizinhas, como São Pedro e Itirapina. O ‘segredo' é uma cadeirinha especial, com peitoral, semelhante a um macacão, que permite ao instrutor guiar a descida por meio de cordas, evitando que o turista especial colida com as rochas.

"No começo da descida, nós mantemos a corda esticada para que ele não tenha de pisar no positivo, que é o contato com a pedra. Mas ele mantém o controle da velocidade nas mãos, como qualquer outra pessoa", diz Santos. O mesmo ocorre com o canyoning (rapel em cachoeira).

História de superação

"Há 12 anos comecei a sentir os primeiros sintomas de um problema neurológico chamado ataxia - enfermidade que compromete o equilíbrio, a coordenação motora fina, fala e visão.

Na época trabalhando como jornalista e fotógrafo, vi minha vida profissional e pessoal se desmoronando. Fiquei muito abatido e me sentindo o único no mundo com um problema desses.

Passei quase três anos fazendo tratamentos inócuos (cada especialista recomendava um) e achando que minha vida estava acabada para os coisas que eu tanto amava: o turismo e os esportes. Na mesma época, fui acompanhando o crescimento do ecoturismo e do turismo de aventura, lamentando ficar de fora dessas atividades. Aos poucos os sintomas foram se potencializando e fui encontrando cada vez mais dificuldade pra falar e caminhar.

Resolvi, então, dar um basta e me adaptar para voltar a ter prazer com as coisas. Porque o tempo passa independente de eu estar alegre ou triste.

Decidi fazer um rafting. Liguei para várias agências para saber tudo, desde a acessibilidade, características do bote, nível do rio etc. Até fui ao local para conferir as informações.

Apesar de todos me encorajarem e incentivarem, eu ainda tinha algum medo e vergonha das pessoas e de estragar o passeio dos outros integrantes do grupo. Do dia em que paguei ao dia em que realmente fui fazer, passou um ano. Achava que primeiro tinha de me recondicionar fisicamente. Ressuscitei uma bicicleta ergométrica e comecei a pedalar. Lembro-me de que no primeiro dia consegui pedalar 15 segundos e fiquei exausto no chão. Com insistência e determinação, fui conseguindo pedalar mais. Para complementar, fazia abdominais, barras etc...

Já me sentia apto a encarar o rafting. Fui...Tudo correu tranqüilo e eu estava em êxtase pelo fato de ter conseguido e, o mais importante, ter tido prazer. Em casa, refleti sobre a maravilhosa experiência que tinha vivenciado. Foi uma verdadeira revolução nos meus sentimentos, pois havia tido um intenso contato com a natureza. Era um novo horizonte se abrindo.

Utilizar novamente o corpo com prazer através da prática de uma atividade física resgata a auto-estima e inverte a imagem de piedade e negativismo. Começava ali um processo de reabilitação física e psicológica, pois os benefícios e melhoras eram significativos.

Apresentaram-me a escalada. Adorei. Faço apenas as vias mais fáceis, com agarras de pegada boa. Mas o importante não é a performance, e sim a freqüência ao ginásio, a convivência com as pessoas, sair de casa. Queria mais. Algum tempo depois, resolvi realizar um salto de pára-quedas. Um salto duplo não exige habilidade física nenhuma e a sensação é maravilhosa.

Hoje sei que a verdadeira limitação está dentro da cabeça e, tendo vontade e determinação, conseguimos fazer tudo aquilo que desejamos.

Despretensiosamente, divulguei minhas experiências na internet, com o intuito de eventualmente incentivar alguém, já que tinha sido tão bom pra mim. Para minha surpresa, deu uma grande repercussão e comecei a receber inúmeros pedidos de informações.

E assim começa a história da Aventura Especial. Viramos uma ONG, nosso website funciona como um guia e promovemos cursos de capacitação para ensinar os procedimentos e como cada modalidade deve ser adaptada para todos os tipos de deficiência.

Tenho certeza de que não é um caminho de mão-única, pois trata-se de um potencial de mercado muito grande, que a indústria do turismo deve olhar com mais carinho e, sem dúvida, uma forma de minimizar o preconceito." (Dadá Moreira)

GUIA

PACOTES
A Freeway Adventures desenvolveu junto com uma médica fisiatra uma série de roteiros para usuários de cadeira de rodas, com guias locais especialmente capacitados para atender a pessoas com deficiência.

Outro diferencial são os veículos de traslado, que ficam à disposição durante todo o período do passeio. Intitulado Ecossível, o programa conta com pacotes para Bonito (MS), Fernando de Noronha (PE), Itacaré (BA) e Pantanal (MS). Tel.: 5088-0999. Site: www.freeway.tur.br.

INFORMAÇÕES NA INTERNET
www.aventuraespecial.org.br
www.turismoadaptado.com.br
www.avape.org.br




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