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A maldição da festa antecipada

O tempo passa, o tempo voa, como dizia o anúncio de uma caderneta de poupança que também passou

Por Carlos Brickmann
17/10/2010 | 00:00
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O tempo passa, o tempo voa, como dizia o anúncio de uma caderneta de poupança que também passou. Em 1985, Fernando Henrique Cardoso estava eleito, diziam as pesquisas, e até tirou uma foto, antes das eleições, sentado na cadeira de prefeito de São Paulo. A festa, num belo bufê de Higienópolis, estava contratada e paga.

Fernando Henrique perdeu. O bufê virou uma desolação: uma sala bem decorada, com petiscos e bebidas à vontade, garçons elegantes e nenhum convidado.

O tempo voa. Dilma estava com tudo pronto para a festa na Esplanada dos Ministérios e, dizem, com fotos prontas, faixa presidencial e tudo, para as revistas. Só faltou a terceira maldição, a de vestir um cocar na cabeça. Deu segundo turno.

E está sendo outra eleição, de verdade. Serra, vitaminado por escapar da derrota, resolveu trabalhar pela vitória. Em Minas, quase 400 prefeitos foram à reunião com Aécio para discutir sua participação na campanha. Em São Paulo, os prefeitos serristas de mais apelo popular, como o bom de voto Gilberto Kassab e José Auricchio Júnior, que tem aprovação recorde em São Caetano, se uniram ao governador eleito Alckmin num corpo a corpo por todo o Estado. Partidos da base de Dilma abriram espaço a Serra, liderados pelo PMDB gaúcho, antes neutro.

As forças de Dilma, apesar da grande vantagem no primeiro turno, ainda parecem descoordenadas. Sua aliança rachou no Pará, na Bahia, em Minas. Na cúpula, brigam Franklin Martins e Antonio Palocci; João Santana perde força.

O duro da festa antecipada é que, quando chega a hora, não há o que festejar.

BOA LEITURA
E, já que a economia é uma das chaves da eleição, uma ideia de livro: A longa estrada da dívida, do especializadíssimo jornalista William Salasar. O Brasil já nasceu com dívida externa: para que Portugal reconhecesse a Independência, os brasileiros assumiram parte da dívida portuguesa com os bancos ingleses. "O livro", diz Salasar, "mostra como o Brasil nasceu e cresceu devendo até as calças, mas acabou se arrumando e virando investment grade". Lançamento na terça-feira, dia 19, às 19h, na Livraria Saraiva do Shopping Higienópolis, em São Paulo.

NOTÍCIA, SÓ BOA
Se a memória deste colunista não falha, foi o presidente Lula que disse que notícia é aquilo que os personagens não querem que seja publicado. O resto é publicidade. Mas o próprio Lula continua culpando a imprensa por tudo - embora a candidata de Lula tenha sido recebida com festas por Lily Marinho, viúva de Roberto Marinho, de O Globo; e conte, entre seus apoiadores, com magnatas das comunicações como Sarney, Collor, Jader Barbalho e Henrique Alves. Mas ele não está sozinho: Serra também só gosta de imprensa quando é a favor. Brigar com um repórter porque fez uma pergunta que não foi de seu agrado é puro autoritarismo. E não é inteligente: brigar com o jornal Valor, aliás muito benfeito, é esquecer que seus acionistas são dois outros grupos, Folha de S. Paulo e O Globo. Relembrando: Serra já conseguiu brigar com Miriam Leitão e Márcia Peltier.

HERMANOS NO TELHADO
A parceria entre Brasil e Venezuela para construir a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, está morrendo. Até o momento, passado um ano da assinatura do contrato, só a Petrobras pôs dinheiro no projeto. A venezuelana PDVSA, que deu até o nome à refinaria (Abreu e Lima foi um general brasileiro, nascido em Pernambuco, que lutou ao lado de Simon Bolívar nas guerras de independência da América espanhola), não investiu nada. O presidente venezuelano Hugo Chávez começou se responsabilizando por metade dos investimentos; depois, a metade passou a 40%, desde que o BNDES financiasse também a sua parte. Entretanto, até agora não apresentou ao BNDES nenhuma garantia do financiamento.

POR TRÁS DA ONDA
O jornalista Ricardo Kotscho, que foi porta-voz do presidente Lula, identifica na eleição uma terceira onda: depois da onda vermelha, que levou Dilma ao primeiro lugar, veio a onda verde, de Marina, que forçou o segundo turno, e agora a onda azul, de Serra. Se será ou não suficiente para virar o resultado, isso é o eleitor que sabe. Mas, tirando alguns fatores já analisados - a popularidade de Lula, primeiro; a confiança despertada por Marina, segundo; a mobilização tucana (enfim!), terceiro, que outro fator pode influenciar a eleição?

Como dizia James Carville, que chefiou a comunicação da campanha de Bill Clinton à presidência dos Estados Unidos, contra um popularíssimo George Bush pai, "é a economia, estúpido".




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