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Casa-Grande & Senzala, 70 anos
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
11/10/2003 | 18:06
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A primeira edição de Casa-Grande & Senzala completará seu 70º aniversário em dezembro. É um clássico da história, antropologia e sociologia fundamental para a compreensão dos períodos colonial e moderno do Brasil, apresentado com linguagem de ciências humanas e texto de caráter histórico-literário. O escritor, como preferia ser chamado o sociólogo pernambucano Gilberto Freyre (1900-1987), encontrou no patriarcalismo rural dos senhores de engenho e na sociedade escravocrata o equilíbrio dos contrários que resultou na alma do povo brasileiro, uma explicação que teve enorme repercussão, no Brasil e no exterior.

A Global Editora relança a obra em sua 47ª edição brasileira (752 págs., R$ 89), com apresentação do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e prefácio do autor. Esta edição especial traz ainda a reprodução de fotos de Freyre e documentos, imagens de famílias patriarcais e escravos, gravuras de Debret, reprodução em coloridas da primeira página do primeiro capítulo da edição de 1933. Todos documentos oriundos da Fundação Gilberto Freyre, localizada em Recife.

A publicação inclui também as capas de algumas edições brasileiras e das traduções estrangeiras. Estas, excetuando as de língua portuguesa e espanhola, trazem como título “mestres e escravos” (Estados Unidos, França, Itália, Alemanha, Hungria, Polônia e outras) e o detalhado e clássico mapa do Engenho Noruega, desenhada pelo artista plástico pernambucano Cícero Dias para a primeira edição e reproduzida em outras.

Outro adendo à obra são poemas, do próprio Freyre (“Eu ouço as vozes/ Eu vejo as cores/ Eu sinto os passos/ de outro Brasil que vem aí/ mais tropical/ mais fraternal/ mais brasileiro”), e de autores que escreveram sobre a obra. Manuel Bandeira: “Casa-Grande & Senzala/ Grande livro que fala/ Desta nossa leseira/ Brasileira (...) Com fuxicos danados/ E chamegos safados/ De mulecas fulôs/ Com sinhôs”. Carlos Drummond de Andrade: “a linha negra do leite/ coagulando-se em doçura;/ as rezas à luz do azeite;/ o sexo na cama escura”. João Cabral de Melo Neto: “Ninguém escreveu em português/ no brasileiro de sua língua:/ esse à vontade que é o da rede,/ dos alpendres, da alma mestiça,/ medindo sua prosa de sesta,/ ou prosa de quem se espreguiça”.

O escritor italiano Italo Calvino, em Por que ler os Clássicos, destaca: “É clássico aquilo que persiste como rumor mesmo onde predomina a atualidade mais incompatível”. E Casa-Grande & Senzala ainda ecoa.




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